segunda-feira, 30 de novembro de 2015

" Afaste- se , dele, Presidente " !!!

 VINICIUS MOTA

Folha de SP - 30/11

O sistema político brasileiro caminha para a ruptura, embora nada indique que ela implicará quebra ou relativização do regime democrático. Depois da explosão, o mais provável é que uma nova maioria se erga dos destroços.


A inércia, o marketing e a contingência produziram um grave descompasso entre a tipologia do governo eleito e a dos remédios exigidos para tocar os assuntos públicos. O Brasil reconduziu um projeto intervencionista e paternalista de centro-esquerda, quando a realidade já requeria uma guinada no sentido oposto.

O acaso também fez coincidir no tempo a afirmação das instituições de controle do abuso de poder. Policiais, procuradores e juízes extraem provas criminais a mancheias com a escavação de camadas geológicas sedimentadas no conúbio entre políticos e empresários, exacerbado pela lógica do nacional-desenvolvimentismo.

O resultado dessa confluência de fatores é que o governo eleito por estreita maioria em outubro de 2014, além de ver-se compelido a contrariar suas promessas e convicções, também agrega ao seu redor os políticos que, um a um, vão caindo na teia de inquéritos e condenações criminais.

Ruíram as sucessivas tentativas de remendar o que nasceu torto. A breve "regência" de Lula da Silva, a sua intrusão mais direta no governo, foi enterrada na semana passada, com as prisões do amigo pecuarista e do líder
no Senado e com uma nova fragilização da justificativa do filho do ex-presidente para o recebimento de R$ 2,5 milhões de um lobista.

Lula, como está claro há vários meses, ocupa-se apenas com salvar a própria pele, o que a esta altura seria uma façanha improvável. Vai levando para a cova e o presídio quem se abraçou a ele.

A presidente Dilma ainda pode escolher o seu destino. O ocaso de braços com o padrinho ou a separação definitiva enquanto ainda há um fio de esperança.

" Meninx " é histeria de gênero "

 LUIZ FELIPE PONDÉ

Folha de SP - 30/11



Em alguns momentos, devemos fazer silêncio sobre algumas coisas. Existem palavras que, com o tempo e com o uso excessivo, perdem o significado. Quer um exemplo? "Energia". Ninguém mais sério usa a palavra "energia". Só se usar como piada, tipo "a energia daqui está pesada" ou "a energia daquela mina está generosa hoje".


Outro exemplo? "Cabala". Apesar de ser uma coisa muito séria, "cabala" é uma palavra que você deve evitar até passar o momento "Cabala da Vila Madalena" –que, temo, não vá passar nunca porque abriram um Kabbalah Centre em Tel Aviv!


Outro exemplo? "Ética" ou "valores". Se você ouvir alguém falando que "é ético", corra, ele (ou ela) vai bater sua carteira. Ouviu alguém dizendo que "aprendeu a ter valores em casa"? Fuja. A figura vai te passar a perna na primeira oportunidade, justamente porque ela (ou ele) afirma "ter valores". Evite usar essas duas palavras, principalmente, em jantares inteligentes. Por que em jantares inteligentes?


Explico. Jantares inteligentes são, normalmente, frequentados por pessoas com "consciência social" e essa gente não é nunca de confiança, basta irritá-las para ver como são docinhas de dar gosto.

Ou use essas palavras (refiro-me a "ética" e "valores") na frente do espelho para não esquecer como pronunciá-las quando a "onda do bem" (que vai, muito provavelmente, acabar com todo o esforço humano desde a pré-história) tiver passado.

Evite também dizer coisas como "tenho consciência social" ou "é importante termos jovens com consciência crítica" porque se tiver alguém menos bobo (ou menos boba) ao seu lado, vai saber que você é um bobo (melhor dizer "bobx", para não excluir ninguém, e não ter que ficar repetindo palavras para provar que sou fiel à "questão de gênero").

Mas existem outros exemplos mais recentes de palavras ou expressões que você, se for uma pessoa elegante e bem-educada, deve evitar usar. E algumas dessa carregam tons mais dramáticos no seu uso. "Dramático", aqui, deve ser compreendido como sinônimo de "violento".

Quer um exemplo? "Questão de gênero", que acabei de usar acima. Se você ouvir alguém usando muito esses termos (para dizer que homem e mulher são apenas construções sociais), cuidado, "elx" gosta de poder. E o usará com violência contra você, se assim for necessário para ele ou ela.

