domingo, 29 de janeiro de 2012




Eu vivo para desvendar espaços. Encurtar caminhos. Aproximar afetos. [Bibiana Benites]

Leio o que escrevem... < Raquel de Queiroz>






"Eu leio os que escrevem, louvo o que deve ser louvado, mas não dou conselho. É preciso sempre ter muito cuidado para não ferir vaidades, você sabe, todo artista é um pouco doente neste sentido".




[Raquel de Queiroz]

As coisas...



"As coisas tem peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, duração, densidade, cheiro, valor, consistência, profundidade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, destino, idade, sentido. As coisas não têm paz."




[Arnaldo Antunes e Gilberto Gil]


perspectiva da maioria" invisível " de um País que só enxerga o que quer ver !!!


CLÁUDIA LAITANO

Invisibilidade pública

“Se está no elevador, a pessoa te vê e não entra. Se está no refeitório, não senta na mesma mesa. Não chama pelo nome, não pede por favor.”

Parece África do Sul durante o apartheid, mas é Brasil, 2012. O depoimento é de uma mulher que trabalha na limpeza de um hospital na capital paulista. O simples gesto de colocar o uniforme, conta ela, já faz com que comece a ser vista de forma diferente – ou melhor, não vista.

Uma pesquisa divulgada esta semana pelo Dieese sobre trabalhadores de limpeza da cidade de São Paulo ouviu 1.851 coletores de lixo, varredores, auxiliares de limpeza e jardineiros.

De acordo com o levantamento, um em cada quatro entrevistados diz já ter sofrido discriminação relativa ao trabalho. A maior queixa: serem tratados como cidadãos de segunda categoria, indignos da cortesia mínima de um bom-dia, de um obrigado, de um por favor.

O estudo ratifica o que o psicólogo Fernando Braga da Costa já havia demonstrado no livro Homens Invisíveis, publicado em 2004, sobre sua experiência convivendo com os garis da USP. No livro, o psicólogo desenvolve a tese da “invisibilidade pública” de profissionais como faxineiros, ascensoristas, empacotadores, garis.

A invisibilidade dos trabalhadores da limpeza é talvez apenas a mais evidente em um país culturalmente habituado a naturalizar a desigualdade de tratamento – ajustado, em muitos casos, para operar conforme a classe social do interlocutor.

Ignorar o porteiro ou tratar a faxineira como se fosse um eletrodoméstico parece tão natural quanto rir da piada sem graça do chefe ou atender um cliente conforme a roupa que ele está usando.

É uma espécie de lei não escrita da selva social brasileira: para cima tudo, para baixo justiça. Se não dá para dizer que somos os únicos do mundo a agir assim, é preciso reconhecer que, em muitos países, o trabalho é respeitado como um valor em si, independentemente do tamanho do contracheque ou do status social da função.

Homens e mulheres invisíveis do Brasil dependem de ônibus, fazem fila no posto de saúde, estudam em escolas em que os professores fazem greve. Quando viram notícia – porque desabou a casa onde moravam ou invadiram o terreno onde construíram suas casas –, parecem personagens de uma tragédia que se desenrola em um país distante, onde a gente não vai nem a passeio.

A literatura, que poderia dar rosto e voz a esses personagens, tem se ocupado cada vez menos deles. São poucos os livros que nos levam a observar a paisagem brasileira desde uma outra perspectiva: do lado de dentro do ônibus lotado, do lado de cima da maca estacionada no corredor do hospital, do lado de quem nem sempre é brindado com a gentileza de um bom-dia quando está vestindo um uniforme ou fazendo um trabalho braçal.

Para quem sente falta deste ponto de vista, sugiro a leitura de Passageiro do Fim do Dia, do escritor Rubens Figueiredo. Um romance obrigatório, narrado desde a perspectiva da maioria invisível de um país que só enxerga o que quer ver.

Big Brother Brasil " 12 " ,Luis Fernando Veríssimo

Big Brother Brasil: 12 edição

*** Luis Fernando Veríssimo,é cronista,escritor.E,Brasileiro.



Tem toda razao, decadencia total!!!!

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo.

Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros...todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE.

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB . Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.


Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo dia.

Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, Ongs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).

Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores)

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema...., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , ·visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.


Esta crônica foi escrita por Luis Fernando Veríssimo.

Jornal: Zero Hora

sábado, 28 de janeiro de 2012







Hélio Schwartsman

O ocaso das sacolas

SÃO PAULO - O fim de sacolas plásticas em supermercados paulistas é um ótimo negócio para redes varejistas, uma conveniente cortina de fumaça para o poder público, um leve golpe contra o bolso do consumidor e uma medida de impacto provavelmente baixo para o planeta.

Ao contrário do que se diz, as tais sacolinhas plásticas nunca foram gratuitas. Seu custo estava embutido no das compras que fazíamos. Explicitá-lo por meio de um preço é, em princípio, algo positivo, pois isso torna mais transparentes as relações de consumo e ajuda a promover hábitos menos extravagantes.

Mas, como é altamente improvável que a mudança resulte na correspondente redução dos preços nas gôndolas, os supermercados acabam se dando bem, porque, numa canetada, eliminam um custo e ganham uma nova fonte de receita, posando ainda de campeões da ecologia.

Algo parecido vale para o poder público. Ele aparece na foto como defensor do ambiente por ter promovido o acordo e pouca gente lembra que sua lista de omissões nessa área é grande. O volume de lixo reciclado ainda é risível e há pouquíssimas usinas de compostagem, para citar apenas dois pecadilhos diretamente relacionados a resíduos sólidos.

O consumidor leva prejuízo porque as sacolas escolhidas para substituir o plástico são as de milho. Relativamente caras, custarão

R$ 0,19 cada uma. É questionável ainda a ideia de embalar comida com comida. Tirar milho de galinhas e pipoqueiros para produzir invólucros tende a inflacionar o setor de alimentos.

Em termos ambientais, as sacolas são um estorvo, mas nem de longe o maior problema. Reduzir seu uso sem criar dificuldades maiores é uma meta louvável. Cumpri-la implicará custos, que terão de ser pagos pelos consumidores.

O que irrita, no Brasil, é que governantes e lobbies são rápidos para estender a conta ao cidadão, mas muito lentos, para não dizer abúlicos, em fazer a sua parte.

O polêmico canto do galo...de Joselma Noal



Joselma Noal*

O polêmico canto do galo

Uma notícia sobre o canto de um galo em Capão Novo me levou a dividir com os leitores uma reflexão sobre a falta de paciência e tolerância, que a maioria das pessoas tem, com o barulho alheio.

Pois é, o canto de um galo pela madrugada e pela manhã perturba um número elevado de moradores e veranistas, no entanto uma minoria apoia. Aliás, tem até gente querendo adotar o tal galo! A polêmica tá tão grande pra aquelas bandas do Litoral, que o caso está sob responsabilidade da vice-prefeita, que tenta administrar de modo diplomático a situação.

E o dono do galo? Este gosta do seu animal de estimação, revela tristemente que o ano passado sacrificou o pai do galo (deste que agora canta) e não quer repetir o mesmo gesto. A coisa tá tão maluca, que parece que o galo vai parar em um hotel.










