segunda-feira, 30 de junho de 2014

" Mentalidade Monarquista "

NILSON SOUZA



Por coincidência, terminei de ler ontem as 415 páginas de 1889, exatamente no dia em que este jornal publicou uma bela entrevista com o autor do livro, Laurentino Gomes. O jornalista paranaense que virou escritor de sucesso, e que vem recontando de maneira deliciosa a história do Brasil, disse ao repórter Alexandre Lucchese que a herança monárquica é mais forte do que a republicana na formação do caráter do brasileiro.

O que isso significa? Segundo o escritor, que parcela expressiva da população prefere acreditar que o soberano, o monarca, agora representado pelo Estado, lhe dará tudo o que necessita, sem que precise se envolver e participar da vida do país. Do mesmo teor é o pensamento mágico de que todos os políticos são corruptos e que é preciso entregar a um ditador (imperador?) a tarefa de moralizar a nação.

Seríamos, portanto, uma República com mentalidade monarquista. Realmente, o próprio Laurentino conta em seu livro que os brasileiros nunca tiveram muito apreço pela República, na verdade um golpe militar na carcomida monarquia de Dom Pedro II, ele mesmo um simpatizante do regime republicano. Outra assustadora constatação, essa atribuída ao abolicionista Joaquim Nabuco, é a de que a escravidão prolongada fez com que os brasileiros desprezassem o trabalho, pois quem trabalhava era o escravo.

Corta para esta segunda-feira que assinala a metade do ano. Neste momento, avança no Congresso um projeto do deputado mineiro Newton Cardoso que pretende extinguir exatamente o feriado da Proclamação da República, o 15 de Novembro, sob o argumento de que o movimento comandado por Deodoro da Fonseca não teve participação popular.

Não teve mesmo. O projeto de Newtão é absurdo, mas pode ter um efeito positivo para a economia do país. Caso seja aprovado, neste ano só voltaremos a ter feriado no Natal. Julho e agosto não têm feriados, o 7 de Setembro cai num domingo, como também 12 de outubro (Nossa Senhora Aparecida) e 2 de novembro (Finados).

Nada mais republicano – para usar a linguagem da moda – do que trabalhar, não é verdade?

" E después de ti no hay nada "


Fabio Hernandez*
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Pedro estava em seu pequeno apartamento de jornalista solteiro. O clássico entre os jornalistas: muitos livros e discos, pouca ou nenhuma organização, garrafas variadas de bebida, comida precária. Roupas, em geral baratas, espalhadas pelos cômodos, algumas delas no chão. Gravuras bem escolhidas, e jamais caras, nas paredes. Alguns pôsteres. Um deles, seu predileto, mostrava a cena final de Butch Cassidy: os dois mocinhos feridos, revólveres em ambas as mãos, correndo rumo à morte ignorada. Um retrato do pai. Pedro estava deitado na cama baixa.

“Gostaria tanto de ter dado um jeito em seu apartamento e em você”, disse Carol. Ela estava se vestindo, na beira da cama, e ao mesmo tempo indo embora. Naquela tarde, tinha avisado a Pedro que o caso deles acabara. O marido banqueiro começara a suspeitar de que algo estranho estava acontecendo com a mulher, e tudo ficara complicado. Carol amava Pedro, mas não a ponto de colocar em risco sua vida de mulher da sociedade paulistana. Não era apenas o marido que estava em jogo, mas o círculo de amigos, os jantares e as festas e os almoços em que aquela pequena elite fugia do tédio à base de flertes entre os casais, bebida fina e antidepressivos da última geração. “Sinto que fracassei”, disse Carol. “Saio da sua vida e você está do mesmo jeito que estava quando entrei nela.”
“E você, você mudou em alguma coisa?”, Pedro perguntou.

Ela riu, e quando isso acontecia seus enormes olhos verdes brilhavam como faróis solitários num mar bravio e remoto.

“Melhorei muito no beijo, com certeza. Pedro. Jamais existiu antes para mim e nem vai existir no futuro um beijo como o nosso. Eu tinha vontade de te beijar pela eternidade. Disso, do beijo, é que vou sentir mais falta. Não que do resto não vá sentir, mas …”

“Mil cópulas não valem um grande beijo”, disse ele. “Li isso outro dia num blog.”

“Legenda, por favor.” Sempre que ele usava uma palavra que ela desconhecia, ela pedia a legenda.

“Sexo. Cópula é uma maneira vulgar, mas interessante, de dizer sexo. Fazer amor também é vulgar, só que é desinteressante”, ele disse, e sorriu.

“Gosto da sua risada, Pedro. Também vou sentir falta dela. Risada de menino. Inocente. O tempo transforma a risada numa coisa maliciosa, mas você conservou a inocência no riso.”

“Também gosto da sua. Um escritor, não sei qual. Um grande escritor. Ele disse que contava nos dedos o número de mulheres capazes de gargalhar sem ficar ridículas. Esqueci o nome do escritor, mas não a frase. Você é um caso desses. Ri e gargalha com classe.”

“Você me acha calculista por eu estar indo embora, Pedro? Uma vez você disse que eu parecia uma máquina de calcular.”

“Você disse que se sentia fracassada por não ter dado um jeito em mim e no meu apartamento. O meu fracasso foi não ter transformado você numa mulher irresponsável como eu, Carol. Era uma missão acima das minhas forças, agora eu entendo. Mas num certo momento eu achei que podia o impossível com você. Sou … sou … sei lá, um otimista amoroso. Ou tolo.”

Ela acabara de se vestir.

“Vou sentir falta deste seu vestido”, ele disse. Era um vestido de tecido fino e de muitas transparências. Um decote grande e algumas rendas. Quem o escolhera, pacientemente, fora o marido de Carol. Numa manhã de sábado ele a acompanhara a uma loja fina do Iguatemi, e ela experimentou vários vestidos. Pedira ao marido que escolhesse aquele que mais a fizesse irresistível. Carol estreou o vestido com Pedro.

“Só não te dou agora o vestido porque, bem, porque bem não dá pra sair assim daqui”, disse Carol.

Pedro riu. Lembrou-se de um episódio de Friends em que a namorada de Ross pedia a ele, na despedida, que lhe desse de recordação uma camisa rosa que ele amava. Ela já estava com a camisa na mão. Era uma cena romântica. Ele pensa por um instante e diz, firme: “Não”. Ao mesmo tempo, pega de volta a camisa. O jeito Friends de lidar com cenas românticas.

“Pedro. Também vou sentir falta da imagem de você cheirando os dedos.”

Pedro riu. “Carol, é melhor você parar de falar assim. Sou meio sentimental, e não quero fazer uma cena na hora da despedida. Não quero que lágrimas atrapalhem a última visão de você.”

“Você dizia que era o melhor cheiro do mundo”, disse Carol.

“E é. A combinação de seu perfume de mulher rica com sua essência íntima de fêmea. Uma vez eu fiquei um dia inteiro sem lavar as mãos. Quando estava desanimado levava as mãos ao nariz e sorvia o ar como um mergulhador que demora a subir.”

O celular de Carol tocou. Era o marido. Pedro entendeu que a hora chegara.