"Questão de gênero" se transformou numa das maiores chaves de patrulha e violência institucional no mundo dos agentes culturais. E é um passe garantido para conseguir verba e espaço institucional. Quem diz muito "questão gênero" é, muito provavelmente, gente de temperamento autoritário. Faça um teste: olhe o mundo à sua volta. Tente questionar a "questão de gênero" para ver o que te acontece.

E por quê? Porque a palavra "gênero" hoje, seja na universidade, seja na mídia, seja nas produções culturais, seja nos currículos escolares (logo, logo "menino" e "menina" serão expressões consideradas "opressivas" e trocadas por "meninx", o máximo do ridículo) reúne duas características muito poderosas: grana para pesquisa e realização de projetos e, portanto, como decorrência, aumento, cada vez mais, de espaço institucional.

Mas antes de terminar, um reparo fundamental! Que esse povo babaca que gosta de bater em mulher e em gay não pense que, ao criticar os abusos de poder do "povo de gênero", eu esteja me colocando ao lado deles. Quem bate em mulher é homem frouxo.

Mas por que tanta histeria coletiva com esse tema de gênero? Simples: pura e simples histeria, no sentido freudiano. Você não sabe o que é isso? Pergunte a um psicanalista.

O "barato" na histeria é a repressão sexual. A teoria de gênero é a mais nova forma de repressão sexual instalada na cultura, um neopuritanismo. Não é à toa que repete como um mantra que o homem e a mulher não existem. O sintoma histérico é justamente a negação do "destino do sexo".

Mas, infelizmente, não vai adiantar falar disso para os psicanalistas porque muitos sucumbiram ao sintoma e "perderam o ouvido", afogados na histeria que se fez laço social e no seu sintoma, a política histérica.

" Terceira Guerra Mundial ? ! "

Anselmo Borges . 


De facto, há muito que o Papa Francisco vem dizendo que a Terceira Guerra Mundial está em curso, mas "aos bocados", "às fatias".

 Veio relembrá-lo na condenação veemente da tragédia de Paris. E não está sozinho. O que se teme, quando se olha para a complexidade do nosso mundo, tremendamente perigoso e ameaçador, é que, de repente, se dê uma explosão. 



Todos se lembram de como para o início da Primeira Guerra Mundial bastou o que pareceria um pormenor: o assassínio do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo, em 1914. Agora, Robert Farley, da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, acaba de apresentar alguns rastilhos que poderiam desencadear um conflito à escala global: em primeiro lugar, a guerra na Síria, mas também a ameaça do mau relacionamento entre a Índia e o Paquistão ou entre a China e o Japão, a crise na Ucrânia e um confronto entre a NATO e a Rússia... 2- 

Presentemente, o perigo maior está no ISIS, o autoproclamado "Estado Islâmico", e no terrorismo global. Como se chegou até aqui? Claro que são mais as perguntas do que as respostas. 

Aliás, um dos problemas maiores no actual momento é a confusão devida à complexidade da situação, aos interesses contraditórios e cínicos dos diferentes actores, políticos, económicos, militares, geoestratégicos, ideológicos. Falei na Primeira Guerra Mundial e, então, é preciso dizer que ainda estamos a sofrer as suas consequências, sobretudo por causa do Médio Oriente.

E talvez não tenha ainda acabado o ressentimento que deriva do facto de a quase totalidade dos países de maioria islâmica ter sido colónia europeia. E houve a insensatez da invasão do Iraque e, depois, da Líbia. Diz-se que Saddam Hussein, diante da forca, terá profetizado: "Deixo-vos o inferno." Após o vazio criado, surgiu o diabólico "Estado Islâmico", que é preciso destruir, mas como, com quem? Faço minhas algumas interrogações do filósofo José Arregi, na presença dos mortos de Paris e das lágrimas dos vivos. "Quem criou, financiou e treinou a Al-Qaeda para combater a Rússia? 

E quem concebeu e continua a sustentar na sombra o Estado Islâmico para desestabilizar todo o Médio Oriente e tirar maior proveito e lucro? Não se sentam no G20 dos grandes do mundo alguns governos amigos de países, com a Arábia Saudita à cabeça, nos quais encontram suporte ideológico e financeiro os jihadistas que nos combatem e que dizemos combater? Não são estranhamente coincidentes os interesses do "Estado Islâmico" e os do poder financeiro do mundo ocidental?" Mas há igualmente perguntas a fazer ao mundo islâmico.