A questão é a forma como as pessoas reagem diante do canto do galo. Alguns estão indignados, perturbados, estressados, já outros adoram ouvir o canto do galo, relembram a infância no campo ou sonham com uma vida tranquila, longe da metrópole, algo que talvez nunca tenham vivido em um instante sequer na vida.

Quantas vezes também nós fazemos barulhos indesejáveis para os nossos vizinhos, ouvindo música, assistindo a um filme, em uma reunião de amigos, em uma festa?

Falta respeito com o próximo por parte do dono do galo, mas faltam também paciência e tolerância por parte dos vizinhos. Atualmente, convivo com o som do teclado do morador da casa aos fundos da minha, confesso que no início achei bacana, após alguns dias tolerável, agora irritante, mas não direi nada a meu vizinho, porque ele também convive com os barulhos advindos de minha residência e tampouco deve apreciá-los.

O cidadão de férias em Capão Novo, por que não aproveita para se divertir, em lugar de reclamar e fazer queixa formal do canto do galo? Tem gente com vocação pra queixoso e não adianta, podia estar no Caribe, em Paris ou em Nova York, que encontraria algum motivo pra justificar sua infelicidade e falta de sorte.

Talvez não fosse nada parecido a um canto de um galo, mas uma bagagem perdida, um restaurante com uma carta de vinhos insatisfatória, um guia pouco gentil, um atraso nos voos, enfim algum pretexto para julgar-se infeliz.

Veranistas de Capão Novo, por favor: é imprescindível ser tolerante para ter férias agradáveis. E guarde o segredo para uma vida na metrópole menos estressante!

*ESCRITORA, PROFESSORA DE LÍNGUA ESPANHOLA DA FURG









DAVID COIMBRA

Quanto vale um dedo

O homem é um ser físico. Parece óbvio; não é. Um antigo vice-presidente dos Estados Unidos chamaria isso de uma verdade inconveniente. Porque, de certa forma, é uma verdade que reduz a dimensão da espécie humana. O homem gosta de acreditar que se move prioritariamente por valores intangíveis. Gosta de acreditar que é um ser nobre, diferente do restante dos animais do planeta por ser animado por vida espiritual.

Certo.

Agora pense no seu dedo mínimo, tão pequeno e insignificante que é chamado de “minguinho”. Você nunca tece reflexões sobre o minguinho, não é? Claro que não. Você pensa todos os dias nos seus cabelos, que ajeita a mirar-se no espelho e lava com xampu restaurador e besunta com gel; você talvez se aflija com os sulcos que os anos vão lhe cavoucando nas comissuras dos lábios e dos olhos, e nessa minúscula região também aplica cremes franceses que custam 50 euros;

você faz abdominais para enrijecer a barriga; você protege bem os pés com calçados elegantes, até porque, você sabe, a primeira peça do vestuário masculino na qual as mulheres reparam são os sapatos. Pois bem. Você está atento a todas as partes do seu corpo. Mas você nunca pensa no minguinho, nunca olha para ele, nunca dedica 10 segundos do seu dia a ponderar acerca do minguinho.

Bem.

Neste momento raro em que, devido ao parágrafo acima, você está pensando no seu minguinho, suponha que ele esteja doendo. Doendo muito por conta de alguma doença de minguinhos. O que acontecerá? Você só vai pensar no minguinho.

Você não conseguirá fazer mais nada direito por causa do minguinho. Os lábios em forma de coração daquela morena, as elevações da vida religiosa, os prazeres inefáveis do saber e da cultura, os euros e os dólares todos, nada disso tem importância. Só o que importa é o seu dedo minguinho, o dedo minguinho é o suserano do seu ser, o dedo minguinho é o centro do mundo.

Por quê? Porque o homem é um ser físico.

É por isso que você precisa evitar certas temeridades. Dirigir em alta velocidade, fazer ultrapassagens perigosas, praticar acrobacias inúteis, saltar de paraquedas se não for para invadir a Normandia ou porque o avião está caindo, limpar janelas de edifícios sem corda de segurança, chamar uma mulher de gorda, todas essas, e outras tantas, são ações estúpidas que podem causar mutilações. Quer dizer: que podem profanar o seu corpo, e com isso, profanar a sua mente e acabar com a sua vida.

O homem é um ser físico. Mas gostaria de ser puramente espiritual. E a fase mais espiritual da vida, mais ideológica, a fase em que o ser humano mais anseia pelos valores intangíveis, não por acaso corresponde ao auge do seu vigor físico: a juventude.

O jovem sonha com realizações, com a glória, com a justiça ou com a revolução. Com “algo mais” do que a vida mundana, comum, material, “física”. E, quando um jovem experimenta drogas, ele quer algo além do prazer físico; ele quer alcançar o intangível.

Ele arrisca a sua integridade física por uma experiência extrassensorial, ou seja, além dos sentidos. Além do físico. As campanhas contra as drogas precisavam convencer o jovem disso, de que ele é um ser físico

domingo, 22 de janeiro de 2012

A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma o valor de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem."
[ Martha Medeiros]

















'Tudo que sabemos a respeito do amor é inacabado. A cada pretensa linha de chegada, o nosso entendimento se depara com uma nova linha de partida. A cada porta atravessada, encontramos mais à frente uma outra para ser aberta. Fonte inesgotável de vida, o amor é um caminho que clareia, progressivamente, à medida em que o percorremos. É como se cada passo nosso descortinasse um pouco mais da sua luz.'
[ Ana Jácomo ]








Waldrausch ...

Waldrausch " ... quando as memórias de infância carecem do encanto necessário,sempre temos na ficção um lugar seguro para estar enquanto a tempestade passa "!

Texto de Diana Corso


Esses dias fazia de segundo violino para Lya Luft numa palestra.Escutando uma história da sua infância,quase me perco da minha função.Sua prosa envolvente,em que realidade e ficção perdem o sentido do limite,me embalava.

Ela estava no jardim de casa quando começava uma tempestade.Sentia a vegetação agitada pelo vento,um ar carregado de ameaças.A tempesstade é um encontro menor com o caos.No vento,que anuncia a água e os trovões,há uma gravidade,uma urgência no ar.É um momento de desamparo: dá vontade de correr para um abrigo " estar dentro " - não importa do quê.

Eis que a mãe se aproxima da pequena Lya,paralisada,abaixa-se e lhe sussurra em alemão,língua na qual transitava na infância:" é o "waldrausch " .O " rumor do bosque "!- ela nos traduz.A criança se acalmou,o medo transmutou-se em poesia.A ameaça do mau tempo tornou-se uma espécie de conto de fadas,assustador,mas fascinante,como um filme de terror,uma sinfonia angustiante,que nem por isso deixa-se de escutar.Uma simples palavra pronunciada pela mãe faz a diferença.Deve ter sido assim que ela Lya Luft virou escritora,ofício que,aliás,começou - não por acaso.


Lembro-me de uma amiga que me contava história avessa.Sua mãe pouco saía de casa,sobrecarregando-a com o cuidado dos irmãos.Dentre as ameaças do mundo,eram as tempestades os piores inimigos dessa mulher,movimento no qual recolhia os filhos e abrigava-se embaixo da mesa.