“Você. Você canta para mim uma vez, a última vez? Aquela música.”

Ela sabia bem qual era a música. Pedro era um esnobe cultural, e gostava do seu esnobismo. Jamais ouvira música espanhola romântica. Desprezava Julio Iglezias e outros cantores similares. Até o dia em que Carol, do nada, começou a cantar para ele Corazon Partido. Jamais ouvira esta música. Carol não cantava como uma profissional, mas era afinada e tinha voz bonita. Secretamente, ele pusera Corazon Partido em seu iPod, e às vezes escutava obsessivamente.

Carol, nessas horas, aparecia em sua mente, linda, vivaz, apaixonada, arrebatadora, os imensos olhos verdes fixados nele. Carol o influenciara mais do que Pedro poderia imaginar. Nenhuma outra mulher antes conseguira fazê-lo gostar de uma música romântica e brega espanhola.

Ela atendeu ao pedido de Pedro. E después de ti, después de ti no hay nada. Era o trecho de que mais ele gostava. Quando ela terminou, disse a Pedro: “Posso também pedir uma coisa?”

Pedro aquiesceu com a cabeça.

Ela foi a Pedro e o beijou. Já na porta, ela disse a ele: “Aquele livro. O primeiro que você me deu. Dostoievski. A frase final. Tudo podia ter sido tão diferente. Para nós também, Pedro. Tudo podia ter sido tão diferente. Mas … mas eu também não quero que lágrimas distorçam minha última visão de você, Pedro. Pedro. Meu Pedro.”

E então ela partiu, apressada, rumo a seu marido e a sua vida de mulher da sociedade.
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* Conto de Fabio Hernandez. Escritor cubano. O cubano Fabio Hernandez é, em sua autodefinição, um "escritor barato".
Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br

" O Imprevisto Presidiu os acontecimentos "

Artigo Zero hora

PAULO BROSSARD
Jurista, ministro aposentado do STF
 
 
A circunstância de dois ilustres homens públicos terem anunciado seu propósito de não disputar nova eleição lembrou-me que, com isto, o país ficou privado de personalidades de inegável experiência.
 
Pareceu-me que, com a decisão personalíssima dos dois políticos, a nação sofreu o que se poderia chamar de desperdício, perdendo o que não se encontra no mercado, nem a peso de ouro.

Não preciso lembrar aos gaúchos que Pedro Simon atravessou mais de meio século de vida pública sem ter sido alvo de uma nódoa e com o respeito de seus colegas e inclusive de seus adversários. Quanto ao presidente José Sarney, que encerra sua carreira de quase 60 anos, limitar-me-ei a apreciá-lo como presidente, o que constituiu uma mudança na sua vida e foi a mais exaustiva das provas.

Na eleição congressual na sucessão do presidente general Figueiredo, a chapa da oposição foi composta por Tancredo Neves e José Sarney. Como é notório, o presidente eleito, na noite anterior à posse, foi operado com urgência, vindo a falecer dentro de algumas semanas, razão pela qual o vice-presidente, eleito para substituí-lo nos impedimentos e sucedê-lo na vacância do cargo, viu-se investido na presidência da República.
 
 O imprevisto presidiu os acontecimentos. A meu juízo, e na medida das informações que armazenei, o novel presidente, deixando à margem todos os antecedentes da sua vida, imbuiu-se da singularidade da sua investidura, exercendo o governo como se fora uma espécie de testamentário. De início, manteve o ministério escolhido por Tancredo, só alterado quando as eleições levaram alguns ministros a buscarem novos cargos. Na sua mesa de trabalho, colocou a relação de todos os compromissos assumidos por Tancredo e passou a cumpri-los, rigorosamente, executando-os sem alarde.

Segundo a Constituição da Itália, quem foi presidente da República (e na Itália vige o regime parlamentar, segundo o qual o presidente da República é tão só o chefe de Estado) passa a ser senador vitalício. Cada presidente da República possui também a prerrogativa de nomear cinco senadores vitalícios que tenham “enaltecido a pátria em virtude de elevadíssimos méritos no campo social, científico, artístico e literário”. Atualmente, esses incluem, entre outros, um maestro, um arquiteto, um físico e uma neurobiologista, todos de renome internacional.

Não estou a propor a imitação italiana, mas limito-me a mostrar tentativas de inovar procedimentos benfazejos.


" O Processo Penal de Faz de Conta "

Artigo Zero Hora


RODRIGO NOSCHANG
Defensor público do Estado
Instituído está
o processo penal
de faz de conta.
Até quando?
 
Dá-se o fato. O Estado, por seus mecanismos e instituições policiais, realiza a investigação e, após finalizá-la, remete-a à Justiça. Ali, inicia-se um processo penal que, observadas as regras e garantias processuais a ambas as partes (sim, o Estado acusador também tem garantias), deve culminar com uma decisão, aplicando ou não uma pena, conforme seja comprovada ou não a culpa do acusado.


Obviamente que essa pequena resenha, sintetizando o caminho percorrido até a conclusão da persecução penal de um fato, desconsidera inúmeros atos praticados no curso do processo, que exigem uma estrutura judiciária condizente com a demanda. A inexistência dessa estrutura adequada (ou, em muitos casos, a sua ineficiência) acaba por ocasionar a demora na conclusão dos feitos, gerando intranquilidade social e, muitas vezes, ao próprio acusado.

Por isso, existe aquilo que se chama de prescrição, instituto jurídico destinado a extinguir a pretensão punitiva do Estado ou até mesmo a possibilidade de execução de penas já impostas, justamente pela demora na solução do litígio, o que, notadamente nos delitos de menor gravidade, traduz-se em desnecessidade e falta de interesse (por vezes da própria vítima) em ver o réu punido.
 

O problema é que, pelo texto da lei vigente, a prescrição baseada na pena aplicada só pode ser reconhecida após a conclusão do processo, tanto que o Superior Tribunal de Justiça, em 2010, aprovou a edição da súmula nº 438, que tem o seguinte enunciado: “É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”.
 

Assim, mesmo que a súmula não tenha caráter vinculante, ela passou a balizar decisões de órgãos judiciais, mormente de primeiro grau, que não mais reconhecem a chamada prescrição projetada ou virtual, ou seja, fundada naquela possível pena que seria aplicada ao final do processo, em caso de condenação.

Diante disso, as varas criminais, açodadas de trabalho, precisam continuar processando feitos em que, após concluídos, reconhece-se que o Estado não tem mais o direito de punir, com prejuízos a todos os atores processuais.

Enfim, instituído está o processo penal de faz de conta. Até quando?



" A última festa "

Editorial Zero Hora


Editorial30O Rio Grande do Sul recebe nesta segunda-feira o último jogo da Copa programado para Porto Alegre, entre as seleções da Alemanha e da Argélia. A Capital, em especial, mas também a Região Metropolitana, passa pelo teste decisivo da movimentação atípica de veículos e pessoas.
 
Porto Alegre já se submeteu a essa prova em quatro oportunidades, em jogos anteriores, e passou por todas com mérito. Na mais desafiadora, recebeu um contingente histórico de argentinos, que levaram do Estado a confirmação de que oferecemos mais do que hospitalidade aos turistas. Porto Alegre provou a cada jogo que estava preparada para a Copa.