 "E vós, dirigentes políticos dos países árabes, para onde conduzis os vossos povos, essa imensa maioria de gente pacífica, com as vossas lutas fratricidas sem fim, com o vosso confronto secular entre sunitas e xiitas, com os vossos impossíveis projectos teocráticos, com o vosso sonho de califado confessional, medieval, absurdo? E vós, os dirigentes religiosos da Umma ou comunidade muçulmana universal, para onde conduzis essa multidão de gente crente, cheia de bondade e de generosidade, empenhados como estais em mantê-la encerrada no passado?" 3- Como combater o terrorismo fora, se há terroristas cá dentro? Pergunta imensa: o que é que leva tantos jovens europeus, e não se trata apenas de gente pobre dos arrabaldes das grandes cidades, a alistar-se para combater no "Estado Islâmico"? Que ideias, que valores lhes entregamos? Segundo o politólogo Gilles Kepel, especialista do islão e do mundo árabe contemporâneo, não bastam as explicações sociológicas, escreve no último L"Obs. "Jovens sem referências, perdidos no meio das desordens do mundo que a torneira mediática espalha, podem ser tentados a ir procurar num passado mitificado, o do islão das origens revisitado e falsificado, uma ordem que vai dar-lhes normas, valores. Sonhar com a jihad é fantasiar a sua vida, é projectar-se numa existência épica, viril. E é inscrever-se num projecto colectivo, a construção do califado, apresentado como uma utopia terrestre, onde todos têm um trabalho, onde não há pobres; é viver um antegosto do mundo perfeito do além. 4- Há muito que o famoso teólogo Hans Küng tornou claro que "não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões". O Papa Francisco sabe disso. Por isso, denuncia toda a violência, que, se for em nome de Deus, é "uma contradição", "blasfémia". "Uma guerra pode justificar-se, entre aspas, com muitas razões. Mas quando o mundo todo, como hoje em dia, está em guerra?! Uma guerra mundial, aqui e ali, por todos os lados. Não existe nenhuma justificação. E Deus chora."

 E, sem medo, apesar do alto risco, seguiu para África, visitando o Quénia, o Uganda e a República Centro-Africana, para anunciar a paz, a justiça social, a reconciliação, o diálogo entre cristãos e muçulmanos. Em nome de Deus. ------------------ * 

Jornalista. Cronista do jornal de Portugal Diário de Notícias.meuip.co

AS DIÁRIAS DE STÉDILE - Você sustenta o vagabundo!

               
               Você sustenta o vagabundo!



" Afaste- se dele, presidente "

 VINICIUS MOTA

Folha de SP - 30/11

O sistema político brasileiro caminha para a ruptura, embora nada indique que ela implicará quebra ou relativização do regime democrático. Depois da explosão, o mais provável é que uma nova maioria se erga dos destroços.



A inércia, o marketing e a contingência produziram um grave descompasso entre a tipologia do governo eleito e a dos remédios exigidos para tocar os assuntos públicos. O Brasil reconduziu um projeto intervencionista e paternalista de centro-esquerda, quando a realidade já requeria uma guinada no sentido oposto.

O acaso também fez coincidir no tempo a afirmação das instituições de controle do abuso de poder. Policiais, procuradores e juízes extraem provas criminais a mancheias com a escavação de camadas geológicas sedimentadas no conúbio entre políticos e empresários, exacerbado pela lógica do nacional-desenvolvimentismo.

O resultado dessa confluência de fatores é que o governo eleito por estreita maioria em outubro de 2014, além de ver-se compelido a contrariar suas promessas e convicções, também agrega ao seu redor os políticos que, um a um, vão caindo na teia de inquéritos e condenações criminais.

Ruíram as sucessivas tentativas de remendar o que nasceu torto. A breve "regência" de Lula da Silva, a sua intrusão mais direta no governo, foi enterrada na semana passada, com as prisões do amigo pecuarista e do líder
no Senado e com uma nova fragilização da justificativa do filho do ex-presidente para o recebimento de R$ 2,5 milhões de um lobista.

Lula, como está claro há vários meses, ocupa-se apenas com salvar a própria pele, o que a esta altura seria uma façanha improvável. Vai levando para a cova e o presídio quem se abraçou a ele.

A presidente Dilma ainda pode escolher o seu destino. O ocaso de braços com o padrinho ou a separação definitiva enquanto ainda há um fio de esperança.

