domingo, 30 de outubro de 2011

Mamografia,por Martha Medeiros




Mamografia,


Martha Medeiros






Tudo o que uma mamografia significa: a diferença entre a vida e a morte, por mais dramática que essa frase possa soar

Fiz minha primeira mamografia aos 39 anos. Cheguei na clínica sem saber direito do que se tratava. Achei que o exame era parente das tomografias computadorizadas e que eu ficaria à disposição dos médicos por muitas horas. Coragem.

Foi quase uma decepção. O exame leva poucos minutos. A funcionária da clínica tira duas radiografias do seio esquerdo e depois duas do seio direito. Mais uns minutos aguardando para avaliarem se o procedimento foi bem realizado ou se será preciso repetir, e, não precisando, pode colocar sua roupa e adeusinho, passe bem.

Só isso?

É rápido e indolor, mas não é só isso. É tudo isso. Tudo o que uma mamografia significa: a diferença entre a vida e a morte, por mais dramática que essa frase possa soar. Em pouco tempo, o resultado estará em suas mãos e, com sorte, você não terá nada, saúde perfeita. Eu fiz umas quantas mamografias depois da primeira, e o resultado foi sempre positivo.

Com menos sorte, mas com sorte ainda, você talvez descubra um pequeníssimo nódulo, e o fato de tê-lo descoberto tão cedo dará a você a chance de extraí-lo sem maiores traumas e tocar sua vida normalmente.

Mulheres que têm condições de marcar hora numa clínica particular não o fazem por preguiça, pois informação temos tido bastante, inclusive estamos encerrando o Outubro Rosa, uma iniciativa da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio a Saúde da Mama (Femama), que visa conscientizar as mulheres da importância de se prevenir contra um dos cânceres que mais mata no Brasil, em especial no Rio Grande do Sul.

Mas, infelizmente, a maioria das mulheres não pode ir a uma clínica, tendo que recorrer ao SUS. Por isso, reivindicamos aos órgãos públicos maior sensibilização quanto à necessidade de se adquirir novos equipamentos e consertar aqueles que estão estragados, a fim de que a mamografia seja um exame tão corriqueiro quanto tirar sangue num laboratório. Mamografia não é luxo. É um direito.

São esses os passos para diminuirmos os índices alarmantes de mulheres que morrem de um câncer que poderia tranquilamente ser curado. Primeiro: que todos os hospitais e postos de saúde tenham o equipamento funcionando para que possam atender dezenas de pacientes todos os dias, já que é um exame que não toma muito tempo.

Segundo: que as próprias mulheres se interessem mais pelo assunto e não entreguem seu destino nas mãos de Deus. Há diversas razões que levam ao óbito, e a pior delas é a morte por ignorância.

Outubro Rosa é só o nome de uma campanha, mas pode se estender para novembro, dezembro, janeiro. E você nem precisa gostar de cor-de-rosa. Mais importante do que ser identificada como uma mulher feminina é ser identificada como uma mulher inteligente. Faça já.

sábado, 29 de outubro de 2011

Hora Roubada,de Nílson Souza







Hora roubada
Nilson Souza
Como ocorre todos os anos nesta esquina do hemisfério, o horário de verão desperta simpatias e rancores. Tem gente que odeia acordar uma hora mais cedo, mas também tem quem prefira contar com um dia maior para curtir, ou para fazer mais coisas, caso dos carregadores de piano – categoria em que, na maioria das vezes, me incluo.

Sou um fazedor de coisas. Uma vez na vida, outra na morte, tento tocar uma sonata no teclado do computador, mas nem sempre as letras me obedecem. Então, o mais sensato é acordar cedo e compensar a inspiração escassa com o suor farto. Às vezes, uma simples frase, desavisado leitor, me toma horas. Daí por que resolvi escrever sobre a hora perdida deste início de primavera.

A novidade da mudança de horário este ano é que a mexida nos ponteiros chegou acompanhada de uma pesquisa publicada pela Harvard Business Review que sentencia: os madrugadores são mais produtivos e os notívagos são mais criativos.

Claro que também aqui há exceções. Mas faz sentido: as pessoas que começam a operar de madrugada costumam chegar ao fim do dia com a lista de tarefas zerada. Já para os dorminhocos, que saem da cama nas primeiras horas da tarde, a noite é inspiradora, até mesmo porque eles estão com o cérebro em plena atividade quando ela chega.

Como diz o Eclesiastes, há tempo para todo propósito debaixo do céu – inclusive tempo de mexer nos marcadores de tempo, com o pretexto de poupar energia, ainda que isso possa alterar relógios biológicos e humores. Tempo de amar e tempo de odiar, registrou de forma premonitória o texto bíblico, prevendo a reação dos contemporâneos do horário de verão.

O tempo é uma invenção da morte, dizia o poeta Mario Quintana, complementando o pensamento com fina ironia: os anjos ficam espantados quando alguém acorda para a vida eterna e pergunta “que horas são?”. Deve ser mesmo engraçado. Mas nós, os não poetas, somos escravos do relógio – esse tirano inflexível que devora vidas. Por isso, sentimos tanto quando uma decisão política nos rouba uma hora, mesmo com a promessa de devolução.

No dia 26 de fevereiro de 2012, vence essa fatura. Se o mundo não terminar, como profetiza aquele insistente pastor norte-americano, a hora confiscada por decreto presidencial nos será devolvida com todos os seus minutos e segundos, mas sem juros e correção temporária para compensar o contratempo das noites maldormidas.

Até lá, colegas madrugadores e irmãos notívagos, teremos bastante tempo para pensar na melhor maneira de aproveitar a hora recuperada.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

" Quando o Mundo Muda "






Quando o mundo muda

As pessoas estão insatisfeitas, a vida delas não vai bem. As pessoas querem lutar contra o que existe de errado no mundo, elas querem pegar o inimigo pelo pescoço, esse inimigo que tanto as incomoda. Só que elas têm dificuldade de saber quem, afinal, é o inimigo.

Chega a ser comovente. Aqui, no Brasil, as pessoas protestam contra a corrupção. Lá, no Exterior, as pessoas protestam contra a ganância. Corrupção e ganância, eis os inimigos identificados. Mas... protestar contra a corrupção e a ganância é como protestar contra a maldade.

É como se elas saíssem às ruas gritando: “Abaixo as doenças! Abaixo a decrepitude! Abaixo tudo o que existe de ruim no mundo! Chega de terremotos! Chega de mal-entendidos!”.

Contra o que, exatamente, os protestantes lutam? Onde é que estão os defensores da corrupção, que não se apresentam? Os protestantes não querem mais o capitalismo? Qual é a alternativa? O socialismo nunca deu certo, também no socialismo a ganância e a corrupção grassaram. E agora? Que mudança deve ser empreendida? É impossível voltar atrás, mas como ir para a frente? Tudo está tão confuso.

Ontem mesmo completou-se um mês da invasão do MST de uma área de pesquisa científica da Fepagro. Os sem-terra destroem experimentos enquanto as autoridades do Estado bocejam. Os sem-terra são os ludistas do século 21. Há exatos 200 anos, em 1811, os ludistas invadiam fábricas na Inglaterra, paravam o trabalho e quebravam os teares mecânicos.

Diziam-se liderados por um certo Ned Ludd, um operário que teria quebrado as máquinas da empresa em que trabalhava, no fim do século 18. Na verdade, tratava-se de um ardil dos rebeldes. Ludd nunca existiu, mas sua lenda servia para confundir a repressão. A polícia procurava Ludd em todo lugar e Ludd não estava em lugar algum.

Imagine, os ludistas destruíam as máquinas. Não como um protesto, mas porque, simplesmente, eles eram contra as máquinas. Diziam que as máquinas iam acabar com o seu meio de vida.

E tinham razão. A Revolução Industrial acabou com o meio de vida dos artesãos, assim como a informática acabou com o meio de vida de quem fabricava máquinas de escrever, assim como não há mais cocheiros, amas de leite ou damas de companhia.

As mudanças do mundo acabaram com tantas atividades, com tantos meios de subsistência, com tantas formas de viver. Experimentos agrícolas e veterinários, pesquisas com células-tronco e com transgênicos, a ciência em geral, bem como os movimentos naturais da sociedade e da economia, fazem com que o mundo mude.

O mundo está sempre mudando, mudou rapidamente inclusive durante os mil anos de duração da Idade Média. Não há o que fazer a respeito. A globalização é irreversível e o capitalismo, com a sua flexibilidade e capacidade de adaptação, é invencível.