O aspecto mais relevante dos desafios já vencidos e dos que se apresentam agora, no último espetáculo do Mundial no Estado, é o de que os gaúchos superaram barreiras consideradas quase intransponíveis. Assim como ocorreu nas demais 11 sedes da Copa, muito do que foi divulgado, às vésperas do evento, conduzia à conclusão de que o Brasil corria sérios riscos.
 
 O país poderia não só fracassar como sede, ficando em situação constrangedora aos olhos do mundo. Poderia expor-se a um vexame, pelos atrasos nas obras, pela incapacidade de cumprir prazos e pela própria resistência interna, de setores contrários à realização do Mundial.

O país venceu as desconfianças e a torcida do contra. Porto Alegre, em particular, superou impasses que devem ser reconhecidos e assimilados como lição. Além dos projetos na área da mobilidade, que não evoluíram de acordo com o cronograma inicial, foi preocupante a vacilação criada, a poucos meses da abertura do evento, com a transferência de responsabilidades pelas chamadas estruturas temporárias.
 
 Superados os desentendimentos, deve-se ressaltar hoje a capacidade de reação do setor público, Executivo e Legislativo, para que as obras do entorno do Beira-Rio fossem viabilizadas. Profissionais estrangeiros que vêm frequentando esses espaços observam que o trabalho realizado pelos gaúchos não perde em qualidade na comparação com o que foi feito em outras Copas.

Comprovou-se também que, apenas com falhas pontuais, o sistema de logística tem funcionado e que Porto Alegre, ao contrário do que os mais pessimistas previam, não se transformou na cidade do caos.
 
 Ao encerrarmos hoje nossa participação, temos como melhor saldo da Copa a sensação de que o Estado sai gratificado. É justo o sentimento dos gaúchos de que, mesmo podendo, quem sabe, fazer um pouco mais, o que está aí deve ser considerado representativo do que temos de melhor.


domingo, 29 de junho de 2014

" Tristeza "



Rubem Alves*
Hoje quero falar da tristeza.
Não me perguntem por que, pois eu mesmo não sei.
A tristeza não pede licença, não se explica.
Vai chegando de mansinho e espalhando seu perfume
de jasmim pelas coisas, até que todas ficam encantadas pela beleza que nela mora.
Ficam belas-tristes as nu­vens do céu, tristes-belos os bem-te-vis nos galhos das árvores,
belos-tristes os objetos silenciosos do meu escritório, e até mesmo
o café da manhã fica triste-belo...
A tristeza é sempre bela, pois ela nada mais é que o sentimento
que se tem ante uma beleza que se perdeu...

Não sei o que a chamou. Teria sido a visão das florestas ardendo, com seus prenúncios de desertos quentes e fins do mundo, os pássaros fugindo para nunca mais voltar? Ou a visita a lugares antigos amados... Ah! Quem ama nunca deveria voltar... Lembro-me dos versos que decorei no Grupo, o poeta visitando paisagens de outros tem­pos e cadenciando a sua tristeza com um refrão que se repete. “São estes os sítios? São estes... Mas eu o mesmo não sou. Marília, tu chamas? Espera que eu vou...” Até a bem-amada fica à espera quando o corpo tenta recuperar os espaços perdidos. Pois é. Visitei lugares de minha infância lá em Minas, e vi que a casa velha onde morei já não existe e nem a jabuticabeira que reguei e as três paineiras a cuja sombra me assentei. Fiquei ali, diante dessas ausências. E percebo que tristeza é isto: estar diante de um espaço onde um dia houve o encontro. Saber que, cedo ou tarde, tudo o que está presente ficará ausente. A tristeza testemunha que o mistério da despedida está gravado em nossa própria carne. “Quem nos desviou assim”, perguntava Ril­ke, “para que tivéssemos um ar de despedida em tudo o que fazemos?” Não é esta ou aquela despedida. As pequenas despedidas apenas acordam em nós a consciência de que a vida é uma despedida. O que Cecília Meirelles dizia de sua avó morta podemos dizer da vida inteira: “Tudo em ti era uma ausência que se demorava, uma despedida pronta a cumprir-se...” Tristeza é isto, quando o belo e a despedida coincidem. O que revela o nosso próprio segredo, dilacerado entre o belo, que nos tomaria eternamente felizes, e os nossos braços, curtos demais para segurá-lo.

“E quando nos sentimos mais seguros algo inesperado acontece: um pôr-do-sol... E estamos perdidos de novo...” (E. Browning). Mas, que será aquilo que nos põe a perder? A beleza do crepúsculo? Não. Mas a percepção de que a beleza é crepúsculo. Goethe dizia do pôr-do-sol: “Tudo o que está próximo se distancia”. Ao que Borges comenta: “Goethe se referia ao crepúsculo, mas também à vida. Aos poucos as coisas vão nos abandonando”. O pôr-do-sol é triste porque nos conta que somos como ele: infinitamente belos em nossas cores, infinitamente nostálgicos em nosso adeus.

A tristeza é o espaço entre o belo e o efêmero, de onde nasce a poesia. Não é por acaso que os poetas repetem sempre o mesmo tema. “As nuvens à volta do sol que se põe”, dizia Wordsworth, “ganham suas cores tristes de um olho que contempla a mortalidade dos homens...” E assim, os poetas vão colocando suas palavras sobre o vazio. Não um vazio qualquer, vazio “pedaço arrancado de mim”, mutilação no meu corpo. Exercício de saudade; tornar de novo presente um passado que já se foi. “Saudade é o revés de um parto, é arrumar o quarto para o filho que já morreu...”
Lembro-me de Álvaro de Campos dizendo da dor que sentia ao ver os navios que se afastavam do cais. “Ah! Todo cais é uma saudade de pedra... Todo atracar, todo largar de navio é — sinto-o em mim como meu sangue — inconscientemente simbólico, terrivelmente ameaçador de significações metafísicas. E, quando o navio larga do cais e se repara de repente que se abriu um espaço entre o cais e o navio, vem-me uma névoa de sentimentos de tristeza que me envolve com uma recordação de uma outra pessoa que fosse misteriosamente minha...

E é só agora, Drummond, que compreendo o que você diz no seu poema "Ausência", no qual você afirma não lastimar o espaço vazio. Não deveria ser assim... Acontece que, depois da partida, só fica a ferida, ferida que não se deseja curar, pois ela traz de novo à memória o belo que uma vez foi. “Por muito tempo achei que ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não o lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim... Não é estranho isto, que na tristeza more a beleza, e que se encontre aí mesmo um pouco de alegria? É mais bonita a dor de quem arruma o quarto para o filho que já morreu, que o vazio/vazio de quem não tem nenhum quarto para arrumar.
Brinco com a minha tristeza como quem cuida de uma amiga fiel...
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* Teólogo. Educador. Escritor.
Fonte: Correio Popular online

" Direto das Papudas "



BRASÍLIA - Diante da "suruba", como diz o deputado Alfredo Sirkis, ou da "bacanal", como prefere o prefeito Eduardo Paes, tratou-se com estranha naturalidade o fato de alianças partidárias serem comandadas ou avalizadas por condenados, diretamente das prisões.