" Sexo Casual "








Por mais que o sexo seja livre, considero um desperdício utilizá-lo apenas como sessão de aeróbica

A maioria das pessoas com quem convivo é casada ou está num namoro estável, mas outro dia almocei em São Paulo com uma amiga solteira, com pouco menos de 30 anos, e acabamos tendo uma conversa interessante sobre os novos formatos de relacionamentos amorosos, tudo por causa de um livro que ambas havíamos lido. Estou falando de Pagando por Sexo, do cartunista Chester Brown, em que, por meio de uma história em quadrinhos, o autor conta por que desistiu do amor romântico em troca da prostituição. Polêmico, mas um retrato interessante da desilusão atual.

Qual a importância do sexo nas relações? A monogamia ainda se sustenta? Só sexo basta?

Foi quando nós duas começamos a falar sobre rolos, essa modalidade tão em uso atualmente. Relações sem compromisso, sem rotina, sem fidelidade, sem ciúmes. Apenas com sexo de vez em quando. Precisa mais?

Essa minha amiga comentou que conhecia outra garota na faixa dos 30 que dizia já ter transado com 650 caras. Não sou boa em matemática, mas resolvi calcular: supondo que ela tenha vida sexual desde os 15, vem transando com um homem diferente a cada oito ou nove dias, ininterruptamente, sem contar as recorrências. Se não for uma profissional do ramo, é uma boba que gosta de contar vantagem. Se não for uma coisa nem outra, então o mundo mudou mais rápido do que consegui acompanhar.

Em que momento o romantismo morreu?

O rolo é vantajoso. O sem isso e sem aquilo pode ser muito benéfico numa etapa da vida em que a ninguém tem mais paciência para investimentos afetivos sérios, mas essa racionalização não me parece afrodisíaca.

Por mais que o sexo seja livre, pleno e ótimo, considero um desperdício utilizá-lo apenas como sessão de aeróbica. Pode ser sem compromisso, sem rotina, sem fidelidade e sem ciúmes, mas que graça terá se não houver um encantamento mínimo, um brilho se insinuando no fundo do olho?

Sexo casual também é encontro. E, como tal, se torna mais estimulante quando se vale de alguns aditivos que passam longe da cama. Um Whatsapp no meio da tarde dizendo que bateu saudade, um telefonema no fim da noite pra dizer “dorme bem”, uma confidência trocada, um cuidado em não magoar, pequenas gentilezas que fazem parte do jogo. Jogo? Sim, jogo. É ou não é uma relação entre adultos? Então sem falsa inocência. É um jogo.

Não se está falando de amor pra sempre, e sim de um relacionamento sem vínculos, mas que nem por isso precisa evitar pequenas graciosidades que tornam a confluência mais terna. Porque senão passa-se o rodo em centenas e só o que se leva disto é uma boa pontuação no ranking.

Sem apego, sem sentimento, sem exclusividade, sem troca, sem planos. Nada contra, cada um sabe de si. Mas acho mais palpitante com.

" Corrupção em grandes montes..."

Brasília

Anotação diz que BTG Pactual pagou R$ 45 milhões a Eduardo Cunha



Bilhete estava com chefe de gabinete de Delcídio Amaral e indica que Cunha teria recebido o valor para interferir na votação de uma Medida Provisória em favor de interesses do banco.

Uma anotação apreendida pela Procuradoria-Geral da República indica que o banco BTG Pactual, de André Esteves, pagou R$ 45 milhões ao deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atual presidente da Câmara, para ter atendido um de seus interesses em uma emenda provisória.
     As informações são da Folha de S. Paulo.
O texto foi encontrado por policiais federais na casa de Diogo Ferreira, chefe do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Ambos foram presos na última quarta-feira pela operação Lava-Jato. 


A anotação está descrita no pedido da PGR para manter o assessor e Esteves presos por tempo indeterminado, o que foi aceito pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), neste domingo.

A anotação seria parte de um roteiro de Delcídio para tentar soltar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, também preso pela Lava-Jato.
"Em troca de uma emenda à medida provisória nº 608, o BTG Pactual, proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava interessado em utilizar os créditos fiscais de tal massa, pagou ao deputado federal Eduardo Cunha a quantia de 45 milhões de reais", diz o texto.
Seis partidos fecham acordo contra Cunha e decidem obstruir votações na Câmara
"Esse valor também possuía como destinatário outros parlamentares do PMDB", prossegue a descrição.
Essa MP, aprovada no Congresso em 2013, trata de operações bancárias. Um dos seus artigos pode ter beneficiado o BTG Pactual.
Cunha considerou "absurdo" o papel ligando seu nome ao recebimento de dinheiro por parte do BTG Pactual para alterar uma medida provisória de interesse do banco. "Parece armação", disse o deputado à Folha. 