Lutar contra a mudança, em vez de compreendê-la, não é teimosia: é obscurantismo. Só há uma maneira de enfrentar a mudança: mudar junto. Darwin já ensinou: quem não se adapta, se extingue

de David Coimbra.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

" escutar os enlutados" - Diana Corso



26 de outubro de 2011
DIANA CORSO

Escutar os enlutados

Eram um casal inseparável. Ambos obstetras, trouxeram centenas de bebês ao mundo. Dizem que os partos estão deixando de ser nascimentos, transformados em cirurgias eletivas.

Com eles não era assim. Criaram dois filhos, tiveram netos, estavam aproveitando o início de uma nova época, com menos trabalho, curtindo a sensação de dever cumprido. Subitamente ele partiu, sequer teve tempo de perceber a morte. Tranquilo, em casa, em meio a uma frase, foi traído pelo coração. Levou consigo os belos planos de (mais) vida a dois.

Nesse ano minha consulta anual atrasou-se. Não sabia o que dizer a ela, já mais amiga que médica. Nossos papos roubados costumeiramente abarrotavam sua sala de espera. Encontrei-a forte. No consultório que era de ambos, costumava se escutar a voz dele, alta e musical, agora o silêncio se fazia ouvir.

Naquele dia fui disposta a inverter as coisas: a consulta era minha, mas queria que os assuntos fossem dela. Sabia que seria difícil escutar o que ela tinha para contar. Também constituo um casal no qual partilhamos o trabalho e o companheirismo dos tempos livres, por isso sempre nos vi neles. É insuportável pensar que um dos dois pode instantaneamente desaparecer. Por isso a missão de escutá-la era difícil. Temia sufocar o encontro com uma verborragia solidária mas vazia.

Descobri que sua relação com a dor foi admirável: deixou-se chorar, enfrentou a solidão, a nova imparidade. Continuou, como de hábito, sendo parteira da vida, desta vez da própria, arrancada a fórceps das suas entranhas. Mas encontrei também o que temia: a infinita solidão dos enlutados.

Quando falamos com eles raramente suportamos seus depoimentos. Impomos nossa versão: relatamos o último encontro, nossa reação ao saber da perda, a falta que o falecido nos faz. Sempre temos algo a dizer, não importando se fomos próximos, íntimos ou remotos admiradores. Aliás, quando se trata da dor do outro, raramente conseguimos escutar suas queixas sem interpor nossos depoimentos: “também passei por isso e, veja bem, comigo foi pior”...

Colocar-se na cena serve para partilhar o sofrimento, ajuda na elaboração do trauma. Mas a tagarelice ansiosa que irrompe na hora das condolências é útil mesmo para abafar as palavras do enlutado.

Quando estamos fora da dor do viúvo, do órfão, dos que foram privados da presença de um pai, irmão ou, o pior de tudo, um filho, não queremos chegar tão perto.

Seu sofrimento assusta. O enlutado nos apavora mais do que o morto no seu caixão. Apesar de ser nossa única certeza, a morte segue tabu e o sobrevivente seu emissário.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

" Sobre o Vinho " ,Liberato Vieira da Cunha


LIBERATO VIEIRA DA CUNHA

Sobre o vinho

Uma amiga me presenteia com um Chardonnay Viognier e logo me desperta lembranças da infância. Meu pai nunca deixava de acompanhar o almoço e o jantar com uma garrafa de bom vinho. Aos adultos era servida a taça inteira. Para nós, as crianças, reservava-se sempre uma pequena dose.

Cresci tomando vinho, em especial o daqueles barriletes enviados por eleitores da Serra, onde eram fabricados. Para prová-los era mister aspirar o precioso líquido com um sifão, de onde descia belo, inebriante, desejável.

Depois, meus pais se foram e já não havia mais vinho à mesa. Isso não impediu que guardasse a memória daquele prazer, provando um cálice sempre que pudesse. Não estou só nessa devoção.

Ainda agora, Veja traz belo ensaio de Jerônimo Teixeira sobre um livro do filósofo inglês Roger Scruton, que recorda que o vinho é a própria civilização. “A distinção entre os países civilizados e incivilizados” – afirma ele – “é a distinção entre os países onde se bebe e onde não se bebe”. E evoca que o vinho foi a bebida dos banquetes filosóficos gregos, das saturninas romanas, da Eucaristia cristã. Em verdade, a videira já era cultivada 6 mil anos antes de Cristo.

Anacreonte, no século 6 a.C., dizia: “Enquanto bebo o alegre vinho, os meus desgostos adormecem”. E nos Salmos se lê: “O vinho alegra o coração do homem”. Omar Kháyyám, no século 12, ensinava: “Não abandones nunca o mágico que tem o condão de conduzir-te ao doce país do esquecimento” .

E o grave Lutero pregava: “Quem não gosta de vinho, mulher e canção fica um tolo ao longo da vida”.

Rabelais era positivo: “Nunca homem nobre desdenha um vinho bom”.

Victor Hugo era definitivo: “Deus só fez a água, mas o homem fez o vinho”.

Voltemos agora a Roger Scruton.

Sobre a fruição estética de um cálice de vinho, observa que não é a mesma que temos diante de um quadro, um poema, uma sinfonia.

Mas o vinho está longe de oferecer um entorpecimento vulgar: o inebriamento não seria mero efeito do álcool, mas estaria associado a todas as sensações que a bebida provoca sobre o olfato e o paladar, no momento em que a tomamos. Há uma dimensão ritual no consumo do vinho, que remete ao culto grego de Dionísio e, é claro, à Eucaristia cristã.

E nada mais disse, nem nada lhe foi perguntado.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Leitores Assassinos...





LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

Leitores assassinos

São do renomado intelectual José Castello as seguintes considerações: “Em que medida somos nós, leitores, que destruímos a reputação de um livro? De que maneira leituras apressadas, indiferentes, superficiais, acabam por matar grandes livros?

Sempre achei que o leitor não é só leitor, é coautor dos livros que lê. Coautor, mas também pode ser o assassino dos mesmos livros. Isso sem importar que sejam grande livros, ou pequenos livros”.

Está coberto de razões. Corremos o risco de perdermos o encanto da leitura e o prazer do texto sob a alegação de que não temos tempo para nada e, de modo especial, para a leitura.

O tempo, ou a pseudofalta dele, acabam por gerar pensamentos que são repetidos sem nenhuma espécie de crítica. Alguns desses: ninguém lê mais do que as primeiras páginas de um livro; os capítulos devem ser curtíssimos; o romance está destinado ao desaparecimento; então: ler romances, para quê?; a crônica, porque curta e leve, é o gênero preferido pelo povo etc.

Será mesmo verdade que não temos tempo?

Como explicar, então, o exercício de paciência exigido para as complexas criações do espírito humano, que vão desde as pesquisas para a cura do câncer ao estabelecimento de uma nova teoria a respeito do surgimento do Universo ou, ainda, à elaboração de um consistente pensamento filosófico ou estético?

E agora, mais concretamente: como explicar as seis horas por dia que um jovem dedica à internet, operando jogos sofisticadíssimos? Nada disso seria possível com pressa ou impaciência.

Não nos falta tempo; faltam, sim, interesse e disposição.

O fenômeno trazido à luz por José Castello acaba levando a ações patéticas, como o abandono de uma obra magistral nas primeiras cinco páginas, isso porque ela não nos deu, nessas páginas iniciais, motivos para divertimento fácil e pouco uso da imaginação.

O agente literário nova-iorquino Noah Lukeman, em obra ainda não traduzida no Brasil, The First Five Pages, elabora algumas proposições interessantes. Diz, por exemplo, que as primeiras cinco páginas não terão um fim em si mesmo, mas elas anunciam o quanto um livro pode render. Logo: ler as primeiras cinco páginas como finalidade em si mesma é uma das formas de trucidar o texto.

Quer-se dizer, de maneira sintética: para a conquista de um avanço emocional, cultural ou artístico, é, sim, necessária alguma dose de trabalho e de concentração.

Assim: em vez de assassiná-lo, demos oportunidade ao livro.

Teste de Cidadania






Editorais Zero Hora - RS

O desafio de viver em rede

O

tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), encerrado ontem, não poderia ser mais oportuno e mais adequado para a faixa etária da maioria dos candidatos: “Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado”.

Por coincidência, na mesma avaliação em que os estudantes tiveram que escrever sobre o uso adequado das redes sociais, mais de uma dezena de candidatos foi eliminada exatamente por acessar o Twitter via celular durante a prova, o que era terminantemente proibido.