Ela cresceu corajosa,sina frequente dos primogênitos que podem contar pouco com os pais.Porém sofria de uma dependência amorosa,da qual custou a se livrar:_ o ser amado era seu lugar seguro.Um grande e fracassado amor foi para ela como a mesa,abrigo que a mãe usava para se proteger da tempestade.Quão diferente teria sido se fosse uma mãe que pudesse continuar lhe sussurrando ao ouvido cada vez que o desamparo ameaçava " é o rumor do bosque "!!! ...Esse bosque está sempre dentro de nós.

Uma floresta de pensamentos,fantasias e pesadelos feitos de amor e morte.Em nossa turbulenta natureza interior,ventanias,cataclismos se armam de tanto em tanto.Tanto sabemos disso que trememos a cada brisa sinistra,carregada de cheiros que vieram sem ser convidados.Quando as memórias de infância carecem do encanto necessário,sempre temos na ficção um lugar seguro para estar enquanto a tempestade passa,cumprindo seu ciclo.

Há os que partilham suas metáforas ,seus bosques e ventos,ao pé do nosso ouvido.Enquanto outros há,que garimpam essa palavra que permite atravessar a rude natureza da alma.

Diana Corsa é psicanalista.

Lya Luft é escritora.





sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Nem sempre mudança é " e-vo-lu-ção " !

Tudo Mudou, Tudo se transformou...



Texto de : DAVID COIMBRA

Antes das vacas

Nosso problema é que temos a cabeça grande demais. Precisamos dela a fim de guardar um cérebro bem maior do que o dos outros animais. Óbvio: um cérebro tão grande nos proporcionou vantagens. Conseguimos submeter feras muito mais fortes e ágeis, conseguimos controlar a natureza, conseguimos inventar o YouTube, onde assistimos a toda a exuberância da Laisa no BBB.

O problema a que me refiro é sentido por nossas queridas mães quando do nosso nascimento. O nenê, mesmo a contragosto, tem de sair de dentro da mãe. Como fazê-lo com aquela cabeça enorme? Dureza.

Mas a evolução, sábia e prática como sempre, concebeu uma solução: fez com que os nenês nascessem com o cérebro não completamente formado. Assim, a cabeça que, blop, salta para fora do corpo da mulher parideira não é a mesma que será depois de alguns anos. Sai mole e mínima, torna-se robusta e dura de pedra.

Foi um desenlace inteligente da natureza, mas acarretou uma consequência: as crianças necessitam de proteção e cuidado dos pais até que seus cérebros fiquem prontos. Leva tempo. Nos primeiros anos, elas não possuem instrumentos para se virar sozinhas, como ocorre com os filhotes dos outros bichos todos.

A dependência que os filhotes de seres humanos têm dos adultos gerou um estilo de vida em que os seres humanos são interdependentes uns dos outros: o sedentarismo. E, o que é formidável, acarretou esse tipo de contingência a outras espécies. O cachorro, por exemplo.

O cachorro só existe porque o homem existe. Há 100 mil anos não havia cães, apenas lobos. O ser humano é que aprendeu a domesticar os lobos, que se transformaram gradualmente em cães. Então, todos os cachorros, todos, até essas miniaturas repugnantes com rabo de pompom, são descendentes dos nobres e ferozes lobos.

Domesticados, os cachorros nascem dependentes do homem. Se não conviverem de alguma forma com os seres humanos, não conseguem sobreviver. Não é à toa que se fazem de nossos melhores amigos, nos abanam o rabinho, nos olham com submissão: puro interesse.

A vaca, a mesma coisa. Vacas, bois e outros da família bovina são descendentes dos bravos uros. O uro era uma espécie de touro de dois metros de altura e chifres recurvos de metro e meio. Foram extintos no começo do século 17. Júlio César, que viu muito uro na vida, os descreveu como feras “pouco menores do que os elefantes”.

Os uros eram perigosos e quase indomáveis. Só não eram totalmente indomáveis porque foram domados, se transformaram no boi doméstico e desapareceram na história. E agora o boi só consegue viver sob a proteção do homem.

Pois os filhotes humanos, que são a razão mesma do sedentarismo e da existência de cães e vacas, agora estão passando por processo exatamente igual ao que passaram os ancestrais dos cães e das vacas.

Criadas no confinamento dos apartamentos, superprotegidas por pais que, com razão, temem a violência urbana, as crianças estão se transformando em jovens cada vez mais dependentes dos adultos. Homiziam-se na casa paterna até bem depois dos 30 anos. Quarentões comportam-se como adolescentes. Mulheres feitas como menininhas.

E até a lei, isto é, o Estado, tenta contemplá-los: meses atrás, a deputada Manuela propôs meia-entrada para “jovens” estudantes de até 29 anos. Tudo mudou. Tudo se transforma, já disse Lavoisier. Mas nem sempre mudança é evolução.







Jaime cimenti

"Homens-sanduíche",[ seres postes-modernos verdadeiros ou falsos] e outros lances ...

Uns dizem que por vivermos numa época sem referências mais definidas, valores mais duradouros e falta de fronteiras para quase tudo, seríamos pós-modernos, vivendo em tempos tipo assim meio cambiantes, rápidos e cambalacheiros.

O mundo e os habitantes sempre tiveram ordens e desordens, regras e violações, desde o tempo em que os dinossauros eram lagartixas. Nada de muito novo sob a luz do sol, como disse o Rei Salomão, há milênios. Fico pensando nisso enquanto lembro dos antigos homens-sanduíche, que traziam cartazes pendurados nos ombros com anúncios no peito e nas costas.

Eles ficavam falando com meio mundo, davam uma mãozinha para os velhinhos e as crianças atravessarem a rua e passavam o dia propagandeando ouro, cursos, serviços, empregos, espetáculos e outras coisas em troca de uns pilas. Camionetes com alto-falantes os substituíram, gritando ofertas. Depois apareceram mil meios sonoros e visuais com ofertas de tudo o que é possível.

Hoje andamos por aí com propagandas nas costas, no peito, na cabeça, nas pernas, nos braços e nos pés, de um monte de marcas. Muitas vezes pagamos caro por roupas, por exemplo, ou por automóveis, para depois ainda sair por aí fazendo propaganda grátis do produto ou do fabricante.

Meio pós-moderno, né? Ao invés dos trocados que os homens-sanduíche ganhavam, nós pagamos para servir de postes ambulantes ou postes-modernos, com o perdão do trocadilho, mas é que quis apresentar, modestamente, meu neologismo. Ninguém é obrigado a andar por aí divulgando grifes, mas que é meio estranho isso tudo é.

Dos pés à cabeça, estamos grifados, obrigando também os outros a partilhar da divulgação. Dizem que os publicitários e marqueteiros estão pensando numa forma de ocuparem as testas das pessoas para vender. Em alguns casos de artistas e atletas isto até já ocorre, mas aí o cara leva lá um patrocínio. Será que daqui a pouco vamos ter anúncios e patrocínios também em funerais e cemitérios?