Crítico da operação Lava-Jato, Cunha teve contas na Suíça — que seriam abastecidas com dinheiro da Petrobras — reveledas pela investigação. O deputado rejeita a versão de que teria recebido recursos ilícitos.
Pelo episódio das contas, Cunha é alvo de investigação no Conselho de Ética da Câmara. O processo poderá terminar com a cassação do seu mandato.

" O Dinheiro Começa a VOLTAR " ( voltar pra qual conta ? " da Dilma ? do Cunha ?Do Temer ? ... mais clareza...

                     Artigo Zero Hora

A segunda maior empreiteira do país, a Andrade Gutierrez, está concluindo acordos de delação premiada e de leniência com a Procuradoria-Geral da República, pelos quais confessa o pagamento de propina em várias obras federais e compromete-se a devolver R$ 1 bilhão em forma de multa. Investigada pela Operação Lava-Jato por subornar agentes públicos, a empresa admitiu pagamentos indevidos em obras da Copa do Mundo, da Petrobras, da usina nuclear Angra 3, da usina de Belo Monte e também da Ferrovia Norte-Sul, referente a uma licitação de 1987. Esse registro comprova que o cartel de exploração de obras públicas é de longa data.
A expectativa dos procuradores que trabalham na investigação é de que os executivos da empresa, presos desde junho, apontem o nome de políticos beneficiários do esquema de corrupção. 
Se isso ocorrer, é muito provável que o processo saia do âmbito da Justiça Federal em Curitiba e vá para o Supremo Tribunal Federal, já que entre as autoridades estariam deputados e senadores, com foro privilegiado.
A multa compensatória pelos prejuízos causados ao governo é certamente muito inferior aos valores desviados, mas tem um efeito simbólico muito significativo. A devolução do dinheiro subtraído ilegalmente é mais importante do que o longo encarceramento dos suspeitos, que também corre por conta do poder público. 
Obviamente, depois de julgados e de fazer uso do direito de defesa, os corruptos não podem ficar sem punição. Enquanto isso não ocorre, porém, o ressarcimento de parte dos valores desviados traz algum consolo para os cidadãos indignados com tanta roubalheira.

" Duplo Significado "

Editorial Zero HoraDuplo significado Gilmar Fraga/Arte ZHFoto: Gilmar Fraga / Arte ZH
Com sua realização transformada em questão de honra depois dos atentados de 13 de novembro, a Conferência do Clima (COP-21) tem início efetivo nesta segunda-feira, em Paris, cercada de expectativas. A questão central é se líderes de países de todo o mundo, às voltas com uma pauta de prioridades alterada, às vésperas do encontro, pelo terrorismo, serão capazes de enfrentar o duplo desafio: o de manter tanto a segurança quanto a preservação ambiental na agenda de debates. Por mais que chefes de Estado e de governo insistam em avanços no tema central, as dimensões inéditas do esquema montado para garantir os debates passam uma ideia oposta.
Desde a adoção da Convenção do Clima, em 1992, no Rio de Janeiro (Rio-92), o mundo vem se comprometendo com ações coordenadas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Diante do fracasso do Protocolo de Kyoto, é natural que as expectativas se voltem para um novo acordo a partir do encontro em Paris, com previsão de vigorar a partir de 2020. O Brasil vinha defendendo um acerto mais do que meramente declaratório e sustentado por uma "previsão financeira robusta". Agora, precisará despender energias tanto nesse pleito quanto para explicar descasos como o que permitiram a tragédia de Mariana.
Por mais que o tema terrorismo esteja na ordem do dia, líderes globais não podem ignorar que, diante da demora num acordo, as emissões e a degradação ambiental só aumentam. Qualquer acerto exigirá sempre a concordância de 195 países quanto à forma mais eficaz de combater o aquecimento global, o que nunca será obtido com facilidade. Ainda assim, o mundo tem razões para esperar mais do que promessas de Paris.

sábado, 28 de novembro de 2015

' Os 12 anos dos Kirchners ,derrubados " e agora ??? será a nossa vez ????