Idealizado para aferir a qualidade do Ensino Médio no Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que mobilizou milhões de estudantes em todas as unidades da federação, é hoje não apenas um instrumento de avaliação das escolas, como também um canal democrático de acesso às universidades públicas.

Entre as instituições de Ensino Superior, dezenas já utilizam seus resultados como complementação dos processos seletivos e algumas até substituem totalmente o vestibular pelo Enem, um atrativo a mais para os estudantes participarem do exame – com base na pontuação, os alunos também obtêm a qualificação para conseguir o diploma do Ensino Médio e podem se candidatar a bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni).

O Enem também passou pelas suas próprias provações recentemente, por conta de erros e vazamentos em provas que suscitaram desconfianças e críticas. Em 2009, chegou a haver o adiamento do concurso e, no ano passado, alunos tiveram de realizar o exame uma segunda vez em função de erros detectados.

Mas, para superar descrédito, o Ministério da Educação buscou mecanismos para aperfeiçoar o sistema de avaliação. As provas são elaboradas para oferecer uma referência para autoavaliação com vistas a auxiliar nas escolhas futuras dos cidadãos, com relação tanto à continuidade dos estudos quanto à sua inclusão no mundo do trabalho.
Também por isso o tema da redação foi extremamente pertinente, como ficou comprovado no próprio exame, que acabou servido de teste para a cidadania.

sábado, 22 de outubro de 2011

Sete Bilhões...e uma casa,somente !





EDITORIAIS ZH

SETE BILHÕES E UMA CASA SÓ

Estabelecido por demógrafos como o dia em que a Terra atingirá a marca de 7 bilhões de seres humanos, o próximo 31 de outubro deve provocar, de forma simbólica, um confronto de governantes mundiais com questões irresolvidas no planeta, apesar do desenvolvimento tecnológico das últimas décadas.

Foi vertiginoso, como previram pesquisadores, o crescimento da população mundial, de modo especial no último século. No início dos anos 1800, ela somava pouco mais de 1 bilhão. Por volta de 1930, havia duplicado de tamanho e cresceu de forma assombrosa nos últimos 80 anos, com a perspectiva, mesmo que as taxas de fecundidade tenham baixado, de atingir 9 bilhões em 2045, um futuro nem tão distante.

Diferentemente das previsões pessimistas do economista inglês Thomas Malthus (1766-1834), porém, indicando que a população aumentaria em progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência cresceriam somente em progressão aritmética, a superpopulação já não é o principal temor.

Na maior parte dos países, o tamanho das famílias diminuiu – na Europa, no final dos anos 1990, chegou a 1,4 filho por mulher –, e a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o planeta alcançará a taxa de fecundidade mínima de reposição até 2030.

A produção de alimentos em larga escala, facilitada pela tecnologia, garante ainda que não falte comida. Só passam fome as populações de países isolados, assolados por conflitos internos ou envolvidos em guerras. A fome é, hoje, um problema localizado, mas não menos importante, claro, e que deve ser atacado com urgência, para evitar que mais vidas se percam. Da mesma forma, nesses mesmos pontos, é preciso lutar pela erradicação de doenças corriqueiras que seguem dizimando populações mais pobres.

Mais do que a superpopulação, preocupa agora a humanidade a crise econômica, o desemprego, a falta de infraestrutura e mobilidade nos grandes centros urbanos, o descaso com o ambiente, a escassez de água potável, as poucas alternativas a fontes de energia não renováveis como o petróleo, os conflitos armados e o terrorismo.

Viver em cidades superpovoadas e enfrentar problemas como o trânsito, o consumo de água e energia, de modo particular, deverá ocupar as atenções de governantes e estudiosos de urbanismo.

A tendência, indicam as projeções, é de que a população urbana não pare de crescer. Em 1975, só três cidades no mundo tinham mais de 10 milhões de moradores; hoje já são 21 as megacidades e especula-se que, em 2050, 70% da população mundial viverá em áreas urbanas.

Malthus, com outros pesquisadores e futurólogos que lhe sucederam, não tinha como imaginar a Terra com 7 bilhões de habitantes considerando o mundo globalizado, a revolução da tecnologia e das comunicações, que rompe fronteiras e aproxima os povos, mas que não veio acompanhada, na mesma velocidade, por uma moderna governança global.

A ONU à qual, em tese, caberia esse papel, já não satisfaz, da mesma forma como se têm revelado ineficientes as áreas de integração econômica criadas mais recentemente, como a União Europeia ou, para ficarmos com a realidade local, o próprio Mercosul.

Há novas necessidades criadas por esse mundo novo. Uma das fundamentais é a utilização inteligente e solidária dos recursos do planeta, de modo especial nos países mais ricos. Sabe-se, por exemplo, que uma pessoa nos Estados Unidos consome, em média, cinco vezes mais energia do que uma em Gana, assim como a grande parte da emissão de gases que causa o efeito estufa se origina do mundo desenvolvido.

Não confrontar esses problemas pode ter um efeito muito mais danoso do que os altos índices de natalidade.

Somos 7 bilhões e vivemos todos na mesma casa. Se não nos entendermos e não cuidarmos melhor do nosso planeta, não haverá futuro para a humanidade.

" O maior medo do homem " ,






O Maior Medo do Homem David Coimbra

Não é a morte o que mais assusta o homem. É o acaso. Contra o acaso, o homem constrói sistemas de pensamento, filosofias, mitologias, religiões. Para se proteger do acaso, o homem criou Deus. Aí está: o homem se diz criatura, quando é o criador.

Mas crentes e carolas não precisam se ouriçar, não estou pregando o ateísmo. Porém, é preciso entender que, ainda que Deus exista, Ele continuará sendo uma abstração. A ideia de Deus tem de ser aprendida. E, se tem de ser aprendida, tem de ser concebida. Criada. Logo, Deus é criatura. Zeus, Amon, Jeová, Astarte, Cibele, Alá, Tupã, seja qual for o nome do ser divino, ele tem de ser concebido pelo homem, junto com sua mitologia.

E por que o homem teve de criar Deus? Por que existe essa necessidade em todo lugar e em todo tempo? Exatamente para que o homem possa se defender do acaso. O acaso é tão apavorante, que o homem criou até o diabo para combatê-lo.

É preferível enfrentar uma legião de demônios com intenções bem claras e regras de comportamento definidas do que simplesmente cogitar a hipótese de que as coisas possam acontecer sem que sejam movidas por razão alguma.

Você precisa encontrar um desígnio oculto por trás de qualquer ocorrência da sua vida. Toda consequência teve uma causa. E, se toda consequência tem uma causa, em tudo podem ser vistos méritos e culpas. Você faz tudo certinho, age bem, é uma boa pessoa, não faz nada de errado?

O Todo-Poderoso o recompensará com uma vida venturosa. Você faz coisas erradas, oprime o próximo e rouba a merenda escolar das criancinhas? Você será punido em algum momento, você não perde por esperar as terríveis consequências de seus atos.

É assim que deveria ser, se o acaso não existisse. Se o mundo fosse justo. Mas o acaso existe. Mas o mundo não é justo. Coisas ruins acontecem a todo momento com pessoas que não merecem sofrer. Coisas boas acontecem a todo momento com pessoas que não merecem a felicidade.

Canalhas são homenageados, incompetentes ganham aumento, oportunistas usufruem da fama, cofres caem do oitavo andar, vírus são contraídos pelo ar, rádios tocam axé a cada minuto. A vida é cheia de perigos e você não pode fazer nada para evitá-los. O mundo está repleto de cafajestes e muito provavelmente a maioria deles jamais será punida. Não adianta rezar. Não adianta cultivar superstições. Não adianta esperar pela intervenção transcendental.

Adianta, um pouco, prevenir-se. Pessoalmente, há muitas formas de prevenção. A principal delas é zelar pela saúde. Comunitariamente, o Estado tem a função de fazer a prevenção. No caso de o Estado estar acometido de alguns desses males, como a corrupção endêmica brasileira, só se pode, mesmo, fiscalizar.

E a fiscalização só é viável quando ocorre em âmbito municipal, quando o cidadão encontra a autoridade na farmácia, no supermercado, na igreja, no estádio de futebol, e o olha na cara, e cobra, com o mero olhar, o efeito de seus atos. A municipalização não tem poder divino, não evita a corrupção, não impede a ação de cafajestes nem as tramas incompreensíveis do acaso. Mas ajuda a preveni-los.



" A beleza de Cada Um " ...