Tudo é possível neste mundo. O dinheiro compra ou pensa que compra até amor verdadeiro, imortalidade, almas em liquidação nas bacias e outras mercadorias menos votadas. Pois é, o negócio é esse mesmo, pagar caro e depois sair por aí mostrando que está podendo. Ou, ao menos, enganando, com certas imitações perfeitas do Oriente e do Ocidente que andam por aí.

As falsificações verdadeiras salvam os curtos de grana do mico de não andar devidamente marcado, etiquetado e grifado, feito um fosforescente poste ou outdoor humano. Saudade dos homens-sanduíche.
(Jaime Cimenti)







domingo, 15 de janeiro de 2012

Carnaval,de Ferreira Gullar







Ferreira Gullar

Revolução no Carnaval

A habilidade artesanal e a inventividade eram qualidades inatas de Joãosinho Trinta

A teoria de que a vida é inventada e que cada um de nós se inventa, vejo-a confirmada a cada momento e nos mais diversos casos. É o exemplo de Joãosinho Trinta, recentemente morto para a tristeza de seus amigos e admiradores, como eu, que, além do mais, sou seu conterrâneo.

Chegamos os dois ao Rio no mesmo ano de 1951 e com propósitos parecidos: realizar a nossa paixão pela arte. Só que, enquanto minhas paixões eram a poesia e as artes plásticas, a dele era o balé, mas não conseguiu inventar-se bailarino, porque lhe faltava o "physique du rôle", isto é, sonhara errado.

E só se inventaria carnavalesco bem mais tarde, quando passou a fazer adereços para a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.

Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues haviam transformado os desfiles do Salgueiro numa revolução que mudou a estética do Carnaval carioca.

Até ali, as fantasias e alegorias das escolas de samba seguiam o gosto acadêmico, que identificava o belo com o luxo da corte imperial.

Pamplona e Arlindo substituíram aquelas fantasias pesadas, cobertas de enfeites, por outras de gosto moderno, valorizando o colorido, o desenho que mostrava o corpo dos figurantes e passistas.

Também as alegorias perderam o caráter do velho Carnaval para ganhar leveza e concepção inovadora. Graças a eles, a Acadêmicos do Salgueiro destacou-se nos desfiles e passou a influir na concepção de outras escolas, à exceção da Mangueira, que mantinha o estilo tradicional.

Foi então que Joãosinho Trinta, que passara a morar no morro do Salgueiro, começou a colaborar com Pamplona e Arlindo, na concepção e realização de adereços, de que já se ocupava em trabalhos de decoração. Como se explica, então, que o moço que sonhara ser um intérprete da dança clássica tornara-se um artesão?

É que -conforme contaria mais tarde- quando menino, nascido em família pobre, fazia ele mesmo seus brinquedos. Ou seja, a habilidade artesanal e a inventividade eram qualidades inatas de Joãosinho Trinta, que ele pusera de lado, quando se deixou fascinar pela dança. Como aquele não era de fato o caminho possível de sua realização artística, um dia o talento inato do menino se fez valer.

E aqui entra o outro lado da vida: o acaso. Por acaso, Joãosinho foi morar no morro do Salgueiro precisamente quando os carnavalescos da escola eram Pamplona e Arlindo, e por acaso eles precisavam de alguém para melhorar os adereços da escola... E assim, Joãosinho Trinta veio a se tornar um dos mais destacados carnavalescos do país. Quando Arlindo e Pamplona deixaram a escola, ele assumiu a função deles e deu vazão a toda a sua capacidade criativa.

Havia aprendido com eles a nova concepção estética dos desfiles de Carnaval, das fantasias, das alegorias. Assimilou aquelas lições e pôs em prática a sua própria concepção, introduzindo no Carnaval carioca a sua vivência de nordestino, nascido na histórica São Luís do Maranhão, cidade cheia de lendas e tradição, presentes em seus túneis subterrâneos, em suas fachadas de azulejo e em suas festas populares.

Graças a tudo isso e especialmente a seu talento, ganhou os carnavais de 1973, 74 e 75, transferindo-se, no ano seguinte, para a Beija-Flor de Nilópolis, onde arrebatou cinco títulos mais.

Foi num desfile dessa escola, que apresentou o seu mais surpreendente enredo -"Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia", no qual exibia a figura do Cristo como mendigo. Tanta audácia provocou a reação da Igreja Católica, que o levou a cobrir essa alegoria com um lençol preto, durante o desfile.

Naquela ocasião, escrevi sobre esse enredo, chamando atenção para o que significava na sua carreira de carnavalesco. É que ele havia dito, meio de gozação, uma frase que se tornou célebre: "Quem gosta de pobreza é intelectual, porque o povo gosta de luxo". Era uma resposta aos que o acusavam de ter voltado ao velho estilo luxuoso, contrário à linha inovadora do Salgueiro.

O enredo "Ratos e Urubus" era o oposto do luxo, uma vez que o próprio Cristo aparecia ali como mendigo. Na verdade, o luxo dos enredos de Joãosinho era aparente, pois o que ele fazia era extrair beleza e esplendor dos materiais mais pobres. Uma alquimia.














"Mesmo que a rota da minha vida
me conduza a uma estrela,
nem por isso fui dispensado de percorrer
os caminhos do mundo."




[José Saramago]






"Mas eu devo ter vivido
realmente à beira-mar...
Sempre que uma coisa ondeia,
eu amo-a...
Há ondas na minha alma...
Quando ando embalo-me..."



{Fernando Pessoa}











Tenho tanta vontade de ser corriqueira
e um pouco vulgar e dizer:
a esperança é a última que morre."


[Clarice Lispector]


sábado, 14 de janeiro de 2012

" uma eterna busca " ...



eterna busca


Aprenda a gostar de você, a cuidar de você e principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
A idade vai chegando e, com o passar do tempo, nossas prioridades na vida vão mudando. A vida profissional, a monografia de final de curso, as contas a pagar. Mas uma coisa parece estar sempre presente: A busca pela felicidade com o amor da sua vida.

Desde pequenas ficamos nos perguntando "quando será que vai chegar?" e a cada nova paquera, vez ou outra nos pegamos na dúvida "será que é ele?". Como diz o meu pai: "nessa idade tudo é definitivo", pelo menos a gente achava que era. Cada namorado era o novo homem da sua vida. Faziam planos, escolhiam o nome dos filhos, o lugar da lua-de-mel e, de repente... PLAFT! Como num passe de mágica ele desaparecia, fazendo criar mais expectativas a respeito "do próximo".
Você percebe que cair na guerra quando se termina um namoro é muito natural, mas que já não dura mais de três meses. Agora, você procura melhor e começa a ser mais seletiva. Procura um cara formado, trabalhador, bem resolvido, inteligente, com aquele "papo" que a deixa sentada no bar o resto da noite. Você procura por alguém que cuide de você quando está doente, que não reclame em trocar aquele churrasco dos amigos pelo aniversário da sua avó, que jogue "imagem e ação" e se divirta como uma criança, que sorria de felicidade quando te olha, mesmo quando está de short, camiseta e chinelo.
A liberdade, ficar sem compromisso, sair sem dar satisfação já não tem o mesmo valor que tinha antes. A gente inventa um monte de desculpas esfarrapadas, mas continuamos com a procura incessante por uma pessoa legal, que nos complete e vice-versa.
Enquanto tivermos maquiagem e perfume, vamos à luta...e haja dinheiro para manter a presença em todos os eventos da cidade: churrasco, festinhas, boates na quinta-feira. Sem falar na diversidade que vai do Forró ao Beatles. Mas o melhor dessa parte é se divertir com as amigas, rir até doer a barriga, fazer aqueles passinhos bregas de antigamente e curtir o som... Olhar para o teto, cantar bem alto aquela música que você a-d-o-r-a!
Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.Percebe também que aquele cara que você ama (ou acha que ama), e que não quer nada com você, definitivamente não é o homem da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

(Mário Quintana)


















CLÁUDIA LAITANO

Faz de conta

Nada ilustra melhor o conceito de “suspensão da descrença” do que uma criança diante de uma boa história. O poeta e crítico literário inglês Samuel Coleridge (1772 – 1834) cunhou a expressão no começo do século 19 e até hoje ela é usada quando queremos nos referir à capacidade de uma obra de nos envolver em sua lógica interna mesmo quando contraria nossa razão.