Da Papuda, o ex-deputado Valdemar Costa Neto mandou o PR botar a faca no pescoço da presidente da República: se ela não trocasse o ministro dos Transportes, o partido é que trocaria... de candidato.

Na convenção do PT, Dilma foi muito aplaudida ao dizer que "não fica de joelhos para ninguém". Bastaram quatro dias e lá estava ela de joelhos para o PR de Costa Neto.

Depois de ter batido várias vezes a mão na mesa, jurando que não trocaria de ministro, Dilma acabou se rendendo à pressão não apenas do PR, mas principalmente de Lula e do PT. Tudo por causa de um minuto e uns segundinhos de TV a mais na campanha eleitoral.

Foi assim que César Borges caiu dos Transportes pelas suas virtudes, não pelos seus defeitos. Técnico sério, Borges tinha a aprovação da presidente e muito respeito no setor. Seu problema é que não era chegado às "surubas" do partido.

Do outro lado, foi do Presídio Ary Franco, no Rio, que o ex-deputado Roberto Jefferson avalizou que o PTB saísse da base aliada de Dilma e fosse para a campanha de Aécio.

Um reluzente pôster de Jefferson ilustrou a convenção que formalizou o apoio ao tucano, e partidários sorridentes puderam fazer "selfies" junto à foto do condenado famoso.

Enquanto Dilma ganha disparado a corrida pelo tempo de TV, Aécio e Eduardo Campos colhem as dissidências, principalmente do PMDB, para chapas e palanques estaduais.

Ao largo da "suruba" e da "bacanal", a economia continua produzindo farto material para a oposição. Em maio, o deficit do governo bateu recorde e o aumento do emprego formal foi o pior para o mês em 22 anos. Mas quem se interessa por isso?

" De vaia ao papo furado "

                                               FERREIRA GULLAR



Que Dilma Rousseff, indo ao jogo de estreia da Copa, seria vaiada, ninguém duvidava, nem nós nem ela

Insultar quem quer que seja é coisa que não se pode aceitar, muito menos quando se trata de uma senhora e senhora essa que exerce o cargo de presidente da República. Quem fez isso, qualquer que tenha sido o motivo, cometeu um ato indefensável.

É indiscutível. O outro lado dessa tolice é oferecer argumento aos partidários da ofendida, que é também candidata a novo mandato presidencial. Quem age sem pensar ajuda o adversário, como ocorreu agora neste episódio que envolveu Dilma Rousseff. Que ela, indo ao jogo de estreia da Copa do Mundo, seria vaiada, ninguém duvidava, nem nós nem ela.

Tínhamos certeza de que ela jamais apareceria ali, depois das vaias que já havia tomado, ao mostrar-se em público. Mas desta vez estava obrigada a ir ao Itaquerão, uma vez que vários chefes de governo de países que participam da Copa estariam presentes ali.

Mesmo temendo ser vaiada, na qualidade de anfitriã, não poderia estar ausente. Por isso foi e, como temia a reação do público, ficou quietinha no seu canto, não discursou, não saudou o público das arquibancadas. Sucede que a televisão revelou a sua presença e a projetou no telão: a vaia inevitável aconteceu e, infelizmente, os insultos também.

Vaia é uma manifestação pertinente com que a massa popular costuma expressar sua desaprovação, por exemplo, ao modo como um governante governa. A legitimidade da vaia apoia-se no fato de que ela expressa o descontentamento da maioria, o que não significa que seja sempre justa.

Por exemplo, a vaia contra Diego Costa, o brasileiro que integra a seleção espanhola, foi simplesmente idiota. A verdade é que, se a maioria não apoia a vaia, ela não ocorre e, se ocorrer, mixa. Aliás, isso raramente acontece, porque, ao que tudo indica, quem vaia acredita que expressa o sentimento de todos. Quem vaia não duvida.

Daí por que a vaia, quando se trata de um (ou uma) governante, é um fato político importante, pois demonstra que o descontentamento dos governados chegou ao limite. E frequentemente expressa também certa impotência dos descontentes em face do governante que tanto lhes desagrada.

É como se gritassem: "Chega! Vai embora!". Mas, para que esse desejo se realize, é necessário derrotá-lo nas urnas. Não basta vaiar, nem muito menos insultar.

De qualquer modo, no caso da presidente Dilma, a vaia é sinal de uma crescente impopularidade, que se expressa também nas pesquisas de opinião.

É igualmente significativo que, sendo ela, dentre os candidatos à presidência de República, quem está permanentemente na televisão, discursando, prometendo benesses ao setor mais carente do eleitorado, inaugurando obras realizadas ou por realizar, a verdade é que, apesar disso, a cada dia que passa, ela cai nas pesquisas.

Embora isso não signifique que já tenha perdido as eleições, trata-se, sem dúvida, de um fato preocupante, que assusta também Lula e a direção do PT.

Lula, que afirmara, faz pouco tempo, que não permitiria a volta do PSDB ao governo do país, sabe muito bem que, mesmo sem sua permissão, isso pode ocorrer. Por isso mesmo, saiu da sombra em que se mantinha para assumir a defesa de sua candidata e indicar o rumo da sua campanha pela presidência da República, que se encontra em plena marcha, mesmo desrespeitando a lei eleitoral.

"Se em 2002, fizemos uma campanha da esperança contra o medo, agora é da esperança contra o ódio", afirmou ele, deixando claro, descaradamente, que vai repetir o mesmo truque de antes: fazer-se de vítima de um inimigo que odeia o lulismo por este defender os desamparados; como nas histórias em quadrinhos, trata-se do mal contra o bem, do ódio contra a esperança.

Sucede que nenhum político pregou tanto o ódio contra seus adversários quanto Lula que, ao ver que assim nunca se elegeria presidente da República, mudou o discurso para se tornar o "Lulinha paz e amor".

O ódio contra a esperança? Parece piada. Que esperança pode representar um partido que, após doze anos de governo, levou o país à inflação e paralisou o crescimento econômico?

A esperança não pode estar em reeleger quem fracassou e, sim, em mudar o que não deu certo

sábado, 28 de junho de 2014

" Separações líquidas "

                                        FABRÍCIO CARPINEJAR


Casar virou namorar, namorar virou ficar, ficar virou provar.

Acredito que todo mundo casa fácil porque é também muito fácil se separar.

Nos anos 70, o casamento era medido por décadas. Mesmo quando um casamento fracassava, durava no mínimo duas décadas.

Nos anos 80, o casamento era medido por anos. Mesmo quando um casamento desmoronava, durava no mínimo cinco anos.

O casamento hoje é por dia. Como se fosse hotel.

Agora, o matrimônio cobra diária. Todo dia é dia de se separar. E por qualquer coisa.

Las Vegas do divórcio é aqui.

Você pode sair de manhã, eufórico e confiante, extremamente disposto, seguro do romance, e quando voltar à noite não encontrar mais ninguém ao seu lado.

Se cometeu uma falha, nem terá oportunidade de se explicar. Se não errou, nem terá chance de entender e desfazer confusões.