Beleza de cada um
de Milton dos Santos Martins,
magistrado aposentado.

Quando se fala em beleza, logo se imagina a pessoa, o semblante, o corpo, enfim, pois se analisam as formas físicas, as plásticas realizadas, o modo de ser, como ainda o modo de vestir, principalmente os tipos de roupas, as cores da estação ou da moda, ou ainda modo de se portar, falar e locomover-se.

Evidente que é importante para a pessoa estar bem apresentável e, sobre isso, dá-lhe confiança no relacionamento, pois se sente valorizada, certo que só poderiam apreciá-la. Na verdade, porém, trata-se da aparência que pode até demonstrar o bom gosto.

Todavia, isso que pode mostrar até uma boa presença, na verdade, não significa realmente a pessoa. Podemos até comentar, referir que é alguém bem apresentável, mas nada acrescentamos sobre o seu conteúdo... Então, precisamos saber o que, de fato, qualificaria a pessoa.

O que realmente marca a personalidade é sua composição de ideias, os pensamentos que expõe, o modo de ser e de agir, a espiritualidade que revela, sintonia e respeito para com a natureza, sobretudo o trabalho social que está sempre a desenvolver a par do seu trabalho de subsistência.

Essa a verdadeira presença que se destaca, que elogiamos, que valorizamos. Pode até não cuidar muito de sua aparência, não se vestir tão bem, mas a pessoa é reconhecida por suas manifestações, atitudes, trabalhos, não só o destaque dos trabalhos profissionais exercidos com responsabilidade, zelo e competência, mas principalmente também as atividades de ordem social, relacionadas com seu trabalho. Essa é a virtude de cada um que o projeta porque virtude que significa beleza.

É aí que se confere em todas profissões, pessoas que se destacam pelo respeito a todos os outros, como pela preocupação de que tenham seus direitos à vida respeitados. E a começar evidentemente pela saúde, pela educação, pelo trabalho assegurado e com remuneração digna. Certo que é de responsabilidade fundamental da União, Estado e município os cuidados primeiros para que tudo isso ocorra dentro da normalidade.

Todavia, evidente aí, cada um de nós tem a obrigação de conferir e colaborar, nem só por simples reclamação, sim, para que todos nos empenhemos em resolver eventuais problemas. Vamos divulgar os direitos de cada um, direito à vida saudável, à liberdade de pensar e agir, respeitando-se outrem, por indispensável tolerância.

E aí, com essa fraternidade é que devemos contar, agir, e exigir, e vamos contar não só com deputados e senadores, mas presidente, governadores, cônsules, servidores em geral, vereadores, como profissionais da medicina, engenharia, direito, cantores, agricultores, porteiros, dentistas, motoristas, empresários, professores, corretores, barbeiros, secretários etc. etc. Então, é por isso que conhecemos e elogiamos aqueles profissionais, aquelas pessoas que realmente são belas pelo seu modo de ser e agir. Essa é a verdadeira beleza pela qual todos nós somos maravilhados. E que beleza de pátria não seria a nossa!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

por que nos apegamos tanto à vida ?


Segundo o Monge Tibetano,Sogyal Rinpoche
porque nos apegamos tanto è vida,é porque a vemos de uma maneira distorcida.Essa visão é
basicamente fruto de nossa ignorância,a má compreensão do que ela é na realidade,é o resultado dessa falta nossa de visão.Nós nos apegamos à vida porque não reconhecemos que a impermanência faz parte dela... * a impermanência...
Se acreditarmos que a existência e as coisas inerentes a ela são imortais,perenes e imutáveis,nos agarraremos à ilusão de que podemos prendê-las e deixá-las sob nosso controle.Mas,se assumimos profundamente que tudo muda,e que a mudança é o que extamente caracteriza a própria vida,não mais nos apegaremos a ela com tanta força.Compreendendo que tudo muda,compreendemos a vida como ela é,e nos damos conta da falta de sentido que é querer parar o fluxo inconstante e mutável.Se soubéssemos que um banco está falindo,não colocaríamos o dinheiro lá ? Apegar-se á vida é colocar dinheiro num banco falido,e com os dias contados.Com o desprendimento,podemos desenvolver uma tranquilidade inabalável diante das transformações que se apresentam.Nossa autoconfiança se expande incrivelmente,e não temos mais medo das mudanças.Num coração assim sereno,florescem,naturalmente,o amor e a compaixão por todos os seres.



Há algo que é permanente e indestrutível?

Há... a impermanência pode nos revelar muitas verdades.

Mas, ainda há um tesouro final sob sua guarda,que está escondido.



Segundo o Monge Tibetano,Sogyal Rinpoche: , o poeta RILKE disse que " nossos temores mais profundos são como dragões guardando um tesouro precioso.O medo da impermanência desperta em nós a noção de que nada é real.E,quando percebemos que tudo morre e se transforma ,perguntamos o que pode ser realmente verdadeiro ,eterno! ?Nós nos questionamos se há alguma coisa por trás das aparências,algo sem limites e vasto em que a dança da vida ocorre,enfim alguma coisa que sobrevive àquilo a que chamamos ** de morte .Permitindo que essas perguntas nos ocupem com um sentido de urgência,lentamente deixamos que uma profunda mudança ocorra no modo como vemos a vida.


Descobrimos algo que não podemos nomear,não podemos conceituar,que está além de todas as mudanças e mortes do mundo.Dessa forma,os desejos mesquinhos,as frustrações causadas pelo apego se dissolvem,até desaparecerem.É como se estivéssemos a vida toda envoltos em negras nuvens e na turbulência e de repente nos elevássemos acima das nuvens ,no céu aberto,inspirados e estimulados por essa liberdade,por essa paz e essa alegria,que nos enche de encantamento,e que nos dá certeza,de que há algo em nós que nada destrói,que nada altera,e que não pode morrer.Chamamos esse estado de rigpa,ou natureza da mente,uma consciência pura,prístina,e primordial que é ao mesmo tempo inteligente,cognoscente,radiante e sempre desperta.A natureza da mente ,que está além dos pensamentos e das emoções,é nossa essência mais pura.Ela é absolutamente intocada pelas mudanças e pela morte,e está eternamente presente como um céu aberto,luminoso e brilhante.Sob determinadas circunstâncias(na hora da morte e durante a vida,no momento de grandes iniciações como a introdução direta da natureza da mente,que é dada no Dzogchen ,linha do budismo tibetano,ou toda vez que estamos verdadeiramente presentes,então podemos entrar em contato com ela,que é nossa natureza mais profunda,e primordial.A morte pode nos revelar quem realmente somos,se nos prepararmos para ela.Podemos nos integrar a esse estado primordial e prístino e nos livrar para sempre da roda das reencarnações.Por isso a morte é o momento crucial da existência ,um instante de grande abertura e esperança e uma tremenda oportunidade,se entender o que estiver acontecendo.Porque ali,ali pode se revelar o solo supremo do nosso SER ,e o que somos na realidade.


O Mestre Tibetano


O livro de RINPOCHE fala sobre a vida e a maneira mais sábia de vivê-la,tendo a compreensão de sua fugacidade e a possibilidade sempre presente de seu fim.

RINPOCHE esteve no Brasil -no final do ano de 2010:- A CONVITE DO CENTRO DO BUDISMO TIBETANO CHAGDUD GONPA ODSAL LING.

Nessa visita,ele deu ensinamentos no Rio de Janeiro,em São Paulo,e em Porto Alegre,e ,concedeu

ENTREVISTA PARA REVISTA SIMPLES:
[ Liane Alves]







" refletir e aceitar a morte é a melhor maneira de aproveitar a vida...



Quando o livro TIBETANO do VIVER E DO MORRER ( Palas Athena) foi publicado em 1992 na Europa,vários tabus vieram abaixo.



Pela primeira vez um monge budista falava sobre o tema de uma maneira universal,para pessoas de qualquer religião, dando orientações precisas e práticas de visualizações para sere eram feitas na hora da morte,tanto por quem passa pelo processo de morrer como para a família que circundo o agonizante.



O detalhe revolucionário: nessas práticas poderiam ser usadas imagens de quaisquer tradições espirituais,como as de Cristo,de Nossa Senhora,de Buda,ou qualquer outro mestre querido.



O que SOGYAL RINPOCHE propunha era compartilhar o conhecimento acumulado dentro da tradição do budismo tibetano sobre a morte para ajudar todas as pessoas,inclusive ateus.O livro de RINPOCHE fala sobre a vida e a maneira mais sábia de vivê-la,tendo a compreensão de sua fugacidade e a possibilidade sempre presente de seu fim.


