terça-feira, 30 de setembro de 2014

" Gestão Desabonadora "




FOLHA DE SP - 30/09


Governo Dilma insiste em lidar com as contas públicas por meio de truques contábeis e previsões orçamentárias irrealistas

Têm sido recorrentes os exemplos de má gestão no governo Dilma Rousseff (PT), pródigo em truques de contabilidade para fechar as contas públicas e irrealista em excesso nas previsões que faz para elaborar o Orçamento.

Tomem-se as receitas. Com o arrefecimento da atividade econômica, a arrecadação estagnou, ficando longe, em 2014, do crescimento superestimado pelo Planalto. Em 2015, tudo leva a crer que o cenário pífio se repita, mas o governo, ao montar suas planilhas, mais uma vez supõe um aumento.

Ao ignorar princípios de prudência que deveriam pautar seus cálculos, a atual administração não se limita a inspirar descrédito, com suas consequências deletérias para o custo da dívida pública. A atitude temerária também estimula a própria máquina a inventar manobras contábeis com o fim de disfarçar a insuficiência de recursos.

No episódio mais recente, a gestão Dilma cortou quase pela metade (de R$ 18,9 bilhões para R$ 10,1 bilhões) a programação de gastos para 2015 com o abono salarial do PIS/Pasep --benefício pago a cerca de 20 milhões de trabalhadores com carteira assinada que receberam, em média, até dois salários mínimos mensais no ano anterior.

Iniciativas dessa natureza ainda têm algo de espantoso, pois nem ludibriam observadores da economia nem livram o país de sofrer os efeitos reais, e negativos, dessa gestão imprudente.

O governo da presidente Dilma Rousseff mesmo assim recorre sem cessar a parcelamentos de dívidas tributárias, com a intenção de compensar, com receitas atípicas e incertas, os rombos deixados pela falta de entradas regulares.

Cria despesas que não são discutidas no Orçamento, como as injeções de dinheiro no BNDES, financiadas por aumento de dívida pública. Tais empréstimos ao banco estatal, aliás, foram renegociados com base em prazos e juros ainda mais subsidiados --trata-se, portanto, de maquiagem das dificuldades presentes à custa do futuro.

Recorreu-se até à prática perigosíssima de atrasar repasses à Caixa Econômica Federal de fundos destinados ao pagamento de benefícios sociais. Assim, o banco federal paga, com recursos próprios, os compromissos do Tesouro e espera receber o repasse devido.

Em suma, esta administração desmoraliza as instituições desenvolvidas penosa e lentamente com o objetivo republicano de tornar transparentes as contas públicas e colocá-las sob controle, sujeitas ao escrutínio público.

Como se já não fosse em si bastante, contribui com isso para a deterioração objetiva da economia e para o aumento da incerteza a respeito do futuro do país.

" Dilma e a diplomacia petista " Editorial O Estadão "



O ESTADO DE S.PAULO - 30/09



O vexame que a presidente Dilma Rousseff fez o País passar perante uma audiência mundial, ao utilizar a tribuna da ONU para fazer campanha eleitoral, não resultou apenas de reles cálculo marqueteiro. É a consequência natural de uma visão distorcida do que vem a ser o interesse nacional, deliberadamente confundido com o interesse do partido ao qual Dilma pertence. Logo, ao defender na ONU as supostas realizações da era lulopetista, como se elas qualificassem o Brasil no cenário internacional, Dilma sacramentou a diplomacia partidária que vem carcomendo a credibilidade brasileira. Essa crença de que a política externa do País não pode ser "apenas uma política de Estado" foi reafirmada pela presidente, com essas exatas palavras, em entrevista à revista Política Externa, a propósito de seus planos para as relações exteriores, caso seja reeleita.


Na conversa, Dilma afirmou que "aprisionar a política externa em um só modelo" - isto é, a diplomacia de Estado, e não de partido - "denota uma atitude conservadora por parte dos que não querem mudar nada". Para ela, as estratégias diplomáticas são, "antes de tudo", uma "escolha da sociedade, que se faz periodicamente por meio de eleições". Com isso, a presidente reafirma, com a maior clareza possível, que a política externa legítima é aquela ditada pelo partido vencedor das eleições - e os que a isso se opõem são desde logo "conservadores" que "não querem mudar nada".


É evidente que o partido legitimado pelas urnas pode e deve implementar seu programa nos diversos aspectos da administração pública, aí incluída a atuação internacional. No entanto, isso é muito diferente de obrigar a diplomacia brasileira a atuar como braço do PT, alinhando o Brasil a países párias e a ditaduras, somente porque estes compartilham da ideologia companheira, e amarrando o País a compromissos que o impedem de fazer acordos comerciais que o tornariam mais competitivo no mercado internacional. A julgar pelo entusiasmo com que Dilma defendeu esse modelo na entrevista, no entanto, pode-se esperar que ele seja até mesmo aprofundado no eventual segundo mandato.

Indiferente à realidade, em autêntico estado de negação, Dilma disse que as "novas prioridades da política externa brasileira produziram resultados extraordinários" - orgulhando-se do desastroso desempenho comercial de seu mandato, que recentemente obrigou o governo a incluir a exportação fictícia de plataformas de petróleo para ajudar a conta a fechar no azul. Na construção da triunfante narrativa petista, Dilma diz que essa performance "extraordinária" não se deve apenas à demanda internacional por commodities, "mas fundamentalmente porque o Brasil, com sua nova política externa, adaptou-se bem às profundas mudanças que ocorreram, e ainda ocorrem, na geoeconomia e na geopolítica mundiais".