É tão simples se divorciar que ninguém mais pretende se estressar. Não há nem o civilizado e educado aviso de despejo. É dar as costas, largar o passado e seguir adiante. Quebrou o amor, troca! Quebrou o amor, compra outro! Quebrou o amor, não vale investir consertando!

Os casais não brigam mais até cansar para, então, se separar. Não brigam mais até esgotar as possibilidades para, então, se separar. Não tentam durante semanas e semanas expor as dores, as feridas e a raiva para, então, se separar. Não recorrem ao choro, à histeria, ao perdão, ao abraço, ao exorcismo, aos centros religiosos, aos amigos, aos parentes para, então, se separar.

A separação vem antes. A separação é a regra. A separação é o hábito. A separação é seca, definitiva, sem explicações.

As pessoas se separam primeiro para depois discutir. As pessoas se separam primeiro para depois conversar. As pessoas se separam primeiro para depois desabafar o que incomoda.

Elas arrumam todas as malas, esvaziam os armários, realizam a limpa no apartamento e depois, se houver vontade, se encontram e sentam frente a frente para resolver as diferenças.

São uniões interrompidas com silenciadores, distante de estampidos e gritos.

Ninguém se separa de fato, todo mundo deserta, todo mundo abandona a convivência.

É uma irresponsabilidade extraordinária com o outro, é uma indiferença tremenda ao que foi construído com o outro, é um desprezo ao que foi sonhado a dois.

E os motivos podem ser os mais loucos e insignificantes. O desenlace não ocorre mais por justificativas duras como adultério e deslealdade.

Há gente que se separa por incompatibilidade de gênios (expressão que denuncia megalomania, o correto seria incompatibilidade de burros).

Há gente que se separa porque não suporta o medo de ser traído.

Há gente que se separa porque estava muito feliz e não aguentava tamanha pressão.

Há gente que se separa porque se viu entregue ao relacionamento e estava perdendo a identidade.

Há gente que se separa porque não sabia mais o que estava fazendo da vida.

Há gente que se separa porque não esperava que fosse assim.

Atualmente entra-se numa relação e não se fecha a porta – a porta permanece encostada o tempo inteiro.

" Coraçãozinho "

MARTHA MEDEIROS


Quem viaja para um país exótico sempre acaba provando algum prato estranho, fora do seu costume. Nem que seja para fotografar e postar numa rede social com a legenda: sobrevivi.

Escorpião frito em Cingapura, morcego à caçarola no Vietnã, cérebro de macaco na África, sopa de cachorro na Coreia do Sul, ou mesmo uma iguaria chique e nem tão exótica, como o escargot francês – lesma, em bom português. Nada disso mata, mas produz muita cara feia. Minto: algumas refeições matam, sim – o baiacu venenoso da cozinha japonesa, por exemplo. Por mais bem treinados que sejam os chefs que se habilitam a preparar esse peixe, ainda assim 20 pessoas por ano dão adeus à vida depois de ingeri-lo.

Pois o Brasil está tendo a chance de, simpaticamente, dar o troco. Nunca recebeu tantos estrangeiros de uma só vez como no período da Copa, e essa gente toda, de tantas partes do mundo, precisa se alimentar. A caipirinha cai no agrado de todos, mas como eles estarão enfrentando os sólidos? Vatapá não mata, só nocauteia. Buchada de bode dizem que também não mata, mas duvido. E farofa de formiga costuma ser confundida com farofa de amendoim, ou seja, os gringos não devem estar passando muito trabalho no Norte e Nordeste, ao menos nada que se compare com a cena que vi de uns australianos, aqui no Sul, encarando seu primeiro coração de galinha.

“Vocês comem coração de galinha???? Oh, my God!”

Dizer a eles que chamamos carinhosamente de coraçãozinho não minimizou o asco. Entendo: eu também não ficaria comovida se me servissem um filezinho de cobra. Mas cobra é um réptil repugnante, viscoso, traiçoeiro, já a galinha é uma criatura doméstica, pacífica, rechonchuda. Mais arisca do que dócil, é verdade, mas nunca fez mal a ninguém, logo, é tenro seu coraçãozinho.

Tentaram. Mas foi como se estivessem de frente para um olho de cabra, um rabo de camundongo, o músculo de um gambá. Demonstraram absoluto pavor em comer um coração, algo que ainda estava batendo dias atrás, símbolo da paixão e da vida – mesmo de uma galinha.

Uns não tiveram coragem, outros tiveram e fizeram caretas tão repugnantes e sofridas que chegou a me dar pena: coitados, não estava sendo uma experiência cultural, e sim uma tortura impiedosa. Ok, acabou a brincadeira, vamos pedir hot dog para todo mundo – e que ninguém venha comentar as minúcias da fabricação de salsichas.

Dias atrás teve churrasco aqui em casa e vi meus dois pequenos sobrinhos devorarem um quilo de coração sem dó, com uma gula de centroavantes. Por que eles não questionam o que comem? Porque a gente só reluta diante do desconhecido. Se fosse servido um canguruzinho a vapor (que os australianos, aliás, adoram), aí teria que ter preleção antes – e nem gosto de imaginar as caretas.

" Júlio César " o herói sem nenhum carisma ...


Kiko Nogueira*
Júlio César entra fácil em qualquer lista dos jogadores mais sem carisma da história. Nunca foi ouvido dizendo uma frase perspicaz, original ou mesmo absurda, não é dado a vibrar, não é um líder, nada. O anti-Leão.

Mas quem precisa disso quando se tem alma? Foi o heroi do jogo contra o Chile ao pegar dois pênaltis na prorrogação e após uma defesa difícil num chute à queima roupa no segundo tempo.

Há quatro anos, foi crucificado depois da partida em que a Holanda despachou o Brasil nas quartas. Falhou miseravelmente no segundo gol, numa saída patética em que Felipe Melo acabou marcando contra.

De certa forma, se Felipe Melo não estivesse ali, JC seria o único culpado. Ele conta que pensou em se aposentar. Se Melo nunca mais mereceu outra chance, Júlio foi lembrado por Felipão em 2013 — apesar de estar no Toronto FC, do Canadá, onde só se joga hóquei. Pouco antes, passara pelo pequeno Queens Park Rangers, da segundo divisão inglesa.

“Quatro anos atrás eu dei uma entrevista muito triste, muito chateado. Eu to repetindo hoje, mas com muita felicidade. Só Deus e a minha família sabem o que eu passei e o que eu passo até hoje, mas o meu ciclo na seleção não acabou”, disse ele com a voz embargada imediatamente depois da vitória sobre os chilenos. “Faltam três degraus, e eu espero dar outra entrevista, com o Brasil todo em festa”.

Scott Fitzgerald dizia que não há segundo ato na vida dos americanos. No futebol, JC é uma prova de que as novas chances são possíveis. Se Felipão, um homem fiel a um grupo de atletas, erra ao insistir em Hulk ou Fred, acertou ao bancar o insosso e emotivo Júlio César.
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*Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
FONTE: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/julio-cesar-o-heroi-sem-nenhum-carisma/

" O futebol como religião secular mundial "


Leonardo Boff*
A presente Copa Mundial de Futebol que ora se realiza no Brasil, bem como outros grandes eventos futebolísticos, semelhante ao mercado, assumem características, próprias das religiões. Para milhões de pessoas o futebol, o esporte que possivelmente mais mobiliza no mundo, ocupou o lugar que comumente detinha a religião. 
 