1.O que muda na vida quando temos a noção de que podemos morrer a qualquer minuto?

Muda Tudo.Nos dias de hoje,não conseguimos ver vida e morte como um todo indivisível.

Por isso nos agarramos à vida com todas as forças e rejeitamos seu fim.A morte é o nosso medo

supremo,a última coisa para a qual queremos olhar.No entanto,é a única coisa certa que vai acontecer.

2.Quando vejo alguém muito preocupado com a morte,sempre digo para não se preocupar tanto,porque essa é uma tarefa cujo êxito está totalmente garantido:" todos vamos morrer com total e absoluto sucesso.A morte não falha nunca.Na verdade,tememos a morte porque ela nos obriga a encarar o que fizemos com a nossa vida.Atrás do medo da morte está o medo de encarar a nós mesmos ! ... porque o momento da morte é o momento da verdade.Ela é como um espelho em que toda nossa vida está refletida.É disso que temos pavor.Temos de aprender a ver a morte como uma condição natural da vida, e não com medo.Ao contrário ,ela pode nos inspirar a refletir


ela pode nos inspirar a refletir mais profundamente sobre nossas atitudes,nossas ações e nossas decisões.Se se lembrar sempre de que vai morrer,vai se lembrar também da preciosidade da vida.E,não vai querer desperdiçá-la.Refletir sobre a morte é o coração,o cerne de todo caminho espiritual,isso em qualquer uma das tradições religiosas.


[entrevista concedida pelo Mestre Sogyal Rinpoche ]



Cinzas na Comunicação





Cinzas na comunicação

Pela segunda vez neste ano, as cinzas do vulcão chileno Puyehue recobriram o céu do Rio Grande do Sul e interferiram nas operações do aeroporto Salgado Filho, mostrando que à falta de estrutura do terminal, esgotado apenas 10 anos após sua inauguração, somam-se deficiências do ponto de vista gerencial, por parte de companhias aéreas e da própria Infraero.

Na terça-feira, dezenas de voos tiveram de ser cancelados e, num efeito cascata, outros sofreram atrasos. Os problemas se arrastaram ao longo do início da quarta-feira, com novos atrasos e cancelamentos, causando desconforto a centenas de passageiros, muitos dos quais tiveram de pernoitar no Salgado Filho. Filas serpenteavam em frente aos guichês, tumultuando o já exíguo espaço do saguão.

Contra o fenômeno natural, obviamente, não há o que fazer e é louvável a preocupação com a segurança dos voos. Mas, como em outras ocasiões e por outros motivos, os usuários acabam não recebendo um tratamento condizente, num momento em que, mais do que nunca, informação colabora para diminuir o estresse.

Viajando a negócios ou a lazer, as pessoas têm suas rotinas e planos alterados e é evidente que o inesperado gera irritação e mau humor, e funcionários de companhias aéreas precisam estar preparados para enfrentar a situação, munidos de gentileza e informações precisas. A Infraero, por sua vez, tem de se preocupar com o conforto de quem amarga horas de espera.

Com uma capacidade atual de 4,5 milhões de passageiros/ano, o arrastado projeto de ampliação do Salgado Filho prevê um aumento da capacidade para 12 milhões – em 2014, o ano da Copa, a demanda é estimada em 11 milhões.

Um módulo provisório, que deve ficar pronto até o final do ano no segundo andar do terminal, oferecerá uma nova sala de embarque e mais 20 balcões de check-in, o que poderá amenizar as dificuldades em casos como o ocorrido nesta semana. Enquanto isso não acontece, o mínimo que os passageiros merecem é atenção e informação.

[editorial Zero Hora-20 outubro 2011]

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quando o interesse não dá " mole "!!! e o cupido???



[MARTHA MEDEIROS ]

Quando menos se espera

Quando alguém se queixa de que não encontra sua cara-metade, que procura, procura, procura e nada, os amigos logo lembram o queixoso de que o amor só é encontrado ao acaso. Justamente no dia que você vai à locadora todo esculhambado para devolver um DVD, poderá esbarrar na mulher da sua vida.

E naquela noite em que você sai de pantufas do apartamento só pra descer até a garagem do prédio e desligar a droga do alarme do carro que disparou, é então que o Cupido poderá atacar, fazendo com que o príncipe dos sonhos divida com você o elevador.

Não acredita? Eu acredito. Nas vezes em que saí de casa preparada pra guerra, voltei de mãos vazias. Todos os meus namoros começaram quando eu estava completamente distraída. Mas não vale se fingir de distraída, tem que estar realmente com a cabeça na lua. Aí, acontece. O amor adora se fazer de difícil.














Pois foi meio assim que aconteceu com a universitária que foi parada numa blitz semana passada. Ela se recusou a fazer o teste do bafômetro, então teve a carteira recolhida e prestou algumas informações. Voltou pra casa e pouco tempo depois recebeu um torpedo de um dos agentes perguntando se ela estava no Facebook ou se podia dar seu MSN, porque ele gostaria de conhecê-la melhor.

Vibro com essas conspirações do destino, que fazem com que duas pessoas que estavam absolutamente despreparadas para um encontro amoroso (um trabalhando na madrugada, outra voltando de uma festa) se encontrem de forma inusitada e a partir daí comece um novo capítulo da história de cada um. Claro, levando-se em conta que ambos tenham simpatizado um com o outro, que a atração tenha sido recíproca.

Não foi o caso. A universitária não se agradou do rapaz. Acontece muito. O Cupido passa trabalho, não é fácil combinar os pares. Nesses casos, todo mundo sabe o que fazer: basta não responder ao torpedo, ou responder amavelmente dizendo que não está interessada, ou mandar um chega pra lá mais incisivo, desestimulando uma segunda tentativa.

A universitária desprezou essas três opções de dispensa. Inventou uma quarta maneira para liquidar o assunto: deu queixa do rapaz aos órgãos competentes. Dedurou o cara. Não perdoou que uma informação confidencial (o número do seu celular) houvesse sido utilizada indevidamente por um servidor público.

É duro viver num mundo sem humor. Uma cantada, uma reles cantada. Se fosse num bar, seria óbvia. Tendo sido após uma blitz, foi incomum. No mínimo, poderia ter arrancado um sorriso do rosto da garota que deveria estar pê da vida por ter a carteira apreendida.

Depois de um fim de noite aborrecido, ela teve a chance de achar graça de alguma coisa, mas se enfezou ainda mais. No próximo sábado, é provável que esteja de novo na balada, cercada de outras meninas e meninos, a maioria se queixando de que o amor não dá mole.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

...relendo Machado de Assis








Relendo Machado
[Liberato Vieira da Cunha]



Passei a semana relendo Machado de Assis. É provavelmente a vigésima vez que o faço, sempre com igual prazer e admiração. Agora, coloquei de lado os romances – como Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Dom Casmurro, ambos merecedores de um lugar de honra na literatura universal – para me fixar nos contos.

Um Almoço ou Um Homem Superior, sem esquecer Miss Dollar e dezenas de outros caberiam sem favor numa antologia internacional do gênero. Até hoje não são reconhecidos.

Os organizadores dessas seleções preferem os autores do Primeiro Mundo, como bem agora o Prêmio Nobel foi parar nas mãos de um absolutamente desconhecido Tomas Tranströmer, um poeta sueco que foi incensado por suas “imagens condensadas”. As únicas coisas que conheço condensadas são os livros das Seleções do Reader’s Digest e o Leite Moça.

Tudo bem. Não defendo uma láurea post-mortem para Machado de Assis, mesmo porque isso não existe. O que existe é uma lenta, desconfiada apreciação de sua obra em universidades europeias e norte-americanas.

Ainda assim, algo modesto, quase recôndito, como se a Academia se achasse incapaz de julgar a obra do maior dos escritores brasileiros. De vez em quando pipocam elogios, como os de Woody Allen, mas é tudo.

Parece que o Hemisfério Norte, lá onde fica a chamada civilização, ainda não perdoou o gênio de um mulato epilético que teve a ousadia de ombrear-se, ou até mesmo de ultrapassar, os grandes autores reconhecidos pelo Circuito Elizabeth Arden.

Ninguém como ele retratou a complexa sociedade do Rio de Janeiro nas últimas décadas do século 19 e na primeira do século 20. Ninguém como ele pintou as contradições, os amores, a hipocrisia de uma metrópole tropical. Ninguém como ele desenhou o caráter, os mistérios, a beleza das mulheres que foram suas personagens.