Tal "adaptação" resumiu-se ao aprofundamento das chamadas relações "Sul-Sul" - política que justifica a prioridade dada a parceiros que ou têm pouca relevância ou demonstram escasso apreço à democracia. Essa estratégia representou ganhos pífios para o Brasil, mas alimentou o discurso petista contra os países ricos. Assim, para Dilma, o "resultado mais expressivo" dessa diplomacia foi o "claro e substancial aumento do nosso protagonismo mundial".

A despeito dessa megalomania companheira, no entanto, Dilma dá pouca ou nenhuma importância para a diplomacia formal, e o maior exemplo disso é o contínuo sucateamento do Itamaraty. São abundantes as reclamações de diplomatas a respeito das restrições orçamentárias - causadas em parte pelo fracasso da estabanada política de multiplicação de representações diplomáticas promovida pelo governo Lula.

Além disso, enquanto reivindica para o Brasil um lugar entre os protagonistas globais, Dilma descuida dos rituais mais elementares das relações internacionais. Só isso explica o chá de cadeira que a presidente está dando a 28 embaixadores estrangeiros que estão há meses esperando que ela os receba para lhe apresentar suas credenciais, formalidade necessária para que eles sejam reconhecidos oficialmente como representantes de seus países.

" Quem é o antipetista ? " por Merval Pereira



O GLOBO - 30/09
A disputa pelo voto antipetista é o que opõe nesta reta final a candidatura de Aécio Neves, do PSDB, à de Marina Silva, do PSB. O raciocínio que prevalece hoje no PSDB é francamente contrário a um acordo formal com Marina num eventual segundo turno. À medida que cresce a percepção entre os assessores de Aécio Neves de que é possível ir ao segundo turno passando por cima de Marina, o que tem que necessariamente ser confirmado pelas pesquisas Ibope e Datafolha que serão divulgadas hoje, aumenta também a visão crítica sobre a relação entre os dois partidos.


Afinal, raciocinam, não é justo cobrar do PSDB uma frente de oposição no primeiro turno para apoiar uma candidata que não apoiou o PSDB no segundo turno na eleição passada. Além do mais, Marina não teria feito nenhum sinal até o momento para uma aproximação, e Walter Feldman, que supostamente será o articulador político de um futuro governo, diz que o PSDB tende a acabar.

Há uma espécie de orgulho na campanha tu-cana pelo "mérito", não "culpa", de terem feito um estrago na candidatura de Marina, revelando sua raiz petista - que, nessa visão da campanha de Aécio, não representaria uma mudança verdadeira de cenário.

O resultado prático na contabilidade dos tucanos foi inviabilizar o voto útil em Marina no primeiro turno. Por que votar útil por Marina se ela já está perdendo no segundo turno para Dil-ma e dá mostras de fraqueza? Marina já deixou de ser "uma causa", virou uma candidata, o que seria meio caminho para ser superada nesta reta final.

Boa parte do voto antipetista ainda está com Marina em São Paulo e Minas, e o esforço do primeiro turno é recuperá-lo para chegar nos últimos dias em empate técnico com a candidata do PSB. Nas simulações de segundo turno, já ganham de 70% a 80% dos votos de Marina, dizem os analistas da campanha tu cana.

A campanha em Minas tem um subproduto especial, a tentativa de reverter o quadro em que o petista Fernando Pimentel supera o tucano Pimenta da Veiga. O objetivo inicial é impedir que, lá, a eleição termine no primeiro turno. Se Aécio Neves conseguir reverter a questão nacional indo para o segundo turno contra Dilma, a disputa em Minas ganhará uma dimensão distinta.

Caso apenas em Minas seja possível evitar a derrota no primeiro turno, o grupo político de Aécio Neves se dedicará integralmente à campanha estadual, para garantir seu reduto eleitoral. Hoje, o candidato petista tem, segundo o Datafolha,

51% dos votos válidos, o que o coloca no limite da vitória no primeiro turno.

Há, porém, histórias famosas em Minas sobre reviravoltas em eleição, a mais recente delas com Hélio Costa em 1994, quando terminou o primeiro turno à frente, com 49% dos votos, e perdeu no segundo turno para Eduardo Azeredo. Na eleição anterior, Costa já havia perdido para Hélio Garcia por 1% dos votos no 2? turno.

Superar Dilma e Marina em São Paulo e em Minas seria o primeiro passo para uma recuperação nacional, que viria em conseqüência. Num segundo turno, a tentativa será fazer a maior diferença possível nos dois estados, conforme o planejamento inicial, para reduzir a diferença no Norte e no Nordeste. O problema é que, em ambos os estados, a presidente Dilma está tendo uma performance muito boa, e a recíproca não é verdadeira para Aécio no Norte e no Nordeste do país.