Estudiosos da religião, somente para citar dois importantes como Emile Durkheim e Lucien Goldmann, sustentam que “a religião não é um sistema de idéias; é antes um sistema de forças que mobilizam as pessoas até levá-las à mais alta exaltação”(Durckheim).
 
A fé vem sempre acoplada à religião. Esse mesmo clássico afirma em seu famoso “As formas elementares da vida religiosa: ”A fé é antes de tudo calor, vida, entusiasmo, exaltação de toda a atividade mental, transporte do indivíduo para além de si mesmo”(p.607). E conclui Lucien Goldamnn, sociólogo da religião e marxista pascalino:”crer é apostar que a vida e a história tem sentido; o absurdo existe mas ele não prevalece”.

Ora, se bem reparmos o futebol para muita gente preenche as características religiosas: fé, entusiasmo, calor, exaltação, um campo de força e uma permanente aposta de que seu time vai triunfar.

A espetacularização da abertura dos jogos lembra uma grande celebração religiosa, carregada de reverência, respeito, silêncio, seguido de ruidoso aplauso e gritos de entusiasmo. Ritualizações sofisticadas, com músicas e encenações das várias culturas presentes no país, apresentação de símbolos do futebol (estandartes e bandeiras), especialmente a taça que funciona como um verdadeiro cálice sagrado, um santo Graal buscado por todos. E há, valha o respeito, a bola que funciona como uma espécie de hóstia que é comungada por todos.

No futebol como na religião, tomemos a católica como referência, existem os onze apóstolos (Judas não conta) que são os onze jogadores, enviados para representar o país; os santos referenciais como Pelé, Garrincha, Beckenbauer e outros; existe outrossim um Papa que é o presidente da Fifa, dotado de poderes quase infalíveis. Vem cercado de cardeais que constituem a comissão técnica responsável pelo evento. Seguem os arcebispos e bispos que são os coordenadores nacionais da Copa. Em seguida aparece a casta sacerdotal dos treinadores, estes portadores de especial poder sacramental de colocar, confirmar e tirar jogadores. Depois emergem os diáconos que formam o corpo dos juízes, mestres-teólogos da ortodoxia, vale dizer, das regras do jogo e que fazem o trabalho concreto da condução da partida. Por fim vem os coroinhas, os bandeirinhas que ajudam os diáconos.

O desenrolar de uma partida suscita fenômenos que ocorrem também na religião: gritam-se jaculatórias (bordões), chora-se de comoção, fazem-se rezas, promessas divinas (o Felipe Scolari, treinador brasileiro, cumpriu a promessa de andar a pé uns vinte km até o santuário de Nossa Senhora do Caravaggio em Farroupilha caso vencesse a Copa como de fato venceu), figas e outros símbolos da diversidade religiosa brasileira. Santos fortes, orixás e energias do axé são aí evocadas e invocadas.
Existe até uma Santa Inquisição, o corpo técnico, cuja missão é zelar pela ortodoxia, dirimir conflitos de interpretação e eventualmente processar e punir jodadores, como Luiz Suarez, o uruguaio que mordeu um jogador italiano e até times inteiros.

Como nas religiões e igrejas existem ordens e congregações religiosas, assim há as “torcidas organizadas”. Elas tem seus ritos, seus cânticos e sua ética.

Há famílias inteiras que escolhem morar perto do Clube do time que funciona como uma verdadeira igreja, onde os fiéis se encontram e comungam seus sonhos. Tatuam o corpo com os símbolos do time; a criança nem acaba de nascer que a porta da encubadora já vem ornada com os símbolos do time, quer dizer, recebe já ai o batismo que jamais deve ser traído.

Considero razoável entender a fé como a formulou o grande filósofo e matemático cristão Blaise Pascal, como uma aposta: se aposta que Deus existe tem tudo a ganhar; se de fato não existe, não tem nada a perder. Então é melhor apostar de que exista. O torcedor vive de apostas (cuja expressão maior é a loteria esportiva) de que a sorte beneficiará o time ou de que algo, no último minuto do jogo, tudo pode virar e, por fim, ganhar por mais forte que for o adversário. Como na religião há pessoas referenciais, da mesma forma vale para os craques.

Na religião existe a doença do fanatismo, da intolerância e da violência contra outra expressão religiosa; o mesmo ocorre no futebol: grupos de um time agridem outros do time concorrente. Ônibus são apedrejados. E pode ocorrer verdadeiros crimes, de todos conhecidos, que torcidas organizadas e de fanáticos que podem ferir e até matar adversários de outro time concorrente.

Para muitos, o futebol virou uma cosmovisão, uma forma de entender o mundo e de dar sentido à vida. Alguns são sofredores quando seu time perde e eufóricos quando ganha .

Eu pessoalmente aprecio o futebol por uma simples razão: portador de quatro próteses nos joelhos e nos fêmures, jamais teria condições de fazer aquelas corridas e de levar aqueles trancos e quedas. Fazem o que jamais poderia fazer, sem cair aos pedaços. Há jogadores que são geniais artistas de criatividade e habilidade. Não sem razão, o maior filósofo do século XX, Martin Heidegger, não perdia um jogo importante, pois via, no futebol a concretização de sua filosofia: a contenda entre o Ser e o ente, se enfrentando, se negando, se compondo e constituindo o imprevisível jogo da vida, que todos jogamos.
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* Leonardo Boff - Teólogo. Escritor. Educador. Escreveu “Ecologia,mundialização e espiritualidade”,

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2014/06/28/o-futebol-como-religiao-secular-mundial/

" Das Prioridades "

PALAVRA DE MÉDICO |
J.J. CAMARGO



A base dos movimentos ecológicos é o entendimento de que não podemos aspirar a uma longevidade saudável e qualificada como entidades isoladas, desvinculadas do meio ambiente. Como esses avanços conceituais são muito recentes na história multimilenar da humanidade, ainda estamos meio desorientados, especialmente no quesito prioridades.

Essa imaturidade explica, pelo menos em parte, alguns comportamentos bizarros, às vezes francamente fundamentalistas quando se questiona a necessidade de subtrair uma minúscula parcela da natureza para que uma determinada coletividade tenha acesso ao indispensável progresso.
 
 E então emergem reações furiosas, inatingíveis por qualquer argumentação racional. Curiosamente, os tipos mais intransigentes são os menos apegados aos seus semelhantes, e reagem a eles como se fossem inimigos dissimulados, sempre à espreita da oportunidade de destruir a mãe natureza e dar vazão à sua índole predadora.

Uma sociedade sabe que amadureceu quando luta para manter o ar limpo e a água pura, quando cuida da flora para que ela se preserve e encante, da fauna tão variada e bela, mas também, e equanimemente, das PESSOAS, sempre tão frágeis e solitárias.

Minha amiga desceu do carro para um passeio na Praia do Cassino. Era um dia de sol, poucas nuvens, muito vento. Apesar do verão, a sensação ao sair da água era de frio.