Há uma ampla galeria de nulidades que são hoje estudadas e enaltecidas pelos donos da verdade. O gênio de Machado de Assis ainda espera a sua vez.

O legado que a Grécia deixou ...









Verdadeiro demais
[Cláudio Moreno]
É incomparável o legado que a Grécia nos deixou na literatura e na escultura; da obra de seus pintores, contudo, não nos restou praticamente nada, a não ser o título e o tema de alguns quadros famosos. Pela descrição de seus contemporâneos, dá para ver que ainda estavam presos a um ingênuo realismo, exigindo do pintor uma fidelidade quase fotográfica aos objetos retratados.

Isso fica bem claro no clássico incidente entre Zêuxis e Parrásio, dois mestres admiradíssimos, que se defrontaram num concurso para ver quem era o melhor pintor. Quando Zêuxis descerrou sua tela, que representava um cesto com belas uvas maduras, vários pássaros entraram no recinto, atraídos pelas frutas.

Orgulhoso desta aprovação inesperada, Zêuxis voltou os olhos, curioso, para a tela de Parrásio, que ainda continuava coberta, exigindo que abrissem a cortina para ver o que continha – quando então percebeu, abismado, que aquilo que ele tinha tomado, desde o princípio, por tecido, era na verdade a pintura que o rival tinha feito. Zêuxis, com nobre humildade, proclamou-o então vitorioso, porque, se as suas uvas haviam iludido os passarinhos, a cortina havia iludido a ele próprio, um pintor experiente.

O mesmo Zêuxis, anos depois, pintou um menino com um cacho de uvas na mão; novamente os pássaros vieram voltejar em torno do quadro, atraídos pelas frutas, o que arrasou nosso pintor. Desolado com a própria incompetência, declarou, solenemente, que estava limitado a ser apenas um bom pintor de uvas, pois, se também fosse bom com a figura humana, os pássaros, com medo do menino, não teriam tido a coragem de se aproximar da tela.

Com o passar dos séculos, no entanto, o pintor foi se tornando um verdadeiro artista, preocupado em expressar um modo único de enxergar a realidade; não sei o que os pássaros diriam de Van Gogh, mas sei que ele mudou para sempre nossa maneira de ver um simples canteiro de girassóis. À destreza da mão que maneja o pincel vieram se juntar o olho e a alma do pintor, e à história de Zêuxis podemos contrapor a de Velazquez, que pintou, em 1650, o papa Inocêncio X.

Quando o pontífice viu, no retrato pronto, a expressão tensa de seu próprio rosto, o cenho franzido, os olhos quase ferozes, ficou desconcertado; Velazquez havia captado com tal maestria o lado oculto de sua personalidade que exclamou, numa crítica que se tornou o melhor elogio: “Troppo vero”. Era fiel demais.

Sobre A Morte

Sobre O Morrer
Rubens Alves





Tenho terror de ser enganado. Se estiver para morrer, que me digam. Quero tempo para escrever o meu haikai

"NINGUÉM QUER morrer. Mesmo as pessoas que querem chegar ao paraíso. Mas a morte é o destino de todos nós." (Steve Jobs)

Odeio a ideia de morte repentina, embora todos achem que é a melhor. Discordo. Tremo ao pensar que o jaguar negro possa estar à espreita na próxima esquina. Não quero que seja súbita. Quero tempo para escrever o meu haikai.

Mallarmé tinha o sonho de escrever um livro com uma palavra só. Achei-o louco. Depois compreendi. Para escrever um livro assim, de uma palavra só, seria preciso ter-se tornado sábio, infinitamente sábio. Tão sábio que soubesse qual é a última palavra, aquela que permanece solitária depois que todas as outras se calaram. Mas isso é coisa que só a Morte ensina. Mallarmé certamente era seu discípulo.

O último haikai é isto: o esforço supremo para dizer a beleza simples da vida que se vai. Tenho terror de ser enganado. Se estiver para morrer, que me digam. Se me disserem que ainda me restam dez anos, continuarei a ser tolo, mosca agitada na teia das me-díocres, mesquinhas rotinas do cotidiano. Mas se só me restam seis meses, então tudo se torna repentinamente puro e luminoso. Os não essenciais se despregam do corpo, como escamas inúteis.

A Morte me informa sobre o que realmente importa. Me daria ao luxo de escolher as pessoas com quem conversar. E poderia ficar em silêncio, se o desejasse. Perante a morte tudo é desculpável... Creio que não mais leria prosa. Com algumas exceções: Nietzsche, Camus, Guimarães Rosa. Todos eles foram aprendizes da mesma mestra. E certo que não perderia um segundo com filosofia.

E me dedicaria à poesia com uma volúpia que até hoje não me permiti. Porque a poesia pertence ao clima de verdade e encanto que a Morte instaura. E ouviria mais Bach e Beethoven. Além de usar meu tempo no prazer de cuidar do meu jardim...

Curioso que a Morte nada tenha a dizer sobre si mesma. Quem sabe sobre a Morte são os vivos. A Morte, ao contrário, só fala sobre a Vida, e depois do seu olhar tudo fica com aquele ar de "ausência que se demora, uma despedida pronta a cumprir-se" (Cecília Meireles). E ela nos faz sempre a mesma pergunta: "Afinal, que é que você está esperando?" Como dizia o bruxo D. Juan ao seu aprendiz:

"A morte é a única conselheira sábia que temos. Sempre que você sentir que tudo vai de mal a pior e que você está a ponto de ser aniquilado, volte-se para a sua Morte e pergunte-lhe se isso é verdade.

Sua Morte lhe dirá que você está errado. Nada realmente importa fora do seu toque... Sua Morte o encarará e lhe dirá: 'Ainda não o toquei...'"

E o feiticeiro concluiu: "Um de nós tem de mudar, e rápido. Um de nós tem de aprender que a Morte é caçadora, e está sempre à nossa esquerda. Um de nós tem de aceitar o conselho da Morte e abandonar a maldita mesquinharia que acompanha os homens que vivem suas vidas como se a Morte não os fosse tocar nunca".

Às vezes ela chega perto demais, o susto é infinito, e até deixa no corpo marcas de sua passagem. Mas se tivermos coragem para a olharmos de frente é certo que ficaremos sábios e a vida ganhará simplicidade e a beleza de um haikai.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Livro

'Livro bom, mesmo,
é aquele de que às vezes
interrompemos a leitura
para seguir — até onde? —
uma entrelinha…
Leitura interrompida? Não.
Esta é a verdadeira leitura continuada.'




[Mário Quintana]






Tic tac´s da vida...

"Recuerda que cada tic tac es un segundo de la vida que pasa y que no se repite, hay en ella tanta intensidad, tanto interés, que solo es el problema de saberla vivir. Que cada uno la resuelva como pueda."


[Frida Kahlo]







domingo, 16 de outubro de 2011

é uma questão de estar inteira,quando estou...




"(...) Estive pensando nesse mistério que faz com que
a vida da gente se encante tanto por outra vida.
E sinta vontade de escrever poemas.

Garimpar estrelas.
Deixar florir pelo corpo os sorrisos que nascem no coração.
Nesse mistério que nos faz olhar a mesma
imagem inúmeras vezes, sem cansaço,
seja ela feita de papel ou de memória.
Que nos faz respirar feliz que nem folha orvalhada.
Querer caber, com frequência,
no mesmo metro quadrado onde a tal vida está.
Cantarolar pela rua aquela canção que a gente
não tinha a mínima idéia de que lembrava (...)" e dirigir...pela estrada,em ritmos

de alegrias...

[ Perícola Palotti.]









É uma questão
de estar inteira quando estou.
De pertencer as minhas escolhas,
ao meu espaço, caminho meu.
De repousar com a alma... feito uma canção
que faz a gente se encantar tanto pela vida.
Dessa vontade de florir a cada amanhecer... [Perícola Palotti]









Felicidade é...





Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente.
(Érico Veríssimo)


Ninguém deve culpar-se pelo que sente, não somos responsáveis pelo que nosso corpo deseja, mas sim, pelo que fizemos com ele.
Não tenho tempo de desfraldar outra bandeira que não seja a da compreensão do encontro e do entendimento entra as pessoas. (Elis Regina)




O amor não resiste a tudo, não. Amor é jardim. Amor enche de erva daninha. Amizade também, todas as formas de amor. (Caio Fernando Abreu)

O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse. (Clarice Lispector)


Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. (Cora Coralina)

Saudade é um pouco como fome: só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco, quer-se absorver a presença da outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira, é um dos sentimentos mais urgentes que se têm na vida. (Clarice Lispector)




Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. (Clarice Lispector)

[...] Tomara que a tristeza te convença, que a saudade não compensa e que a ausência não dá paz, e o verdadeiro amor de quem se ama, tece a mesma antiga trama que não se desfaz. E a coisa mais divina do mundo, é viver cada segundo como nunca mais. (Vinícius de Moraes)

O amor não me compete, eu quero é destilar as emoções. (Elis Regina)

[...] Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra. Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder. (Clarice Lispector)

A vida começa todos os dias. (Érico Veríssimo)

[...] Faça com a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar. (Clarice Lispector

... que comece agora... e seja permanente...

"Que comece agora.
E que seja permanente essa vontade
de ir além daquilo que me espera.
E que eu espero também. Uma vontade de ser.
Àquela, que nasceu comigo e que me arrasta
até a borda pra ver as flores que deixei de rastro pelo caminho.
Que me dê cadência das atitudes na hora de agir.
Que eu saiba puxar lá do fundo do baú,
o jeito de sorrir pros nãos da vida.
Que as perdas sejam medidas em milímetros
e que todo ganho não possa ser medido
por fita métrica nem contado em reais.
Que minha bolsa esteja cheia de papéis coloridos
e desenhados à giz de cera pelo anjo que mora comigo.
Que as relações criadas sejam honestamente
mantidas e seladas com abraços longos.
Que eu possa também abrir espaço pra cultivar
a todo instante as sementes do bem e da felicidade
de quem não importa quem seja ou do mal que
tenha feito para mim.
Que a vida me ensine a amar
cada vez mais, de um jeito mais leve.
Que o respeito comigo mesma seja
sempre obedecido com a paz
de quem está se encontrando
e se conhecendo com um coração maior.
Um encontro com a vontade
de paz e o desejo de viver." [ de Caio F.]







que eu me acompanhe em movimento...





Que eu me acompanhe em movimento
Perícola Palotti



Que eu possa aproveitar as oportunidades.
Quero saúde e força para realizar todos os meus sonhos.
Que eu tenha sensibilidade o bastante para entender
quando as coisas não estão no ritmo que eu desejo.
Que eu saiba entender os sinais que a vida me impõe.
Ela me testa a todo instante.
Que eu não deixe de ouvir meu sexto sentido,

meu lado meio-bruxa, meio-menina, meio-mulher.
Que eu saiba agradecer todas as coisas boas que recebo.
Que eu nunca perca a minha fé.
Que eu ore quando me sentir feliz.
Que quando eu estiver triste, que eu peça proteção
para não me perder nos dias nublados.
Que eu consiga ter uma relação saudável com meu passado.
Que eu jamais esqueça as pessoas que cruzaram meu caminho.
Àquelas que tiveram parcelas importantes no meu crescimento.
Que eu saiba retribuir de alguma forma,
seja com um abraço, uma palavra, um toque.
Quero desfrutar o que a vida tem de belo, de sublime,
de cru, sem prazo de validade.
Quero entender meus momentos de solidão,
ter gentileza quando
minha introspecção entra em cena.
Oferecer-lhe um café e pedir que fique.
Quero me entender mais.
Que eu saiba me fazer companhia.
Que eu desfrute meus livros, minhas músicas,
essa alegria insaciável que tenho pela vida,
pelo agora, pelas pessoas, por tudo o que vivo.
Que eu possa conhecer Gente de verdade,
que faz a diferença,
que escreve sua história lindamente.
Que eu deixe um pouco minha teimosia de lado.
Que eu saiba abrigar o novo.
Que eu nunca perca a esperança.
Que eu não deixe de tentar. Que eu aprenda com meus erros.
Que eu aceite minhas limitações.
Que eu saiba perdoar.
Que eu me permita amar, mais uma vez.
Que eu seja feliz com o que tenho,
com o que preciso para ser Eu sempre.
Que eu me acompanhe em movimento.


Professor no Paraíso, de Ilberto Dimenstein





ILBERTO DIMENSTEIN

Professor no paraíso

O salário inicial do docente é de R$ 80 mil por ano e vai aumentando de acordo com o desempenho do aluno

Uma das melhores escolas dos Estados Unidos descobriu um meio eficiente de estimular seus alunos: obrigá-los a ficar longe da escola -e por muito tempo. Durante 60 dias por ano, além das férias, eles não precisam pisar na sala de aula.

A escola de ensino médio Summit Preparatory High School está chamando a atenção de educadores de todo o mundo por dois motivos: brilha no ranking das melhores dos Estados Unidos e, pública, tem seus alunos escolhidos por sorteio, muitos deles vindos de famílias pobres.

Perguntei ao diretor da escola, Brian Johnson, se os pais não tinham estranhado a novidade. "No começo, um pouco, mas depois eles viram a melhora nas notas.

Quase todos os alunos entram na faculdade."

É como se, na prática, estivessem reciclando o significado (e, para muitos, o prazer) de "matar" aula. Hoje eles estão definindo uma nova geografia do aprender e repensando o professor, cujo dia foi comemorado neste fim de semana.

Localizada numa cidade chamada Redwood, perto de San Francisco, na Califórnia, a Summit é uma escola pública independente, gerida com total autonomia por uma instituição sem fins lucrativos.

Ela já nasceu com um objetivo: não apenas pôr todos os seus alunos nas faculdades mas também ajudá-los a ingressar no mercado de trabalho da região, hoje repleto de empresas ligadas à tecnologia da informação carentes de trabalhadores qualificados.

Daí a ideia de tirar os alunos da escola, reservando uma semana ao final de quatro meses.

A complexidade da experiência está na gestão de uma série de parcerias para assegurar aos alunos espaços fora da escola, formando uma comunidade de aprendizagem. São oferecidos, em companhias profissionais, cursos de dança, teatro, música e computação, bem como estágios em empresas ou em laboratórios de universidades.

"É incrível ver brilhar os olhos deles!", diz o engenheiro Paulo Blikstein, que recebe alguns desses alunos em seu laboratório em Stanford, nas proximidades da Summit.

Blikstein tem visto como as melhores escolas da região, especialmente as particulares, vêm mudando seu currículo, de modo a oferecer atividades extracurriculares com professores das universidades em áreas como nanotecnologia ou impressão digital.

É evidente que isso é apenas a cereja do bolo. Não apenas o ensino na Summit é de tempo integral como há um programa diário para recuperação de quem não aprende, abundam recursos tecnológicos, os pais são obrigados a participar da vida acadêmica dos filhos -e por aí vai.

O salário inicial do professor é de R$ 80 mil por ano e vai aumentando de acordo com o desempenho do aluno. Professores de ciências e matemática ganham mais.

Era necessário, porém, dar um choque de experimentação, colocando os alunos mais próximos de profissionais ou pesquisadores.

A solução foi sair da sala de aula e gerir essa comunidade de aprendizagem. "Vemos que os alunos aprendem tanto ou mais quando estão longe daqui. Quando voltam para a sala de aula, estão mais entusiasmados e percebem a aplicabilidade do que aprendem na escola", conta Brian.

PS- A Summit decidiu implementar um interessante sistema para ajudar os alunos que têm mais dificuldades, que, muitas vezes, pedem ajuda aos colegas para fazer as lições de casa ou tirar dúvidas.
A escola treina seus alunos para serem professores. Por essas e outras, empresários da região estão doando milhões para que se criem mais dez escolas públicas nos mesmos moldes.

sábado, 15 de outubro de 2011







Nei Alberto Pies*

Dos professores, de todos os dias

“As verdadeiras questões da educação resultam de que nas escolas há pessoas jovens, que devem ser ajudadas, tanto quanto possível, a serem felizes. E em que a felicidade dessas pessoas, como a de todas as outras, consiste em satisfazerem a ânsia profunda que têm de verdade, de bem e de beleza. Não em terem coisas e conforto.” (Paulo Geraldo)

Nós, professores e professoras de todos os dias, mergulhamos no complexo desafio de humanizar crianças, adolescentes, jovens e adultos a partir da construção do conhecimento. Os tempos mudam, mas não mudou o papel da escola. A escola é o grande laboratório onde se geram a socialização e a convivência interpessoal, bem como a construção do conhecimento, a partir das ideias e iniciativas inerentes à criatividade humana.

Abençoada seja a nossa missão de educar. Abençoados sejam nossos propósitos, mesmo nem sempre compreendidos pelos alunos, pais e comunidade. Abençoadas sejam nossas famílias que se geram neste contexto que exige ousadia, paciência, preparo e persistência, em resumo, em doação à vida dos outros. Abençoada seja a nossa saúde física e mental, pois não podemos adoecer e nem fraquejar.