As pesquisas divulgadas ontem, da CNT/MDA e do Vox Populi, mostram a presidente Dilma com 40% dos votos, a mesma pontuação que a pesquisa anterior do Datafolha, mas diferem em relação a Marina. Na CNT/MDA, a candidata do PSB caiu 2 pontos, e Aécio subiu os mesmo dois, o que representaria as curvas ascendente do tucano e descendente de Marina. Já o Vox Populi mostra Marina subindo dois pontos e Aécio subindo um, o que demonstraria que dificilmente o tucano teria condições de superar Marina até o próximo domingo.

" A Lista dos Perigos " por Arnaldo Jabor




O ESTADÃO - 30/09




O que acontecerá com o Brasil se a Dilma for eleita?

Aqui vai a lista:

A catástrofe anunciada vai chegar pelo desejo teimoso de governar um país capitalista com métodos "socialistas". Os "meios" errados nos levarão a "fins" errados. Como não haverá outra "reeleição", o PT no governo vai adotar medidas bolivarianas tropicais, na "linha justa" da Venezuela, Argentina e outros.

Dilma já diz que vai controlar a mídia, economicamente, como faz a Cristina na Argentina. Quando o programa do PT diz: "Combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento", leia-se, como um velho petista deixou escapar: "Eliminar o esterco da cultura internacional e a 'irresponsabilidade' da mídia conservadora". Poderão, enfim, pôr em prática a velha frase de Stalin: "As ideias são mais poderosas do que as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, porque deveríamos permitir que tenham ideias?".

As agências reguladoras serão mais esvaziadas do que já foram, para o governo PT ter mais controle sobre a vida do País. Também para "controlar", serão criados os "conselhos" de consulta direta à população, disfarce de "sovietes" como na Rússia de Stalin.

O inútil Mercosul continuará dominado pela ideologia bolivariana e "cristiniana". Continuaremos a evitar acordos bilaterais, a não ser com países irrelevantes (do "terceiro mundo") como tarefa para o emasculado Itamaraty, hoje controlado pelo assessor internacional de Dilma, Marco Aurélio Garcia. Ou seja, continuaremos a ser um "anão diplomático" irrelevante, como muito acertadamente nos apelidou o Ministério do Exterior de Israel.

Continuaremos a "defender" o Estado Islâmico e outros terroristas do "terceiro mundo", porque afinal eles são contra os Estados Unidos, "inimigo principal" dos bolcheviques que amavam o Bush e tratam o grande Obama como um "neguinho pernóstico".

Os governos estaduais de oposição serão boicotados sistematicamente, receberão poucas verbas, como aconteceu em S. Paulo.

Junto ao "patrimonialismo de Estado", os velhos caciques do "patrimonialismo privado" ficarão babando de felicidade, como Sarney, Renan "et caterva" voltarão de mãos dadas com Dilma e sua turminha de brizolistas e bolcheviques.

Os gastos públicos jamais serão cortados, e aumentarão muito, como já formulou a presidenta.
O Banco Central vai virar um tamborete usado pela Dilma, como ela também já declarou: "Como deixar independente o BC?".

A Inflação vai continuar crescendo, pois eles não ligam para a "inflação neoliberal".

Quanto aos crimes de corrupção e até a morte de Celso Daniel serão ignorados, pois, como afirma o PT, são "meias-verdades e mentiras, sobre supostos crimes sem comprovação...".

Em vez de necessárias privatizações ou "concessões", a tendência é de reestatização do que puderem. A sociedade e os empresários que constroem o País continuarão a ser olhados como suspeitos.

Manipularão as contas públicas com o descaro de "revolucionários" - em 2015, as contas vão explodir. Mas ela vai nomear outro "pau-mandado" como o Mantega. Aguardem.

Nenhuma reforma será feita no Estado infestado de petistas, que criarão normas e macetes para continuar nas boquinhas para sempre.

A reforma da Previdência não existirá, pois, segundo o PT, "ela não é necessária, pois exageram muito sobre sua crise", não havendo nenhum "rombo" no orçamento. Só de 52 bilhões.

A Lei de Responsabilidade Fiscal será desmoralizada por medidas atenuantes - prefeitos e governadores têm direito de gastar mais do que arrecadam, porque a corrupção não pode ficar à mercê de regras da época "neoliberal". Da reforma política e tributária ninguém cogita.

Nossa maior doença - o Estado canceroso - será ignorada e terá uma recaída talvez fatal; mas, se voltar a inflação, tudo bem, pois, segundo eles, isso não é um grande problema na política de "desenvolvimento".

Certas leis "chatas" serão ignoradas, como a lei que proíbe reforma agrária em terras invadidas ilegalmente, que já foi esquecida de propósito.

Aliás, a evidente tolerância com os ataques do MST (o Stedile já declarou que se Dilma não vencer, "vamos fazer uma guerra") mostra que, além de financiá-los, este governo quer mantê-los unidos e fiéis, como uma espécie de "guarda pretoriana", como a guarda revolucionária dos "aiatolás" do Irã.
A arrogância e cobiça do PT aumentarão. As 30 mil boquinhas de "militantes" dentro do Estado vão crescer, pois consideram a vitória uma "tomada de poder". Se Dilma for eleita, teremos um governo de vingança contra a oposição, que ousou contestá-la. Haverá o triunfo "existencial" dos comunas livres para agir e, como eles não sabem fazer nada, tudo farão para avacalhar o sistema capitalista no País, em nome de uma revolução imaginária. As bestas ficarão inteligentes, os incompetentes ficarão mais autoconfiantes na fabricação de desastres. Os corruptos da Petrobrás, do próprio TCU, das inúmeras ONGs falsas vão comemorar. Ninguém será punido - Joaquim Barbosa foi uma nuvem passageira.

Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não é Fla x Flu. Não. O grave é que tramam uma mutação dentro do Estado democrático. Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica.

E, claro, eles têm seus exércitos de eleitores: os homens e as mulheres pobres do País que não puderam estudar, que não leem jornais, que não sabem nada. Parafraseando alguém (Stalin ou Hitler?) - "que sorte para os ditadores (ou populistas) que os homens não pensem".

Toda sua propaganda até agora se acomodou à compreensão dos menos inteligentes: "Quanto maior a mentira, maior é a chance de ela ser acreditada" - esta é do velho nazista.
O programa do PT é um plano de guerra. Essa gente não larga o osso. Eles odeiam a democracia e se consideram os "sujeitos", os agentes heroicos da História. Nós somos, como eles falam, a "massa atrasada".

É isso aí. Tenho vontade de registrar este texto em cartório, para depois mostrar aos eleitores da Dilma. Se ela for eleita.

" Mato sem cachorro " por Eliane Cantanhêde




FOLHA DE SP - 30/09

BRASÍLIA

A campanha do PSDB anda animada com os ventos de última hora em grandes redutos eleitorais, mas Aécio Neves está num mato sem cachorro. Se correr, o bicho pode pegar; se ficar, o bicho pode comer.

A boa notícia para o tucano no Datafolha é que ele cresceu seis pontos em São Paulo, por exemplo, e no geral está só nove pontos atrás de Marina Silva, a segunda colocada. A má notícia é que faltam poucos dias e o grande risco de Aécio, ao bater em Marina, é favorecer Dilma, não ele próprio.

A única chance de Aécio chegar ao segundo turno é atacar as fragilidades de Marina. Mas, se ele não calibrar bem os ataques, pode obter o efeito inverso ao que gostaria: a vitória de Dilma já no primeiro turno.

Depende de uma combinação de dados: o quanto Marina cair e o quanto ele subir. Aécio precisa bater, mas não pode bater muito. Tem de ser o suficiente para enfraquecer Marina e herdar os seus votos, não a ponto de enfraquecê-la demais e transferir pontos diretos dela para Dilma.

Uma operação delicada, ainda mais se Dilma tem todas as condições e vantagens. Quanto mais brotam notícias ruins da economia e quanto mais se sabe que ela não cumpriu as promessas de 2010, mais ela cresce. O que se discute não é o crescimento pífio, as contas públicas, o desequilíbrio externo. É se Marina é a candidata dos banqueiros. Raia o ridículo.

Isso comprova que as versões e o marketing valem mais do que os fatos e a realidade. São eles que determinam os rumos das eleições. E, além de todos os seus trunfos objetivos, Dilma conta com a oposição dividida, competindo entre si, atarantada, para fazer o jogo dela.

Aécio precisa medir adequadamente os ataques no primeiro turno. E PSDB, PSB, Rede, DEM e PPS não podem explodir pontes para uma rearticulação de forças no segundo. Senão, ficará cada vez mais difícil enfrentar o rolo compressor do governo e do PT. Apesar de tudo e de todo o grande desgaste, aparentemente irreversível, do partido.

" Coincidências " por José Casado




O GLOBO - 30/09



Dilma propôs lei contra caixa 2 — o que existe há 28 anos —, na semana em que caciques do PT foram acusados de pedir dinheiro para campanha aos operadores de maracutaias petroleiras




Quarta-feira passada em Nova York, a presidente da República usou a Assembleia Geral da ONU para exaltar, entre outras coisas, o “combate à corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros” no seu governo.

Nos dias seguintes, a candidata Dilma Rousseff propagou a mais nova promessa do seu sigiloso programa de governo: um “pacote” de medidas anticorrupção, com lei específica “para transformar em crime a prática de caixa 2”. No domingo repetiu a oferta, inscrita num caderno a que recorreu durante todo o debate na Rede Record.


Eleição tem dessas coisas. Candidatos desafiam a imaginação dos eleitores com todo tipo de promessa — de pontes onde não existem rios até ferrovias sem trens. Em maio, por exemplo, Dilma inaugurou trecho da Transnordestina, cujos trilhos continuam sem tráfego ferroviário. A linha havia sido inaugurada duas vezes por Lula na campanha para eleger Dilma em 2010.


Desta vez, a presidente-candidata inovou. Ao prometer “transformar em crime a prática de caixa 2”, anunciou a intenção de fazer algo que existe há mais de 28 anos.

Está na lei 7.492, entre as definições de crimes contra o sistema financeiro nacional. Em 23 palavras o artigo 11 sentencia de forma cristalina sobre recursos financeiros “não contabilizados”, o popular caixa 2: “Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida pela legislação: Pena — Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.”


O texto pode ser consultado na página da Casa Civil da Presidência (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l7492.htm). Se Dilma quiser, pode telefonar ao ex-presidente José Sarney, que sancionou a lei na segunda-feira 16 de junho de 1986. Caso persista na dúvida, deveria resgatar o voto da ministra Cármen Lúcia na sessão de terça-feira 9 de outubro de 2012 do Supremo Tribunal Federal.