Basicamente, a “suspensão da descrença” é o que nos faz acreditar em histórias de vampiros ou aventuras intergalácticas – e também o que nos permite viver as emoções de uma heroína russa do século 19 como se fossem as nossas.

Crianças costumam abandonar-se à ficção de forma ainda mais intensa. Quem já acompanhou as primeiras sessões de cinema de um filho ou de um sobrinho sabe com que seriedade elas vivem a angústia dos personagens. Muitos não aguentam e fecham os olhos – ou choram tanto que os pais são obrigados a sair da sala. Quando ficam um pouco maiores, bruxas e monstros começam a ficar mais toleráveis, mas o medo e o sofrimento dos personagens ainda é vivido de forma visceral.

Uma criança que se perde dos pais, uma aventura em um lugar ameaçador, uma injustiça muito grave, tudo é percebido pelo jovem espectador como se ele estivesse colado à pele do personagem. Às vezes, no meio do filme, pedem ajuda: “Será que ele vai morrer?”, “Vai achar o caminho de casa?”, “Vai conseguir provar que não é culpado disso ou daquilo?”.

A confusão entre ficção e realidade pode ser tão grande que é preciso lembrá-los de que aquilo não está acontecendo de verdade. É apenas uma história inventada, um faz de conta: a vida é outra coisa.

Na última semana, andaram circulando pelas redes sociais imagens de celebridades internacionais retratadas, bem de perto e sem photoshop, pelo fotógrafo alemão Martin Schoeller.

O plano fechado ressalta linhas de expressão, rugas e outras imperfeições na pele de personalidades que nos acostumamos a ver maquiadas e photoshopadas – como Brad Pitt, Angelina Jolie ou Barack Obama. Por coincidência (ou não) também foi notícia por estes dias um blog (celebritycloseup.tumblr.com) que reúne flagrantes de pessoas famosas sem maquiagem.

As imagens roubadas tendem ao grotesco: espinhas, rugas, olheiras, dentes amarelos. As do ensaio fotográfico preferem ressaltar a profunda humanidade de rostos conhecidos quando fotografados sem qualquer outro recurso artificial além da luz.

Os dois conjuntos fotográficos, porém, parecem cumprir a mesma função do adulto que alerta a criança para o excesso de crença na ficção: “Veja, eles são apenas pessoas como nós. Têm espinhas, rugas, olheiras, dentes amarelos...”.

Como crianças imersas em um enorme caldeirão de suspensão da descrença midiática, às vezes esquecemos o óbvio: homens e mulheres perfeitos ou eternamente jovens e felizes não existem – e a obsessão em imitá-los pode ser tão tola quanto a providência de fechar a janela para manter os vampiros do lado de fora.

As Gaivotas de Punta Del Este


Jaime Cimenti

As gaivotas de Punta del Este

As gaivotas já estavam em Punta com os lobos marinhos, os peixes, as baleias, as areias, as rochas e as águas muito antes de os índios e os gringos chegarem e de o lugar chamar-se Villa Ituzaingó, em 1829. Elas seguiram donas do pedaço depois de 1907, quando a Villa virou Punta. Lá por 1843, carros de madeira puxados por camelos eram os únicos transfers para circular pelas areias.

As gaivotas de Punta não se impressionam com a passagem do tempo e das estações, muitos ou poucos turistas, milionários, artistas e dólares, e nem sabem que Miami é a Punta da América do Norte ou que Punta é a Miami da América do Sul, como o leitor preferir.

As gaivotas curtem o oceano e o Rio da Prata, as pedras e as areias e sobrevoam tudo com a maior categoria. Elas não questionam se existe uma Punta antes do Hotel Conrad e outra depois, mas, de repente, pegam umas sobrinhas de salmão, pato, trufas, ojo de bife, caviar e cerejas frescas, sem preconceito.

Elas viram o local ser construído por italianos, judeus e árabes e nem se espantam em ver que até os sucessivos governos de lá conseguem, mesmo assim, retirar sua fatia do bolo. Gaivotas de Punta não se preocupam em ser algum Fernão Capelo Gaivota da vida, voando e vivendo diferente ou melhor do que os outros, tornando-se best-seller, peça de teatro, videoclipe ou filme de sucesso.

As aves de Punta dispensam a leitura do Eclesiastes e do resto da Bíblia para entender de nascimento, filhos, vida, trabalho, vaidade, dinheiro, sabedoria, morte e eternidade.

Elas simplesmente são. São como o rio, o mar, as rochas, as areias, as manhãs, as tardes, as noites, o sol, as estrelas, a lua e o vaivém das ondas. Elas não estão preocupadas em andar na moda, vestindo shortinho com sapato alto, biquíni ou maiô da Gottex ou botas na praia. Elas não andam na moda. Elas são a moda. São eternas, sem precisar mudar de atitude, penteado, maquiagem, roupas e calçados.

Elas não precisam ser budistas para saber que todas as formas de vida são importantes e que suas existências independem de palavras mais ou menos adequadas de algum falador ou escriba. Sabem que viver é melhor que sonhar, que o amor é uma coisa boa e que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa, como diz a canção de sempre do Belchior.






quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A Hora do Pesadelo: < os im-pos-tos...>





CLAUDIA TAJES

A hora do pesadelo: os impostos

Eu tenho uma empresa. Uma pequena empresa. Bota pequena nisso. Uma empresa que passa notas fiscais a quem me contrata para escrever. Tudo direitinho, sem caixa dois. Minha empresa não gera empregos, nem riquezas, serve para compor a renda doméstica. Uma empresa que se resume a mim, proprietária e funcionária. E, a cada pagamento de impostos, otária.

Minha empresa se chama Mulher Feia Textos e Roteiros Ltda., nome que causa alguns constrangimentos. Quando ligam para a nossa sede, que é aqui em casa, alguém do outro lado da linha pergunta: falo com a Mulher Feia? A dúvida é sempre entre responder que sim ou mandar a pessoa longe.

Mas constrangedores mesmo são os impostos que a Mulher Feia paga. Para toda notinha emitida, uma cacetada. De três em três meses, uma composição leonina de tributos, os tais impostos trimestrais, que acabam com a aparente estabilidade contábil desta potência do setor de serviços.