Abençoados sejam todos aqueles e aquelas que, por nossas mãos, mente e coração aceitaram e aceitam o desafio de fazer-se gente, a partir dos seus potenciais e da superação de seus limites. Abençoados todos aqueles que acreditam no trabalho do professor.

Nada mais gratificante, em nossa profissão, do que o reconhecimento de alunos e alunas que, mesmo tardiamente, fazem questão de afirmar que a gente fez diferença em suas vidas. Não há como medir, no cotidiano da vida escolar, quando e como realizamos ações ou atitudes que marcaram positivamente a vida de um de nossos alunos. Afinal, a gente nunca foi e nunca será gênio para adivinhar; sempre seremos visionários para arriscar, mudar e ousar. Nisto, sempre fomos mestres.

O que entristece a nossa vida é que tanto cuidamos da vida, dos sonhos e dos problemas dos outros, mas nem sempre somos bem cuidados. Queríamos, sim, reconhecimento por nosso maior feito: preservar a importância da educação e da escola para o nosso país, para o mundo.

Muitos falam de educação, mas não são professores. Arriscam palpites sobre melhorias na educação, mas não perguntam sobre o que a gente tem a dizer. Não se importam com nossos baixos salários, muito menos com nossas dificuldades de lidar com as múltiplas dimensões e necessidades presentes nos nossos alunos. Nestes últimos quesitos, lutamos solitários.

Embora não tenha mudado o papel da escola e da educação, mudaram as exigências para que possamos construir uma boa aprendizagem. Temos observado que nem todo aluno e nem todos os pais veem a escola como uma forma de inserção na vida social e científica. Que as necessidades dos nossos alunos estão muito além para aquilo que a escola consegue oferecer. Que escolas e professores nem sempre estão em condições de dar conta de tudo o que está “depositado” neles.

O fato é que a complexidade de nosso mundo é a complexidade da nossa escola; esta complexidade está nos distintos recantos de nosso país. O que muda de uma escola para outra é o modo de conduzir os processos de aprendizagem e de interação social, mediados pelo conhecimento. A especificidade de cada escola e de cada contexto é que precisam ser sempre avaliados, reconhecidos e apoiados.

O professor, neste contexto, está fragilizado, exposto e pressionado por resultados e expectativas que não dependem somente de sua atuação. Mas professores e professoras resistem bravamente. Sabem que a dureza dos desafios cotidianos supera-se na disposição de lutar por melhores dias na educação, mas também na sua disposição de amar e sentir compaixão.

Como escreveu Paulo Freire, “não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Nossos dias se chamam “muito trabalho”. Nosso alento, “esperança de dias melhores”.
*Professor e ativista de direitos humanos

Ser Professor ,Reitor Carlos Alexandre Netto



Carlos Alexandre Netto*

Ser professor

Ensinar é uma das mais antigas e nobres ocupações humanas. Os primeiros mestres certamente foram os sumérios, que inventaram a escrita há mais de 5 mil anos; os escribas do Egito antigo dominavam a escrita e criaram uma elite poderosa. Hoje, o professor democratiza o acesso ao conhecimento e contribui, decisivamente, para a constituição da cidadania.

Há uma consciência pública de que educação, ciência e tecnologia são pilares para o desenvolvimento. O Brasil, país de contrastes e contradições, ostenta a oitava economia do mundo, é um dos 15 mais importantes produtores de conhecimento científico e vive um momento de expansão do Ensino Superior, porém o nível da educação básica deixa a desejar.

Há problemas estruturais e a segregação da responsabilidade pelos distintos níveis de ensino dificulta sobremaneira a definição das urgentes políticas públicas.

O professor é um sujeito especial no processo educacional. Do letramento à formação em pós-graduação, da aquisição de conceitos fundamentais ao domínio de complexas habilidades cognitivo-motoras, existe a ação primordial daqueles que ensinam, orientam e avaliam.







Ao conduzir os estudantes pela descoberta dos mistérios e fascínios da experiência humana, o professor inspira sonhos e cultiva talentos. Ensina pelo discurso e pelo exemplo, pelo afeto e pelo conteúdo.

Alguns pensam que, na era da informação acessível a um ou dois cliques em computadores, fixos ou portáteis, e até mesmo celulares, o professor começa a ser dispensável. Ledo engano, pois informação não é conhecimento.

Navegar pelos intrincados nodos da rede mundial de computadores e discernir o que é confiável e fidedigno, num sistema que aceita contribuições sem qualquer tipo de averiguação ou avaliação, exige boas práticas e tutoria que os mestres experientes podem oferecer. Aliás, empregar de forma adequada as revolucionárias tecnologias de informação e comunicação é tarefa do professor no século 21.

Os cidadãos constituem a grande riqueza dos países no milênio da economia do conhecimento. Mais do que a abundância dos recursos naturais ou a extensão territorial, as potências econômicas são baseadas na capacidade de trabalho e da agregação de valor, ou seja, dependem do nível educacional da população. O Brasil tem aí um magnífico desafio a enfrentar e o professor é peça-chave para toda e qualquer solução.

Reconhecimento social, condições de trabalho adequadas, salário justo, e educação continuada são fatores desta equação. Motivação, empenho e dedicação não faltam a esses profissionais. Parabéns aos professores, mestres e artífices do presente e do futuro que o Brasil merece e pode conquistar.
*Reitor da UFRGS

Procura-se Mestre em Educação





Patrícia Luciene de Albuquerque , " Procura-se Mestre em Educação "

professor era o centro do saber.

A escola era o lugar essencial do ensino e da aprendizagem. Ninguém sabia nada se não tivesse ido à escola. Essa era a concepção que a sociedade tinha de educação.

Nos dias de hoje, ouço muitas frases como: “Por que retornar à escola e deter minha educação?” ou “aprende-se mais lendo do que estudando” ou ainda “eu aprendo mais fora da escola”, e a sensação que tenho é de que o conhecimento (não os conteúdos!) está em toda a parte menos na escola.

Leio vários textos que retratam a situação política educacional em nosso país. Ouço atentamente os colegas que, além de relatarem experiências, levantam pontos que antes eu ainda não havia pensado e eis que surge uma grande interrogação: O que é essencial mudar para que haja educação no Brasil? Os salários dos professores? As estruturas das escolas? Os alunos?

Em minha opinião, o que precisa urgentemente passar por uma mudança são os cursos de formação. Lembro-me dos meus dias de normalista e também das noites cansativas no curso de Pedagogia e penso: o que realmente aprendi em sete anos e meio de formação? Saí preparada ou com uma base sólida para enfrentar a realidade de uma sala de aula? Não! E olha que me formei em 2009!

Escreve-se e fala-se muito dos problemas da escola, mas e os problemas dos cursos de formação? Quem discute? O Curso Normal e as licenciaturas são a base da escola que temos hoje. Que cursos temos, que não são capazes de despertar a vocação nos verdadeiros educadores e de barrar aqueles que não nasceram para ensinar? O que as provas objetivas, aplicadas no Curso Normal e de Pedagogia, podem avaliar em um educador?

Não é preciso saber na ponta da língua o que todos os grandes educadores disseram, em qual livro está e o número da página; é preciso saber usar esses legados como base na construção de seus próprios degraus na educação.

Muitos dizem: “Não adianta ter uma boa formação, pois o sistema acaba engolindo todo mundo”. Até agora não sei se o sistema é um monstro enorme com garras afiadíssimas, uma boca engolidora de sonhos e atitudes profissionais coerentes ou uma mera lenda criada por professores que tiraram seu time de campo pela velha e boa estabilidade do concurso público.

Penso que professores mal formados é que são oprimidos pelo sistema, acabam cedendo aos seus apelos e, no lugar de estarem discutindo o fazer pedagógico, ficam comprando perfumes e lingeries em suas reuniões. E, depois, ainda querem ser respeitados pelos alunos, admirados pelos pais e valorizados pelo governo.

Quando somos acadêmicos, nos fazem venerar Paulo Freire, Piaget, Vigotsky, Emilia Ferrero, Ana Teberoski. Eu gostaria muito mais de encontrar nos cursos de formação professores que eu pudesse admirar por estarem enfrentando as dificuldades de hoje e ainda assim serem mestres em ensinar. E por falar em mestres, você tem visto alguns por aí? Ah, não, ninguém mais quer ser mestre... só tia está bom...