Ela julgava caciques do Partido dos Trabalhadores acusados no mensalão. A defesa do tesoureiro do PT Delúbio Soares alegou que o dinheiro era “caixa 2, de campanha”. A ministra, que na época também presidia o Tribunal Superior Eleitoral, respondeu incisiva: “Me causou especial atenção a circunstância de que a defesa, quer na defesa escrita, quer na apresentação na tribuna desta Casa, afirmou o ilícito. E que o dinheiro arrecadado não tinha sido comprovado (...) Acho estranho e muito, muito grave, que alguém diga, ‘houve caixa 2’. Caixa 2 é crime! É agressão contra sociedade brasileira!”

O desfecho do caso é conhecido. Não se conhecem as razões pelas quais Dilma decidiu reintroduzir o mensalão e a puída tese do caixa 2 na reta final do primeiro turno.

Pode ter sido ato impensado no calor da peleja por uma nobre causa — autopreservação. Afinal, há 28 semanas seguidas seu governo vive sobressaltado por revelações sobre traficâncias na Petrobras, estatal que ela tentou controlar nos últimos 12 anos.


Ainda assim, é difícil compreender a essência da evocação do crime de caixa 2. Sobretudo, pela ocasião: Dilma se propôs a fazer uma lei que existe há mais de 28 anos na mesma semana em que caciques do PT foram acusados de pedir dinheiro para sua campanha presidencial (2010) aos operadores de maracutaias petroleiras.

           Só pode ser mera coincidência.

Brasil em Recessão,por Reinaldo Azevedo

Brasil em recessão: o país à espera de Godot. Será que ele usa xale e colares indígenas?

O Brasil está em recessão técnica. Segundo o IBGE — que não é o PSDB, que não é Aécio Neves, viu, presidente Dilma? —, o PIB do segundo trimestre encolheu 0,6%. Como o Produto Interno Bruto revisado do primeiro trimestre havia caído 0,2%, então se tem esta chancela: recessão técnica. Por que esse nome? Porque, neste exato momento, o país já pode ter saído da recessão e voltado a crescer, mas o encolhimento da economia foi óbvio. Ainda que esteja aí a retomada da expansão, ela recomeça de um patamar, evidentemente, mesquinho.

E o que diz Guido Mantega, ministro da Fazenda? Segundo ele, trata-se de mero efeito estatístico, como se os números não estivessem assentados em dados da economia real. Parece piada! Nesta quinta, ele saiu atirando contra Armínio Fraga, que será ministro da Fazenda de Aécio caso o tucano seja eleito presidente. Mantega o desqualificou de modo bronco, afirmando que, sob o comando de Armínio, a economia poderia entrar em… recessão! Parece piada, não? Ele e Dilma, afinal, produziram o quê? Ocorre que, junto com a retração da economia, temos a paralisação dos investimentos, o descontrole dos gastos, inflação alta e juros estratosféricos.
O país está parado. Como na extraordinária peça de Samuel Beckett — e aqui vai o meu abraço saudoso para o meu querido amigo Gerald Thomas, seu grande intérprete —, estamos “esperando Godot”. Ou, então, como no maravilhoso poema do grego Constantino Kaváfis, somos os romanos do fim do império, à espera dos bárbaros. Boa parte do país está na expectativa de este governo passe logo: com sua incompetência, com sua truculência, com sua inexperiência.

Inexperiência? É disso que se trata. Mantega e Dilma atribuem as dificuldades econômicas e a paralisia do Brasil ao cenário internacional. Mas, por acaso, esse cenário é diferente para os demais países da América Latina? Quem enfrenta severas dificuldades hoje na região? Curiosamente, Venezuela, Argentina e Brasil: uma ditadura, um regime aloprado e nós. A culpa não está nos outros. Está aqui dentro mesmo.
O país paga o preço de o governo de turno ter fechado os olhos e os ouvidos aos muitos chamados da realidade. A recessão técnica em que entrou a economia, o crescimento ridículo deste ano e a expansão mixuruca prevista para o ano que vem decorrem da inexperiência de Dilma Rousseff.

Na peça de Beckett, Godot é uma resposta que viria para tirar as pessoas da paralisia, de sua vida mesquinha. Só que ele não vem. Não dá as caras. Não se sabe quem ou o que é Godot. Somos mais carnavalizados e esperançosos do que o gigantesco Beckett. Por aqui, há quem ache que Godot — a grande saída — costuma usar xales nos ombros e exibir colares com sotaque indígena, além de ser hábil na glossolalia da natureza.
Será mesmo?

É a inexperiência de Dilma que conduziu o país à recessão. O Brasil tem de se perguntar: quem virá em seu lugar? O nosso Godot pode se dar ao luxo de nem mesmo saber fazer contas?

Um país à beira do precipício - RODRIGO CONSTANTINO



O GLOBO - 30/09


Já estamos em recessão, apesar de uma inflação bastante elevada. Não obstante, Dilma ainda é a líder nas pesquisas. Como?