Por causa de diversos rabos deixados por uma ex-contadora que se mandou para o Nordeste, descobriu-se que a Mulher Feia precisa quitar pendências. E aí vem a parte mais bizarra da história, mais até que a razão social da minha empresa e os impostos em si: o parcelamento proposto simplesmente inviabiliza colocar as contas em dia.

É impossível arcar com os impostos mensais e mais os atrasados. E se isso acontece com uma empresa sem porte, dá para imaginar o que sofrem os empresários de verdade, os que precisam honrar com as obrigações trabalhistas e reinvestir nos seus negócios. Fica fácil entender porque quatro em cada 10 novas empresas fecham as portas após dois anos.

Um e-mail que vem de Lisboa sugere que, no campo da declaração de renda a ser preenchido com os dependentes, os portugueses não esqueçam de colocar, junto com o nome de seus filhos, a palavra “Governo”. Vou fazer o mesmo. Pelo menos, votei na Dilma e gosto dela.

Se me dão licença, agora preciso trabalhar até maio ou perto disso apenas para pagar meus impostos. E o senhor e a senhora que estão lendo, também.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

impressiona as marés...e os peixes coloridos...







MARTHA MEDEIROS

Dias de superfície

Quando era adolescente, passava as férias de verão em Torres ou, na melhor das hipóteses, em alguma praia de Santa Catarina. Até que soube de uma amiga que viajaria para Morro de São Paulo, uma ilha no litoral da Bahia. Nunca tinha escutado falar do lugar.

Segundo ela, era um reduto de hippies, com difícil acesso, sem pavimentação, sem carros e sem luz elétrica. A energia vinha de um gerador a diesel que funcionava até as 22h (a luz elétrica chegou em 1986, e o telefone em 1988). Eu ouvia sobre esse paraíso pitoresco comovida com o desprendimento da minha amiga, mas, por dentro, pensava: nem morta.

Pois passei esse fim de ano adivinhe onde? Pois é. Já estendi minha canga em praias as mais diversas, mas poucas me impressionaram tanto como as de Morro de São Paulo. O mar verde esmeralda, a vegetação nativa, as fazendas onde se plantavam cocos, piaçava e dendê, a fortaleza e o farol que protegeram a ilha contra invasões no século 17, segue tudo lá, porém agora com luz elétrica e infraestrutura.

Carro ainda não entra, e não faz a menor falta. O sistema de transporte interno (dois ou três jipes inveterados, charretes e os próprios pés) dá conta do recado.

São cinco as praias principais, batizadas sem nenhum arroubo de criatividade: chamam-se Primeira Praia, Segunda Praia, Terceira Praia e Quarta Praia. A quinta escapou da simplificação e chama-se Praia do Encanto, um fim de mundo lindo e ermo, que faz você se perguntar: será que morri e fui pro céu? Nenhuma alma à vista. Ideal para quem está sendo procurado pela polícia.

Quem gosta de agito, luaus, balada, deve se hospedar na Primeira ou na Segunda. Os indecisos, na Terceira. Os que querem descanso de fato, com silêncio, tranquilidade, visual imaculado e apenas um ou dois botequinhos com mesas na areia vendendo lagosta como se fosse siri, vão para a Quarta, a eleita desta colunista.

Mas o que mais me chamou atenção nesse oásis foram as marés. Em Morro, nessa época do ano, o movimento das marés se dá com uma rapidez mágica – ou eu andei tomando muita caipirinha.

Por exemplo: você senta dentro do mar com água pela cintura, curtindo os peixes coloridos que praticamente vêm comer na sua mão, e em poucos minutos está sentada na areia úmida feito uma criança, só falta o balde e a pazinha para começar a construir seu castelo. O mar se recolhe como se pressagiasse a chegada de um tsunami.

Lembrei de uma outra amiga que reclamava de pessoas que não tinham proa oceânica e viviam com água pela canela – uma metáfora poética para identificar aqueles que nasceram para a superfície, e não para mergulhar nas profundezas. Morro de São Paulo a desapontaria.

É preciso andar muitos metros mar adentro para encontrar algum tipo de profundeza. As piscinas naturais da Quarta Praia são rasas, e no raso ficam também nossos problemas. Um lugar onde não se corre o risco de pensar demais, de ir fundo em coisa alguma. Paz e amor, bebê. A herança dos hippies a maré nunca levou.

O Objetivo desejável : números do PIB= animadores







LIBERATO VIEIRA DA CUNHA

Uma injeção de otimismo

De vez em quando o país recebe uma injeção de otimismo. Agora foi o anúncio de que somos a sexta economia do mundo, no conceito do PIB, superior à da Inglaterra.

Até 2015, segundo as projeções mais recentes do FMI, devemos ultrapassar a França. Isso não é nenhum milagre. Moeda forte, inflação baixa e disciplina fiscal concorrem para sobressairmos numa época em que a Europa vive uma crise de estagnação.

Hoje, conta a Veja desta semana, são os europeus e os americanos que buscam atrair a ajuda financeira do Brasil.

Isso não significa que superamos todos os nossos desafios. É também a revista, que fez uma pesquisa sobre como o Brasil é visto em 18 outras nações, que pondera que serão necessárias décadas até que o país alcançar um padrão de vida similar ao das sociedades desenvolvidas.

Se o crescimento de hoje deixa o Brasil mais atraente aos investidores internacionais, se instauramos um regime de responsabilidade fiscal, ainda nos custará sangue, suor e lágrimas para superar as imensas desigualdades sociais.

Basta percorrer a periferia de uma grande cidade para constatar a enormidade de problemas que desafiam os governantes e, antes deles, a própria sociedade.

O que vemos são amontoados de subabitações, órfãos de educação, saúde, transporte, segurança. O que constatamos são o abandono, a angústia e a desesperança.

Mesmo nas cidades mais ricas o quadro é o mesmo. Miséria, analfabetismo, doença e fome. Os programas do governo federal, como o Bolsa-Família, apesar de bem intencionados, não conseguem enfrentar de todo reptos gigantescos.

Hoje os brasileiros aparecem, lembra a revista, entre os maiores consumidores mundiais de carros, computadores e telefones celulares. Isso não significa no entanto que o país tenha-se transformado em uma nação desenvolvida.

Fazemos parte desse incerto território que hoje merece o nome de países emergentes.

Dizem que o Brasil terá o padrão de nações europeias dentro de 10 ou 20 anos.

O objetivo é desejável e os novos números do PIB, animadores.

Mas precisamos especialmente de uma consciência de responsabilidade social que elimine ou reduza diferenças, tornando-nos um país que deixe a humilhante posição de octogésimo-quarto colocado no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

" vizinhança tem regras.."







- Cláudio Brito*

Lei não sai em férias

Lixo na areia da praia, carro de som em zoeira total até altas horas, fumaça de churrasco invadindo a casa vizinha, festa desregrada em hora de descanso e outras pequenas transgressões acontecem perturbando a vida de quem pretende gozar férias na praia ou na serra durante o verão.