O reinado dos Kirchner durou 12 anos


A irresponsabilidade fiscal e o culto à personalidade duraram bastante na Argentina – como aconteceu em outros países latinos que tão bem conhecemos.
Distribuir dinheiro público sob o argumento de que é preciso reduzir a pobreza, inflar programas sociais e proteger os produtores locais, levantando barreiras a mercadorias estrangeiras, são medidas que sempre soam simpáticas ao público doméstico. Parecem nobres.
Até chegar a conta da inflação e do desemprego.
E a felicidade Kirchner não durou para sempre.
O primeiro da família, Néstor, assumiu em 25 de maio de 2003. A mulher, Cristina, o sucedeu. Com seu candidato derrotado neste domingo,  ela entregará a faixa no próximo dia 10 de dezembro para Mauricio Macri, que lhe fez e faz oposição.
Foi a primeira eleição resolvida só no segundo turno no país. A diferença de cerca de 7 pontos percentuais a favor do político neoliberal, que fez campanha propondo uma plataforma bem diferente dos peronistas, mostra que o povo argentino perdeu a esperança de que o país vai melhorar se os dogmas do governo atual continuarem a ser seguidos.
Estariam mudando os ventos na América do Sul do chavismo, do kirchnerismo, do lulismo? Da perpetuação de um mesmo partido no poder?
O eleitor argentino pode ter dado sua resposta hoje. O venezuelano não sabe quando será chamado a opinar com transparência. Enquanto isso, falta papel higiênico por lá. E outros itens de primeira necessidade.
O brasileiro se pergunta se Dilma Rousseff, hoje no leme do 13º ano consecutivo do governo do Brasil em nome do PT, vai melhorar sua gestão nos últimos três anos de seu segundo mandato, ou se passará o bastão antes disso.
Claro que ela pretende ficar até 31 de dezembro de 2018.
Visivelmente também, não gostaria de ser saída.
Que tal, então, arregaçar as mangas, mirar-se no exemplo da Argentina, e agir antes de passar pelo vexame da colega e vizinha Cristina?
Eu tenho uma sugestão. Você já sabe qual é. Dilma poderia retomar um de seus primeiros lemas de marketing, bastante usado em 2011, já depois de eleita.
E reerguer a bandeira da faxina da ética.

" Cronicamente anacrônicos "

 





Antes de expressar uma opinião, aprovar uma lei, comentar notícias na rede social ou simplesmente reagir a uma novidade, seria útil contar com a ajuda de um conselheiro para assuntos de século 21 – um “facilitador”, para usar o jargão corporativo.

Pode ser aquele seu sobrinho de 18 anos que não larga o celular ou um grande especialista em qualquer assunto relevante que não tenha medo de mudar de opinião quando fatos novos insistem em alterar a realidade como a conhecíamos até aqui. O importante é incluir a dúvida e a disposição para reexaminar as próprias convicções, à luz de novas circunstâncias ou de uma mudança já perceptível do espírito da época, como exercício intelectual e ético permanente. 

Admitir que o anacronismo está mordendo nossos calcanhares o tempo todo – em casa, no trabalho, na sala de aula, na forma de fazer política ou negócios – não significa que você tem que mudar de ideia como quem troca de celular. Acostumar-se com uma certa dose de descompasso geracional, em uma época de mudanças de comportamento aceleradas pela tecnologia, talvez seja inevitável. Mas estacionar em território conhecido quando fatos novos impõem novas reações e reflexões é assinar atestado de óbito intelectual – ou de má-fé.

Não adianta, por exemplo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, insistir em defender a candidatura do secretário que batia na ex-mulher como se gritar na beira da praia fosse salvar o afogado. Talvez até fosse possível, em outros tempos, encolher um episódio de violência doméstica até o tamanho de uma nota de rodapé biográfica. 

Mas, em 2015, vamos ser realistas, o homem está liquidado politicamente. Pode-se lamentar por reputações instantânea e injustamente destruídas, o que não parece ser o caso em questão, mas se você está preparando uma campanha política não adianta fazer de conta que a força de mobilização da internet não existe ou que a tolerância com a violência de gênero é a mesma de 10 anos atrás. Perdeu, playboy.

Tampouco adianta cerrar fileiras contra a economia compartilhada como se fosse possível remendar com durepox uma barragem prestes a estourar. O Uber vai prevalecer, com este nome ou com outro, porque representa um modelo de negócio que já venceu a batalha por corações e mentes no resto do mundo. Uma coisa é propor regulações, negociar, administrar conflitos de interesse. Outra bem diferente é tentar impedir a conversa.

Nem todas as manifestações de anacronismo e dificuldade de aceitar mudanças são tão indignas quanto espancar uma pessoa que está tentando trabalhar, mas nada como um gesto estúpido e primitivo para deixar bem claro de que lado o futuro não está.