Como ainda ter esperanças no eterno “país do futuro” quando vemos que a presidente Dilma, depois dos novos escândalos da Petrobras, continua como favorita na corrida eleitoral? Não só isso: a delação premiada do importante ex-diretor Paulo Roberto Costa, chamado de “Paulinho” por Lula, não fez um único arranhão na candidatura da presidente. É um espanto!



Quando estourou o escândalo do mensalão em 2005, muitos acharam que era o fim de Lula e do PT. Os tucanos julgaram melhor deixá-lo sangrando até as eleições em vez de partir para um pedido legítimo de impeachment. Lula foi reeleito. A economia ia bem, graças principalmente ao crescimento chinês.



Em 2010, Lula decidiu iluminar seu “poste”, e Dilma, sem jamais ter vencido uma eleição na vida, foi alçada diretamente ao posto máximo de nossa política. Havia vários escândalos de corrupção divulgados pela imprensa, mas nada disso adiantou. A economia estava “bombando”, no auge da euforia com o Brasil. E, como sabemos, é a economia que importa, certo?



Mas o que dizer de 2014, então? Os escândalos só aumentaram, a imagem de “faxineira ética” virou piada de mau gosto, e até a economia mudou o curso, derrubando o mito de “gerentona eficiente”. Já estamos em recessão, apesar de uma inflação bastante elevada. Não obstante, Dilma ainda é a líder nas pesquisas. Como?



É inevitável concluir que o povo brasileiro ou é extremamente alienado, ou não dá a mínima para a roubalheira. Quem aplaude o atual governo ou não sabe o que está acontecendo, ou está ganhando dinheiro com o que está acontecendo. O PT conseguiu banalizar a corrupção. Muitos repetem por aí que todos os partidos são corruptos mesmo, então tanto faz: ao menos o PT ajudou os mais pobres. Vivem em Marte?

Esses que adotam tal discurso são coniventes com o butim, são cúmplices dos infindáveis esquemas de desvio de recursos públicos. Querem apenas preservar sua parcela na pilhagem. E isso vai desde os mais pobres e ignorantes, que dependem de esmolas, até os funcionários públicos, os artistas engajados que mamam nas tetas estatais, os empresários que vivem de subsídios do governo.

Desde que a máfia respingue algum em suas contas bancárias, tudo bem: faz-se vista grossa aos “malfeitos”. Uma campanha sórdida, de baixo nível, mentirosa como nunca antes na história deste país se viu, difamando, apelando para um sensacionalismo grosseiro, nada disso parece incomodar uma grande parcela do eleitorado. Ao contrário: a tática pérfida surtiu efeito e Dilma subiu, enquanto Marina Silva caiu. A falsidade compensa.

Vários chegaram a apontar a vantagem de Argentina e Venezuela terem mergulhado no caos com o bolivarianismo, pois ao menos a desgraça alheia serviria de alerta aos brasileiros. Afinal, o PT vive elogiando tais regimes e os trata como companheiros próximos, aliados ideológicos. Ledo engano. Nem mesmo a tragédia de ambos os países despertou o povo brasileiro de sua sonolência profunda.

O brasileiro é como aquele urso polar que passa meses hibernando. A ignorância é uma bênção, dizem, mas só se for para os corruptos populistas. E pensar que uma turma chegou a se empolgar com as manifestações de junho de 2013, quando o gigante supostamente havia acordado. Só se for para pedir mais Estado, mais do veneno que assola nossa nação. O gigante é um bobalhão...

Não pensem que culpo apenas ou principalmente o “povão”, os mais pobres e ignorantes que, sem dúvida, compõem a maioria do eleitorado petista. Não! Nossa elite também é culpada. Nossos “formadores de opinião” ajudaram muito a trazer o Brasil até esse precipício, sempre enaltecendo o metalúrgico de origem humilde ou a primeira mulher “presidenta”.

Ou então delegando ao Estado a capacidade de solucionar todos os nossos males, muitos deles criados pelo próprio excesso de intervenção estatal. Temos uma elite culpada, que adora odiar o capitalismo enquanto usufrui de todas as benesses que só o capitalismo pode oferecer.

Com uma elite dessas, realmente não precisamos de inimigos externos ou de desgraças naturais. O que é a ameaça islâmica ou um simples furacão perto do estrago causado por uma mentalidade tão equivocada assim por parte daqueles que deveriam liderar a nação? Nossa elite idolatra o fracasso.

Roberto Campos foi certeiro ao constatar que, no Brasil, a burrice tem um passado glorioso e um futuro promissor. Quer maior prova disso do que todos esses anos de PT no poder? Mas parece que ainda não foi o suficiente. O brasileiro quer mais! Quer dar um passo adiante nesse precipício...

" Candidatos,Partidos,Retórica e Prática "

Artigo Zero Hora

ARI RIBOLDI
Professor e escritor
 
 " Política não é retórica.É a arte e a capacidade de Governar "!
Estará o eleitorado brasileiro maduro o suficiente para perceber o vazio retórico e não ser manipulado pelo discurso inflamado e emotivo dos candidatos? 

As palavras eloquentes impressionam, arrebatam e atraem, principalmente a população menos escolarizada, exposta, assim, às armadilhas da retórica.

 Os candidatos, com o receio das futuras cobranças, evitam compromissos rígidos demais. No entanto, tiveram que incorporar aos seus discursos as manifestações das ruas de junho e julho do ano passado, quando o povo levantou ruidosamente as bandeiras das mudanças na política, nos serviços prestados na saúde, na mobilidade urbana, na educação, na segurança. 