Todo dia tem torpedo e telefonema para a produção do Gaúcha Hoje e do Chamada Geral, programas da Rádio Gaúcha, com esse tipo de reclamação. O Antônio Carlos Macedo e o André Machado que o digam. A descontração que o período oferece está na raiz dessa incomodação.

Há quem pense que as leis também estão em férias. Negativo. Os códigos Civil e Penal vigem sempre. É assim com a Lei das Contravenções Penais e, antes de tudo, o mesmo acontece com as leis municipais, em que estão as regras de comportamento para quem vive ou visita uma cidade. São as leis de posturas municipais.

Tomo como exemplo a legislação de Tramandaí, onde estão proibidas algumas atitudes nem sempre evitadas pelos moradores e veranistas. Pode custar multa pesada jogar lixo nas ruas, sacudir tapetes ou capachos das aberturas dos prédios para a via pública, ou colocar objetos que possam cair na rua, tais como vasos, floreiras e outros nas janelas ou balaústres dos prédios.

As condutas proibidas são quase as mesmas em todas as cidades, que são titulares do poder de polícia para coibir o mau comportamento. Muitas dessas faltas são puníveis ainda como infrações penais, como é o caso da gritaria ou algazarra que incomode quem esteja trabalhando ou descansando, não importa.

Vandalismo é crime de dano, vizinhança tem regras, as leis de trânsito têm previsões que também protegem nosso direito ao silêncio e ainda poderia alinhar aqui dezenas de fatos e circunstâncias que confirmam que as leis não descansam, para que possamos ter nosso repouso.

Não se exige iniciação jurídica para sabermos que o direito de um vai até onde começa o direito de outro. Também se sabe que aquilo que nos incomoda e não desejamos para nossos dias de veraneio temos que impedir que aconteça para prejudicar outras pessoas.

Devemos preservar o ambiente, o patrimônio e o bem-estar para nós e para todos. Assim como protestamos contra abusos em supermercados e no comércio em geral, arrimados no Código do Consumidor, devemos ter consciência de que todas as leis continuam aplicáveis e podem nos custar alguns dissabores se agirmos como transgressores.

Não há nada melhor que fazermos das férias um bom tempo, gerador de boas recordações, de fortalecimento ou surgimento de grandes amizades.

É o que se leva da vida. Multas, processos judiciais, alguma pena até, nada disso queremos. Então, gente amiga, é não esquecer que as leis não saem em férias, valem o tempo inteiro.

*Jornalista

domingo, 8 de janeiro de 2012


(...) Algumas pessoas
simplesmente
valem a pena..."


[ Tati Bernardes]


'Mulher é muito mais que uma gaveta cheia de histórias delicadas, de lágrimas imaculadas. Muito mais que um bicho protetor, ameaçador e extremamente sensível. Mulher é um céu cheio de sinais, entrelinhas, noites em claro e dúvidas. Chora demais, beija demais, fala demais, ama demais. Nunca se dói de menos. Não por exagero, mas por contentamento mesmo. Eu, por exemplo, vou escrevendo demais pra caber aqui dentro, só assim garanto o todo (que nunca é o resto). Mulher é uma força recém – nascida de uma intuição. Eu sou. E não me deixo por nada.'

























'A maneira de andar,
como quem busca
estrelas pelo chão!


[Carlos D.de Andrade]


" os poucos "





"Se eu gostar de você aviso
de antemão que você é uma pessoa de sorte.
Eu me entrego.
Quem vive comigo sabe.
Quem convive comigo sente.
Eu amo poucos.
Mas esses poucos,
pode apostar, amo muito."
[Clarissa Correa]



Território das Letras









Já aviso: aqui a casa é ventilada, o coração é quente e as vontades têm a temperatura exata para os sonhos.[ Vanessa Leonardi]



"Felicidade independe de inúmeras circunstâncias para inaugurar recomeços. E eu sou uma mulher de muitos inícios. Então, se nublo, floresço – porque é o que eu faço de mais bonito." [Priscila Rôde]

Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente.








(Érico Veríssimo)


Ninguém deve culpar-se pelo que sente, não somos responsáveis pelo que nosso corpo deseja, mas sim, pelo que fizemos com ele. (Érico Veríssimo)

Não tenho tempo de desfraldar outra bandeira que não seja a da compreensão do encontro e do entendimento entra as pessoas. (Elis Regina)




O amor não resiste a tudo, não. Amor é jardim. Amor enche de erva daninha. Amizade também, todas as formas de amor. (Caio Fernando Abreu)

O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse. (Clarice Lispector)


Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. (Cora Coralina)

Saudade é um pouco como fome: só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco, quer-se absorver a presença da outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira, é um dos sentimentos mais urgentes que se têm na vida. (Clarice Lispector)




Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. (Clarice Lispector)

[...] Tomara que a tristeza te convença, que a saudade não compensa e que a ausência não dá paz, e o verdadeiro amor de quem se ama, tece a mesma antiga trama que não se desfaz. E a coisa mais divina do mundo, é viver cada segundo como nunca mais. (Vinícius de Moraes)

O amor não me compete, eu quero é destilar as emoções. (Elis Regina)

[...] Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra. Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder. (Clarice Lispector)

A vida começa todos os dias. (Érico Veríssimo)

[...] Faça com a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar. (Clarice Lispector)




Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim. (Caio Fernando Abreu)

[...] E eu digo o tempo todo:o teu ser é conjunto do meu, assim adoçamos nossas vidas. (Caio Fernando Abreu)

Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem. (Caio Fernando Abreu)

Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para voltar sempre inteira. (Cecília Meireles)




Mas não se esqueça: assim como misturar bebidas, misturar pessoas também pode dar ressaca. (Martha Medeiros)

Quando penso em você, fecho os olhos de saudade. (Cecília Meireles)





Eu deixo aroma até nos meus espinhos, ao longe o vento fala de mim. (Cecília Meireles)

(...) E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim. (Cecília Meireles)

Nunca ninguém viu ninguém que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste, e eu sei que ela se vê bem... (Cecília Meireles)


Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? (Fernando Pessoa)


Tão bom morrer de amor e continuar vivendo. (Mário Quintana)


Se tu me amas, ama-me baixinho, Não o grites de cima dos telhados, Deixa em paz os passarinhos, Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda... (Mário Quintana)


Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade. (Carlos Drummond de Andrade)




A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar, uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada. (Lya Luft)


Não escrevo porque “valha a pena”, mas porque me faz feliz, simplesmente. (Lya Luft)



A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez. (Friedrich Nietzsche)

Todos os erros humanos são impaciência, uma interrupção prematura de um trabalho metódico. (Franz Kafka)



Raiva tampa o espaço do mêdo, assim como do mêdo raiva vem. (Guimarães Rosa)



Não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia. (Paulo Coelho)



A melhor maneira de predizer o futuro é criá-lo. (Peter Drucker)


A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede. (Carlos Drummond de Andrade)

A beleza é a melhor carta de recomendação. (Aristóteles)



Quero melhorar em tudo. Sempre. (Ayrton Senna)



O belo é uma manifestação de leis secretas da natureza, que, se não se revelassem a nós por meio do belo, permaneceriam eternamente ocultas. (Goethe)