" O PT contaminado "







A única bancada que fechou questão pelo voto secreto foi a do PT, para esconder a posição sobre Delcídio

Foi o maior rompimento de barragem de lama na Nova República. As palavras turvas que jorraram da boca do líder do governo Dilma no Senado inundaram o Congresso e o país, mas, especialmente, o PT e suas bases, soterrando esperanças e convicções. O partido está mais dividido que nunca. Quantos anos serão necessários para recuperar a bacia das almas desse acidente ou crime? Onde a lama vai parar? Boias de contenção me parecem em vão.

Os bons petistas, idealistas, não sabem mais em quem acreditar. Eles se contorcem para ficar à margem, para não ser atingidos e contaminados pelos rejeitos tóxicos da bandidagem institucionalizada. O protagonista desse último filme B pertence à “cúpula da turma do Lula”. Lula foi cabo eleitoral de Delcídio do “Amoral”, ops, Amaral. Lula saiu em carro aberto em Mato Grosso do Sul, pediu o voto dos companheiros para o governador, suou a camisa. 

Mais um traidor, ex-presidente? Ou, como o senhor disse, “um idiota” que fez “uma trapalhada”, uma “coisa de imbecil”? Será que, como os já condenados – o ideólogo Zé Dirceu e o tesoureiro João Vaccari Neto –, Delcídio figurará como guerreiro do PT na história revisitada do partido? Ou será sumariamente expulso, como querem os camaradas linha-dura? A expulsão de Delcídio impedirá que a lama tinja de laranja o lago do Palácio do Planalto?

Um guerreiro, quase um terrorista suicida, que não hesitou em tentar calar a todo custo, pelo suborno e pelo tráfico de influência, um delator preso. Com o nobre objetivo de livrar sua cara, a cara do partido e a cara da presidente na compra da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos em 2006, Delcídio planejou fugas mirabolantes do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró pelo Paraguai com destino à Espanha. Delcídio se gabou de pressionar juízes do STF. Delcídio prometeu melar a Lava Jato, anular sentenças.

Ah, mas, segundo o PT, Delcídio “agia por conta própria” e não “a mando do partido”, embora fosse o principal articulador de Dilma na mais alta casa de nosso Parlamento. Delcídio não merece compaixão nem solidariedade – ou merece? Nem o PT se decide. 

Na sessão no Senado, a maioria dos senadores do PT quis a volta do obscurantismo e apoiou o voto secreto para que eleitores não soubessem sua posição sobre a prisão de Delcídio. A única bancada que fechou questão a favor do voto secreto foi a do PT. E, mesmo assim, não conseguiu a fidelidade de todos os seus. 

Também entre os poucos que votaram a favor de soltar Delcídio, o PT foi maioria: nove dos 13. Tudo acompanhado ao vivo pelas redes sociais e pela TV Senado. Era um velório, no qual foi enfim desafiada a expressão dúbia “imunidade parlamentar” – usada no Brasil para garantir impunidade para crimes comuns, e não para proteger o direito constitucional do legislador. 

Ganhou a compostura. Ganharam as instituições. Mas, para os senadores, foi “um dia trágico”. De nervos expostos, de vísceras reviradas. E de clara divisão no PT e no PMDB. O presidente do Senado, Renan Calheiros, o grande aliado de Dilma e representante do vice Michel Temer, perdeu em tudo o que votou. Falou indignado contra “o Poder (Judiciário) que prendeu um senador em exercício de mandato sem culpa formada”. O Supremo respondeu, pela emocionada ministra Cármen Lúcia: “Criminosos não passarão sobre juízes”.

No fim, restou a Renan submeter-se ao plenário e atacar o PT por negar qualquer solidariedade a Delcídio. “A nota do PT sobre esse episódio, além de intempestiva, é oportunista e covarde”, disse Renan. Para onde foi o código de ética entre mafiosos? O senador Delcídio está preso. Por crime inafiançável, flagrante e permanente. Não era um dos “nossos”?

Para variar, Dilma não sabe o que faz. Uma hora, a presidente se rende à ala de Rui Falcão e apoia a nota. Outra hora, Dilma se rende a assessores que recomendam cautela. Não vamos abandonar nem isolar nosso querido Delcídio. E se ele também se torna delator premiado? Que “solidariedade” ele mostrará ao PT se for jogado às traças? Nenhuma.

Calou fundo no coração de muitos petistas o que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, disse na véspera do rompimento da barragem de Delcídio. Uma fala cândida e premonitória.