Em função disso, o eleitor deve dedicar maior atenção à fala dos candidatos. Eles têm obrigação de detalhar quando e como farão o que prometem, quantos recursos são necessários e de onde virão.

Ninguém mais pode ser enganado pela retórica eivada de armadilhas de linguagem, de circunlóquios e eufemismos e por expressões que amenizam o impacto das palavras, como se isso tivesse a capacidade de mascarar ou apagar o impacto da realidade adversa ou ampliar o efeito do que é favorável ao político. Desconforto hídrico equivale, de forma nua e crua, a racionamento de água. 

É um exemplo para ilustrar uma armadilha de linguagem na tentativa de mascarar os fatos. A realidade, no entanto, não muda só porque foi empregada linguagem mais suave.

Quem acompanha os pronunciamentos dos candidatos e os programas do horário político eleitoral constata que proliferam termos como mudança, esperança, renovação, conquistas, continuidade. 

Palavras agradáveis aos ouvidos, porém vazias, sem conteúdo, pois são generalizantes. Carecem de compromisso claro, de projetos, de plano de ação, de programas de curto, médio e longo prazos. 

Política não é retórica. É a arte e a capacidade de governar, de estabelecer prioridades. Para tanto, procura-se um partido com programa e coerência. Um partido cujos candidatos subam nos mesmos palanques em Brasília, nos Estados e nos municípios. Procura-se um partido que tome partido, que não fique em cima do muro. Que tenha a coragem de assumir posição. 

Enfim, um partido que não seja partido internamente, mas que tenha parte, que tenha posição, que tenha discurso e também prática.

" A Responsabilidade dos Eleitos " * Artigo Zero hora


HEITOR JOSÉ MÜLLER
Presidente da Fiergs
              " Não é mais possível que cada político pense apenas no período do seu mandato "! 

Muito se ouve e se lê sobre a responsabilidade dos eleitores que, no próximo domingo, irão às urnas em todo o Brasil para fazer as suas escolhas. Porém, pouco se diz a respeito dos deveres e responsabilidades comuns a todos os que forem eleitos.

A nova formação dos governos e Legislativos certamente impõe mais do que os requisitos básicos da honestidade e dedicação ao bem comum.

A expectativa está no fato de que a sociedade demanda e merece a coragem dos eleitos de realizarem as reformas e ajustes de que o país e o Rio Grande do Sul precisam com urgência.

O baixo crescimento da economia brasileira leva ao desafio de que o governo federal faça já em 2015 as correções de rota imprescindíveis, como apontam as propostas elaboradas pelas federações e encaminhadas aos presidenciáveis pela Confederação Nacional da Indústria.

A clarificação da legislação trabalhista e dos complexos regulamentos impostos aos contribuintes, que hoje oneram a competitividade da economia brasileira, bem como extinguir o alto custo da burocracia nacional, são questões que exigem soluções urgentes.

No Rio Grande do Sul, assumir um Executivo endividado e deficitário requer atitude e coragem para reordenar a governança, e não cair no simplismo de colocar o lixo embaixo do tapete. 

Há, por resultado direto, a carência de investimentos na infraestrutura, o que aumenta o “Custo RS”, impactado por decisões anacrônicas como o piso salarial regional. 

As soluções estão no acervo da Agenda 2020, trabalho pioneiro do qual a Fiergs participa desde o começo.
A responsabilidade dos eleitos situa-se também na visão de que não é mais possível que cada político pense apenas no período do seu mandato. O que a sociedade espera é a conduta de estadista pelos que ocuparem os cargos públicos, sem exceção. 

Estadista é aquele que considera e decide em função do que vai ocorrer no longo prazo, ou seja, em vez de trabalhar apenas no seu mandato e em uma possível reeleição, assume o compromisso de zelar pelas próximas gerações. 

Somente assim a sociedade terá dos eleitos as respostas que efetivamente merece.

" Duplo Abandono " Editorial Zero Hora


Há indícios de que a burocracia não é a única responsável pela crueldade cometida contra crianças e adolescentes que deveriam estar _ mas não estavam _ na fila de espera de adoções em Porto Alegre. É inaceitável que falhas numa formalidade tenham tirado essa chance de dezenas de meninos e meninas. Um levantamento do Ministério Público constatou que pelo menos 10% das crianças acolhidas por abrigos de Porto Alegre não tinham seus nomes no Cadastro Nacional de Adoção. São 128 abrigados que certamente se sentiam confortados com a perspectiva de um dia terem uma casa.


O Ministério Público, que investiga as causas e as consequências da negligência, tem a missão de identificar os responsáveis pelo erro, não só para que respondam por seus atos, mas para que o erro não se repita. Há, entre as causas da falta de registro, a suspeita de que muitas crianças não teriam o perfil médio exigido por casais que se candidatam a adotar. A desculpa seria a de que de nada adiantaria inscrevê-las no cadastro, pois havia crianças com algum tipo de deficiência. 

É constrangedor, com a evolução de costumes e de conceitos em relação a adoções e ao que seja, afinal, uma família, que tais atitudes ainda prosperem. O mais lamentável é que posturas desse tipo estejam a orientar decisões excludentes, como essa que tira de uma fila crianças e adolescentes considerados “fora dos padrões”.