Os homens não atraem aquilo que eles querem, mas aquilo que eles são. (Woody Allen)



Começamos a desconfiar das pessoas muito inteligentes quando ficam embaraçadas. (Nietzsche)

Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos. (Sócrates)



As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física. (Friedrich Nietzsche)


A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas. (Carlos Drummond de Andrade)


A amizade é semelhante a um bom café; uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor. (Immanuel Kant)



Tudo é tão simples que cabe num cartão postal. (Cazuza)



Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. (Arnaldo Jabor)

Como é estranha a natureza morta dos que não tem dor. Como é estéril a certeza de quem vive sem amor. (Cazuza)



Tenho a suspeita de que a espécie humana- a única -está prestes a extinguir-see que a Biblioteca perdurará:iluminada, solitária, infinita,perfeitamente imóvel,armada de volumes preciosos, inútil,incorruptível, secreta. (Jorge Luis Borges)



Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim. (Chico Xavier)


Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira. (Carlos Drummond de Andrade)

Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia? Gostar dói? (Arnaldo Jabor)

O que a memória amou fica eterno. (Adélia Prado)

E eu digo o tempo todo: o teu ser é conjunto do meu, assim adoçamos nossas vidas. (Caio F.)

Das coisas ...







'No fim tu hás de ver que as coisas
mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...'


Mário Quintana

o esquecimento é um anestésico que não me tenta.


de Martha Medeiros
Esquecimento e memória

Outro dia li um ensaio interessante sobre a arte de esquecer. Dizia que a memória até pode ajudar a conservar nossa história, mas que o esquecimento é fundamental para a regeneração da vida, que só esquecendo o passado podemos nos dedicar a planejar o futuro, algo assim.

É uma tese controversa. Avanços históricos, sociais e tecnológicos estão intimamente ligados ao conhecimento do que já se fez antes. Já nas questões pessoais, um pouquinho de esquecimento pode, realmente, ajudar a desatar nós e a seguir em frente, mas isso em se tratando de pessoas que possuam mesmo um futuro.

Para pessoas mais idosas, não pode haver velhice pior do que aquela em que se está mergulhado no breu.

Inúmeras doenças degenerativas corroem a memória, deixando a pessoa enredada no presente instante. Ela esquece o que comeu no almoço, esquece com quem estava conversando há meia hora e sobre o quê. Menos mal que, mesmo com esse esquecimento de fatos imediatos, consegue produzir flashbacks, lembrar da infância, de acontecimentos remotos. Mas se a memória for inteirinha para o brejo, de que adiantou ter vivido?

Não consigo imaginar chegar lá adiante, velhinha, depois de ter atravessado tantos conflitos, tantos amores, cometido tantos erros e tantos acertos, e não poder comemorá-los, todos.

O que justifica uma vida não são nossas boas intenções, nossas ideias jogadas ao vento, nossos quases: vida é a coisa realizada. O que se fez e o que se sentiu. Se elas forem esquecidas, esvaziam-se nossos 80 anos, nossos 90 ou cem anos. Qualquer longevidade passará a valer um segundo.

Quero olhar para as fotos e me reconhecer no sentido mais amplo, enxergar o que eu sentia naquele momento do clique, dizer “parece que foi ontem” sem sofrimento. Quero lembrar de sabores, de sorrisos, de gestos, esses flashes que vêm e povoam a estrada atrás de nós. Quero inclusive lembrar dos arrependimentos e das dores, que vistos de longe parecerão menores, e essenciais. Quero rir muito do meu passado. Rir muito de mim, me recordando de trás pra frente.

Porque se não for assim, nossa vida terá valido para os outros, os que nos lembram, mas não terá valido para nós mesmos. Seremos uns desmemoriados sem alicerces, vagando num presente ilusório, desaparecendo a cada minuto que passa.

O esquecimento é um anestésico que não me tenta. Se temos que morrer um dia (que jeito), que seja abraçados às nossas recordações. A integridade de uma vida está em seu reconhecimento, mesmo que se reconheça, junto às boas lembranças, a proximidade do fim. É o preço. Pior é morrer com a bênção de não se dar conta da morte iminente, mas com o destino cruel de não poder avaliar, através da memória, se valeu ou não a pena.







sábado, 7 de janeiro de 2012

pare de comprar a solidez dos sorrisos,e experimente perguntar...e aí como tu tah?





Não há festa
texto: Gustavo Gitti

-------------------------Pare de comprar a solidez dos sorrisos e experimente perguntar,um a um:" e aí,como você está?

Boa parte da nossa angústia vem de perceber os outros felizes,bem resolvidos,curtindo a vida.Quando um casamento desaba ou um trabalho fracassa,parece que nós fizemos algo errado.Se tivéssemos acertado,estaríamos junto com as pessoas sorridentes na grande festa.
Mas não há festa em lugar nenhum.Ande pelos subterrâneos da vida,converse com psicanalistas,padres,massagistas,lamas,xamãs e pergunte quem está realmente,festejando? !!!
Pare de comprar a solidez dos sorrisos e experimente perguntar, um a um, " e aí...como você está ? " Com ceticismo,curiosidade,interesse.
Não demora ,vai descobrir que estamos todos ... com a mesma mente ansiosa,mente inquieta,carente,hesitante,desconfiados,mente orgulhosa,mente preguiçosa,autocentrada,fofoqueira.Todos com o mesmo corpo entortado,de ânimo oscilante,cheio de tiques,tiquilites.
O que chamamos de mente saudável está longe de ser completamente sã.Até as melhores pessoas," melhores "sem nenhuma doença mental diagnosticada,precisam de ajuda.Se não percebemos que estamos todos igualmente insatisfeitos,estamos muito cegos.E,mesmo sabendo,não temos noção do quanto estamos perdidos.
Precisamos de ajuda.Sem desespero,sem alarme,é essencial listar tudo aquilo que parece subentendido,tudo aquilo que ninguém se dispõe a aprender: não sabemos morrer ou lidar com a morte dos outros,não sabemos nos concentrar,relaxar,sustentar relações positivas,ou superar hábitos destrutivos,não sabemos direito sequer como aprender.
E, quem, poderia nos ajudar? Como diz o sociólogo Zygmunt Baumann " a cabine do piloto está vazia ". Não somos mais subjetivados e orientados por algum grande Outro ( outro< a religião,a família,a nacionalidade,a cultura hegemônica,as instituições >.
Também não dá mais para transferir essa responsabilidade para psicólogos,psiquiatras e picaretas da autoajuda.Essa mesma condição pós moderna que dilui qualquer ponto de apoio seguro inaugura uma liberdade nunca antes acessível à humanidade.Como não há mais refúgio exterior,ponto de fuga,apoio seguro,somos quase obrigados a nos reapropriar da responsabilidade que havíamos empregado.
Só nos resta fazer de qualquer outro o grande outro...< só nos resta fazer de qualquer outro o grande outro >
Resgatar as rédeas dos processos que nos dão nascimento,construir redes de transformação,espaços e dinâmicas nas quais as pessoas possam se ajudar ,se puxar,se impulsionar.
Descobrir a ilusão da felicidade alheia já reduz algum sofrimento.E,abre um desafio: se não há festa,quais festas podemos começar a construir?