“Quando você tem um sonho de transformar a sociedade em favor da igualdade e você se desvia para se apropriar de recursos ou para beneficiar quem quer que seja, você está cometendo dois crimes: o primeiro é colocar a mão em recurso público, o segundo, você está matando um projeto político (...) Não tenho nada contra quem quer ganhar dinheiro, mas não venha para a política (...Se vier,) garanta que você não vai matar o sonho das outras pessoas.” O sonho de Haddad virou pesadelo. O prefeito de São Paulo não está sozinho. Tem uma multidão com ele.

" Resgate dos Afetos "

Palavra de médico

J.J. CamargoJ.J. Camargo: resgate dos afetos Arte ZH/Arte ZH

Sempre gostei do Congresso Argentino de Cirurgia, um encontro fraterno com muitos amigos conquistados ao longo do tempo numa troca aberta de experiências bem-sucedidas ou fracassadas. 
Nunca encontrei soberba nesse convívio. Afora o alto nível dos convidados estrangeiros, nos últimos anos, ainda tenho sido agraciado com o reencontro dos vários ex-residentes argentinos do nosso serviço. 

O abraço mais demorado e os olhos marejados não enganam: há saudade sobrando naquele círculo, ainda que não exista essa palavra no idioma espanhol. Entendo que eles não se sintam em desvantagem por isso, porque, para mim, ouvir-lhes confessar “Le extraño, profesor!” é muito bom e mais do que suficiente para expressar a falta mútua que sentimos.

No jantar obrigatório, todos falam muito rápido porque, afinal, sempre há muito o que relembrar, antes que o tempo acabe e as nossas memórias sejam varridas pelo esquecimento.

 Neste burburinho afetivo, são recuperadas histórias preciosas que, de outra maneira, se perderiam.

O Suarez, entre risos e pausas para se recompor, relembrou a primeira entrevista com um paciente de uns 80 anos, com a cabeça muito branca, e o quanto lhe pareceu amigável chamar-lhe repetidamente de “avôzinho”, que, aprendera fazia pouco, equivalia ao “abuelito”, que era como chamava seu saudoso avô.
Terminada a longa anamnese, o paciente pediu a palavra: “Meu caro doutor, gostei do seu carinho e tenho certeza que o senhor será um médico bem-sucedido, mas preciso lhe contar uma história da minha família: meu pai sempre dizia que todo o homem deve ter dois filhos para assegurar a sua continuidade genética. 
Ele teve dois filhos, e meu irmão e eu seguimos a recomendação, com dois filhos cada um. E outra vez a tradição foi mantida e cada filho meu teve igualmente dois filhos”. O Suarez confessou que não imaginava o desfecho quando o velhinho, depois de uma longa pausa, recomeçou: “Mas por que estou lhe contanto isso? Ah, já lembrei: eu queria que o senhor soubesse que eu já tenho todos os netos que planejei ter!”. 
Ele aprendeu naquele dia o quanto o uso de diminutivos é malvisto na maioria das relações com pacientes idosos.
O Aquino recuperou uma situação hilária. Tínhamos operado uma anciã e havia a natural preocupação de como ela despertaria da anestesia, que fora mais prolongada que o desejado. Quando ela finalmente abriu os olhos, lhe perguntei: “A senhora está me reconhecendo?” . Ela começou bem: “José”, ótimo. “Jesus”, perfeito. “Maria”.
Fácil imaginar o desespero ao descobrir que, em vez de reconhecer seu cirurgião, ela estava evocando a Sagrada Família!
O Chimondegui se deliciou com a lembrança de uma cliente do mestre Palombini, internada no Hospital Moinhos de Vento, e que ele queria muito que eu avaliasse a possibilidade de cirurgia apesar da idade avançada da paciente. Toda a apresentação do caso tinha esse viés de persuasão induzida pelo desejo de ajudar a paciente que o Palombini adorava e que, de outra maneira, morreria. “Camargo, tu vais adorar a dona Cleide! Ela é maravilhosa, mas é bem velha! Não lembro de um ecocardiograma tão normal nesta idade, mas ela é velhinha! Também vais te impressionar com a espirometria, mas eu sei que ela é velha!”. 
Ao abrirmos a porta do quarto, Chimondegui e eu estávamos preparados para encontrar a irmã de Matusalém, e deparamos com uma senhora, muito magra e frágil, sentada sobre as pernas, tricotando com mãos nodosas um pulôver de lã branca como seus cabelos.
 Quando lhe perguntei: “A senhora é a dona Cleide?”, o inesperado: “A mamãe foi fazer uma radiografia de tórax”.
Difícil conter a surpresa porque a filha já parecia bastante idosa para o projeto cirúrgico.