O preconceito não se sustenta, se levados em conta até mesmo os perfis de quem pretende adotar. É ultrapassada a visão segundo a qual a grande maioria dos casais deseja ter apenas crianças brancas. Também está superada a ideia _  e o próprio conceito _ de que todos devem ser saudáveis física e mentalmente. Ao contrário, repetem-se os casos de famílias que adotam crianças com deficiências e a elas se dedicam incondicionalmente. Configuram-se nesse casos um dos mais nobres gestos da adoção.

A pior consequência do erro é que crianças e adolescentes sofrem duplo abandono. Primeiro, ao não contarem com a família biológica e, depois, ao ficarem de fora da fila. Muitos chegam à idade adulta sem a chance de passar pelo processo formal que poderia levá-las a uma família adotiva. Os órgãos que falharam precisam ser identificados, até para que os prejudicados tenham direito a alguma forma de reparação.

" A Ofensiva Do Crime " Editorial ZH


0
140930princter_web
Os atentados registrados nos últimos dias colocam novamente o Estado de Santa Catarina em alerta. Depois dos fatos ocorridos em 2012 e em 2013, quando facções criminosas comandadas de dentro dos presídios orquestraram os crimes e levaram insegurança à população, a nova onda de ataques exige uma reação à altura por parte dos organismos de segurança. 

A rápida mobilização estatal, que reuniu a cúpula da segurança pública na sala de situação da Polícia Militar logo após os primeiros casos, é um indicativo importante de que o Estado está ciente da necessidade de uma ação enérgica, efetiva e absolutamente permanente para estancar de imediato qualquer ofensiva intimidatória do crime organizado.

Investigações preliminares, amparadas pelo trabalho dos setores de inteligência, apontam para ataques a mando da facção do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), que estaria novamente em ação por vingança a mortes de criminosos em confrontos com a polícia.

 Também não está descartado que os episódios estejam relacionados com uma guerra de forças entre integrantes do PGC e do Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, pelo controle de negócios ilícitos, inclusive o tráfico de drogas em Santa Catarina.
 Mais um motivo para que sejam enfrentadas questões como superlotação de presídios. E, ao mesmo tempo, para que o aparato estatal reforce não só a força-tarefa atual, mas tenha instrumentos cada vez mais eficientes, como os ligados a serviços de inteligência, para afastar a possibilidade de repetição das ocorrências. Afinal, os delinquentes agem contando com a omissão e a falta de ações preventivas por parte do poder público.

Assim como costuma ocorrer em outros pontos do país, hoje o alvo são os catarinenses, mas esse tipo de ação encontra caminho fácil para se transferir para outros Estados. 

Por isso, de imediato, é importante identificar as origens e as razões dos atentados, para que haja condições de puni-los de imediato. Mas é preciso acima de tudo que episódios desse tipo impliquem uma ofensiva de impacto equivalente à dos criminosos por parte das autoridades, até essas facções serem realmente desmanteladas.

Criminosos que atacam populações indefesas, incendiando ônibus e desafiando policiais, precisam ser enfrentados com rapidez e rigor. Nessa guerra, quem precisa vencer são a sociedade e as instituições destinadas a defendê-la.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

" O Debate que não houve "

Artigo ZH



Poucos dias nos separam da eleição presidencial e três são os candidatos possíveis de serem eleitos. Contudo, até agora não ouvi uma voz a respeito da eleição e dos que a ela concorrem, seus atributos, merecimentos ou deficiências, enfim de suas credenciais, como se fosse irrelevante a escolha do primeiro e maior de seus condutores, pelo menos dos que detêm em suas mãos a maior soma de poderes públicos durante certo tempo; nem é por acaso ser denominado de primeiro magistrado do país e simultaneamente chefe do Estado e da nação, quando na maioria dos Estados são distintas umas das outras as atribuições, bem como seus titulares; por motivos semelhantes, também se diz do presidente ser um ditador por tempo certo, sem falar na ampla irresponsabilidade a ele imanente. 

Pois bem, trata-se aqui e agora da escolha do presidente da República e dos governadores, como se nada significasse a incumbência. Parece que não haverá ou já houve a eleição; uma eleição às escuras. Dir-se-á a ocorrência de fato novo e relevante, o avanço sem precedente da corrupção, que poderia haver amortecido a sensibilidade nacional. 

Ao que me parece, a lepra da corrupção se fez sentir em todos os níveis e graus, e talvez o silêncio tenha sido o emudecido e encabulado comentário. Enfim, é surpreendente mas imperioso se note que a senhora presidente, aliás, candidata à reeleição, não hesitou em defender como solução o debate com os fanáticos, quando o mundo inteiro, sem reserva, afirma sua decisão de enfrentá- los frontalmente. 

É tempo de mudar e noto que hoje o debate eleitoral foi substituído, mas substituído pela ação do marqueteiro, que se serve de sucessivas “pesquisas de opinião” para operar. Estas que se sucedem dia a dia e mais de uma vez por dia indicariam ou pretendem que indiquem as reais tendências do eleitorado, quando, salvo erro meu, este efetivamente é o orientado, enquanto sua orientação depende do marqueteiro. 

*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF