O valor que damos ao
consumo serve para que os mais novos criem preconceitos e desprezem seus pares
Uma criança é xingada porque não usa a
mesma pulseira que as colegas e outra recebe poucos colegas para a festa de
aniversário porque a comemoração não foi feita no bufê da moda.
Situações como essas, que são apenas exemplos,
estão se tornando cada vez mais frequentes na convivência entre os mais
novos.
O consumo valorizado e exagerado que adotamos e
os modismos lançados por esse mercado estão caindo diretamente sobre os ombros
das crianças. Elas estão sem proteção em relação a isso.
Até agora, uma significativa quantidade de pais
que se preocupam em defender a infância dos filhos estava preocupada com a
quantidade de presentes (brinquedos e geringonças tecnológicas) que as crianças
ganham.
Os motivos das preocupações que eles tinham até
então são legítimos. Quanto mais brinquedos tem uma criança, menos ela brinca.
Quanto mais aparelhos com mil e uma utilidades têm as crianças e os
adolescentes, menos eles conseguem se concentrar no que é preciso e mais deixam
sua atenção flutuar entre diversas coisas.
Agora, esses pais e outros que queiram refletir
sobre o que se passa com seus filhos quando eles convivem no mundo púbico
(escola, clube, área comum dos condomínios) precisam considerar uma outra
questão.
Eles precisam considerar também que o imenso
valor que estamos dedicando ao consumo tem servido para que os mais novos criem
preconceitos e estereótipos que servem para excluir, segregar, desprezar seus
pares.
E antes que você pense que seu filho pode ser
alvo ou vítima dessa situação, considere principalmente que ele pode ser um
agente dela.
Sim, caro leitor, o fato de você impedir que
seu filho tenha mais do que precisa, que valorize marcas em vez de objetos e que
manifeste soberba, por exemplo, hoje já não é mais suficiente para livrar seu
filho de julgar os colegas e os outros pelo que eles têm ou deixam de ter.
Lembre-se que seu filho vive neste mundo que o
bombardeia com informações que o direcionam a fazer isso. "Quer ser popular?
Compre tal objeto." "Quer ser convidado para todas as festas? Use tal roupa."
"Quer ter sucesso? Tenha tal carro."
Frases desse tipo repetidas como mantras colam
em seu filho. Por isso, você terá de fazer mais por ele.
Uma boa atitude pode ser a de analisar
criticamente as propagandas bonitas, vistosas e bem-humoradas que seduzem seu
filho. Com sua ajuda, seu filho pode entender que a única coisa verdadeira nesse
tipo de propaganda é o objetivo de vender.
Além disso, você pode também expressar a ele,
com veemência, sua opinião a respeito de quem usa bens de consumo para julgar o
outro. Sinalizar seu posicionamento é uma ótima referência na formação de seu
filho.
Finalmente: que tal cultivar, com persistência
e cotidianamente, algumas virtudes que podem ajudar seu filho a ser uma pessoa
de bem?
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