Uma canoa abandonada na areia era uma espécie de refúgio para uma menina de uns 10 anos, malvestida, suja, mas muito bonita, com os cabelos presos no alto da cabeça num coque improvisado que lhe dava um ar de nobreza paradoxal. O corpo esquálido da pobreza percorreu de pés descalços uma longa extensão da praia em busca de alguma esmola ou algo que lhe espantasse a fome.

Enquanto fantasiava o dia em que a comida oferecesse múltipla escolha, seguia sua sina de pedinte. A maioria dos abordados nem lhe percebeu a beleza, por não ter interesse em contemplar o perfil sempre desconfortável da miséria. Diante de mais uma negativa na última barraca da praia, começou o desanimado caminho da volta. Antes, contemplou o mar imenso, um referencial digno do tamanho do seu abandono. Sentiu vontade de chorar.

Então, foi sacudida por um vozerio excitado que vinha da outra extremidade da praia. Correu para ver do que se tratava e, quando se aproximou, percebeu que o grande círculo humano rodeava um pinguim solitário que aportara por ali, sem convite nem ingresso antecipado. A notícia disseminou como um rastilho generoso e, dando provas do quanto podemos quando queremos, em pouco tempo acorreram a Vigilância Ambiental, os Bombeiros, a Brigada Militar, vários biólogos da universidade e o escambau.

Em 15 minutos começaram os boletins das rádios, TVs e jornais, com detalhados relatos do extraordinário evento, e juram que houve até quem lamentasse a falta do depoimento do homenageado. Recolhida no seu cantinho à margem do mundo, e resignada na sua falta de atrativos, a menina pobre assistiu, à distância, a festa que lhe roubara o pinguim. Nos seus olhinhos fundos de fome e opacos de desesperança, havia agora uma pontinha de inveja.

 

OS TIPOS MAIS INTRANSIGENTESS SÃO OS MENOS APEGADOS AOS SEUS SEMELHANTES, E REAGEM A ELES COMO SE FOSSEM INIMIGOS DISSIMULADOS

" 20 anos de Plano Real "

 

"Poderíamos ter sido mais ambiciosos nas reformas", diz Gustavo Franco

Ex-presidente do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real fala sobre o processo de formulação da moeda

28/06/2014 | 05h01
"Poderíamos ter sido mais ambiciosos nas reformas", diz Gustavo Franco Rio Bravo Investimentos/Divulgação
"A atual é uma inflação menor do que tivemos no passado, mas as defesas também estão mais baixas"  
        
Gustavo Franco era o economista mais jovem na equipe que formulou o Plano Real. Filho único de pai banqueiro, fez doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).
 
 Aos 37 anos, foi chamado para trabalhar no Ministério da Fazenda, sob o comando de Fernando Henrique Cardoso. Franco conta que o otimismo não era grande quando começaram a discutir o plano, mas assim que a Unidade Real de Valor (URV) ganhou as ruas, em março de 1994, teve certeza de que "daria certo".
 
Franco foi presidente do Banco Central de 1997 a 1999. Ao sair do governo, tornou-se sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, onde permanece até hoje.
 
Nesta entrevista, Franco fala sobre o processo de formulação da moeda, o que deveria ter sido feito de forma mais eficiente e sobre sua preocupação com a inflação atual, que beira os 6,5% ao ano, batendo no teto da meta.
 
 
Como foi o período de formulação do Plano Real?

A equipe juntava gente jovem, como eu, mas que havia estudado bastante o tema na academia, com outras pessoas de experiência em pacotes anteriores. Era preciso que houvesse uma janela de oportunidade e um estrategista político que soubesse explorar as janelas e apontar os caminhos, os momentos corretos de implementar as ideias e de que jeito. Esse foi o papel que coube a Fernando Henrique Cardoso.
 


Acreditava-se desde o princípio que iriam encontrar uma solução?
Nosso otimismo não era grande no momento que a coisa começou. Não que a gente não acreditasse em nossa capacidade, mas é que no passado outros planos inteligentes haviam sido feitos, ou pelo menos eram inteligentes até determinado momento, até que vem um elemento externo que muda a equação do plano, tem uma interferência política. Às vezes não basta, precisa conquistar a legitimidade.
 
Um dos planos foi o Cruzado, eficiente em reduzir a inflação em um primeiro momento. Havia a preocupação que isso acontecesse com o Real?
A gente aprendeu as lições de outros planos. Sabíamos exatamente o que deveria imitar e o que a gente deveria evitar. Dos anteriores, o Plano Cruzado era talvez o mais inovador, mas também foi o mais estragado por influências políticas externas, em particular o congelamento e os "fiscais do Sarney". A política fiscal do Plano Cruzado era tudo de ruim, tudo de errado. Então a construção inteligente acabou destruída por interferências. Na medida do possível, tentamos manter a integridade técnica do que estávamos fazendo e protegê-la de palpites e coisas que agradam aos políticos, mas que economicamente são desastrosas. Como controle de preços e políticas salariais generosas. Os políticos ficam com a sensação de que, no momento em que você vai combater a inflação, vai terminar com a miséria e fazer redenção econômica, e não é assim.
 
Qual foi o momento mais emblemático da formulação do Plano Real?
Quando a URV foi para as ruas, porque esse mecanismo foi uma surpresa total para a sociedade. Era uma fórmula de terminar com a inflação, era como um convite para as pessoas aderirem a uma nova maneira de fazer conta. Ou seja, parecia inofensivo, parecia inconsequente e vantajoso e todo mundo aderiu sem saber que, fazendo algo absolutamente consistente com seus próprios interesses, ia acabar fazendo funcionar o plano de estabilização. Essa era a "mágica" da URV e a maior inovação que o Real trouxe. Demorou quatro meses para transformar URV em real (a nova moeda), mas naquela primeira semana eu diria que a gente já tinha certeza de que iria funcionar.
 
Na primeira entrevista que o senhor concedeu sobre o Plano Real afirmou que iriam "entregar um cadáver a cada 24 horas". Conseguiram isso?
(Risos) Eu usei a expressão para designar a expectativa que se tinha de nós. Estávamos no começo de 1993 e havia uma expectativa curiosa, porque o Brasil estava traumatizado com pacotes e não queria nenhum pacotão que viesse mexer no bolso. Ao mesmo tempo, queriam que a gente tomasse providência com relação à inflação. Era uma expectativa meio estranha e parecia que queriam isso mesmo, que se consertasse tudo e que todo dia tinha de ter uma novidade. Não era assim. Fomos devagarzinho, trabalhando um dia de cada vez e aí passou um pouco menos de um ano até a URV ir para a rua, em março de 1994. Não foi todo o dia, mas depois de um ano a gente entregou (um cadáver).
 
Depois de 20 anos, algo poderia ter sido feito diferente?
Poderíamos ter sido mais ambiciosos nas reformas. Acho que perdemos uma enorme oportunidade com a revisão constitucional, que acabou praticamente não acontecendo. Depois deu muito trabalho para passar as emendas constitucionais, para alterar regras de previdência ou monopólio de petróleo. As reformas, no fundo, eram a parte fundamental do combate à inflação, que nunca tinham sido tratadas antes do Real. Tivemos muito cuidado.
 
Voltamos a conviver com a inflação perto do teto da meta. O índice de 6,5% ao ano preocupa?
Claro que é preocupante, porque o nosso passado deixou marcas no organismo econômico da nação. As pessoas reagem com muita velocidade à sensação de inflação e a torna um negócio vicioso, mais perigoso. A experiência de nossos vizinhos, Argentina e Venezuela, é ilustrativa do modo como se comportam algumas economias que têm tradição inflacionária: quando começam a provocar a "doença" ela vem de uma forma muito violenta. A atual é uma inflação muito mais baixa do que no passado, mas as defesas também estão muito mais baixas, então dói. Porque 6,5% representa 15% para alguns itens e 1% para outros.
 
 O Que seria preciso fazer ?
O descaminho principal ocorreu na política fiscal. É o que acaba destruindo a credibilidade da política monetária, que tem de trabalhar dobrado para compensar a coisa mal feita. Eu adoraria que o Banco Central não tivesse de subir o juro de novo. O ideal seria se a gente pudesse ter criado uma política fiscal consistente com juro baixo, isso seria o sonho. Mas não, nós fizemos a política fiscal ao contrário do que deveríamos fazer, expansionista, quase irresponsável. Com isso, o BC foi forçado a reverter a política monetária. A definição do nível de juro nunca é feita isoladamente da política fiscal, é o reflexo dela. Então a culpa do juro alto é da política fiscal.
 
E reduzir a taxa de juro (de agosto de 2011 a outubro de 2012, quando chegou ao mínimo de 7,5%) foi prematuro?
Não foi. O que houve foi que o BC tomou a iniciativa de reduzir o juro, acreditando que a política fiscal viria socorrê-lo, mas não veio. A cavalaria não apareceu para ajudar, aí o BC teve de recuar.
 
Em uma eventual vitória tucana, o senhor aceitaria um convite para voltar ao BC ou assumir a Fazenda?
Estou muito feliz onde estou, tem muita gente boa assessorando o candidato Aécio Neves. O Armínio (Fraga) é um nome excelente e (o cargo) estaria em boas mãos.

" A África nas COPAS "


Artigo Zero Hora

HUGO PINTO RIBEIRO
              Empresário
Na década de 90, parecia que, em pouco tempo, veríamos uma equipe africana ganhando a Copa. Uma visão darwiniana explicava o sucesso dos corredores quenianos pela lenda de que, desde crianças, fugiam de leões. Da mesma forma, a luta pela vida na África dotaria os vencedores de força, agilidade e habilidade, receita imbatível no futebol, se for acrescentada disciplina tática.

Treinadores europeus foram buscados e a bravos soldados de guerras tribais se somaram generais europeus experientes em estratégia militar. Nigéria e Camarões em Copas, Gana em Mundiais Sub-20 e o ouro olímpico da Nigéria em 96 apontavam para o sucesso.

O colonialismo loteou a África entre os países da Europa Ocidental e o compromisso era com o desenvolvimento. Mas, a exportação de cultura e educação, tão abundantes na Europa, não aconteceu na mesma proporção que riquezas naturais migraram para as matrizes.
 
A balança comercial foi injusta. Para escapar da cobrança da conta, os europeus mantiveram os cordões umbilicais após a independência das colônias com seus portos abertos à imigração. O sonho do argelino era desembarcar em Marselha e do congolês aterrissar em Bruxelas. A dependência foi mantida e o futebol europeu foi se enriquecendo com a chegada dos imigrantes, pois seus descendentes acrescentaram habilidade, por vezes ausente nos estádios. Será que a França seria campeã em 98 sem o filho de argelinos Zinedine Zidane?

O Álbum de Figurinhas da Fifa mostra que descendentes de africanos ocupam grande parte das fotos das seleções europeias. Já temos um grande time africano classificado para as oitavas, a França de Sakho, Evra, Sissoko, Matuidi, Pogba e Benzema, sob o comando de Didier Deschamps para confirmar a metáfora militar. Mas da África real só restam Nigéria e Argélia.

Então, por que a hipótese de um título africano não se concretizou? Recorrendo ao colonialismo, penso que o respeito e a submissão dos colonizados ainda são observados nas decisões.
 
 Se nesta Copa alguma equipe africana chegar até o final, seria uma bela exceção, pois a inversão da metáfora nos levaria de um futebol africano vencedor para uma África melhor.


" Um Plano Para a Educação "

Editorial Zero Hora

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O novo Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado nesta semana pela presidente Dilma Rousseff, é um conjunto de 20 metas e 254 estratégias destinado a superar desafios históricos do país. O mais importante não é a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, uma quantia astronômica até mesmo na relação com países mais desenvolvidos, mas, sim, a introdução de mecanismos sociais que permitirão aos contribuintes acompanhar e fiscalizar a correta aplicação desses recursos.
 
Para dar certo, uma iniciativa desta dimensão depende muito da vigilância dos cidadãos e da pressão constante sobre os governantes, para que os recursos não sejam mal direcionados.
 

Essa preocupação é importante, entre outras razões, para evitar que o PNE tenha um encaminhamento semelhante ao aprovado para vigorar entre 2001 e 2010. Do total de metas definidas, apenas 35% delas foram cumpridas.
 
O atual plano surge com um atraso de no mínimo quatro anos, tempo exigido para discussão com representantes da sociedade e para aprovação nas duas casas do Senado.
 
 
Um dos diferenciais é o reforço no volume de recursos, o que desafia o governo federal a gerenciar melhor o seu orçamento, mesmo com o aporte previsto pela exploração do pré-sal, e também administradores nas demais instâncias da federação, que precisam definir logo seus planejamentos regionais.

O maior mérito do programa sancionado agora é o de ampliar as oportunidades para brasileiros em idade de aprendizagem e priorizar a valorização dos professores. O país não tem mais como se conformar com níveis tão elevados de analfabetismo. E alfabetização não pode ser entendida apenas por saber ler e escrever, pois envolve habilidades mais amplas. Daí a importância da maior ênfase em todas as etapas da educação, a começar pela pré-escola, e da qualificação dos professores, para que possam responder ao desafio de proporções inéditas definido agora para os próximos anos.

Assim como em qualquer área de responsabilidade do poder público, educação precisa de dinheiro em volume suficiente, mas sobretudo de projetos realistas e controles eficientes sobre sua aplicação. Aspectos como esses devem ser preocupação permanente até o PNE alcançar seus objetivos.
 
 
" O Editorial ressalta a importância do Plano Nacional de Educação, mas alerta que sua eficácia vai depender de vigilância permanente sobre sua execução " !!!


" A solidão não faz bem "


Pe. J. Ramón F. de la Cigoña sj *
Pe. J. Ramón F. de la Cigoña sj
Vivemos numa época marcada por grandes mudanças de alcance global que impactam não só culturas e economias, mas também à família e à própria Igreja. Esta mudança em constante ebulição se define como pós-moderna, pós-cristã e até pós-humana. É uma crise colossal desprovida de valores e sentido. Dinheiro e prazer, diversão e ócio são os maiores anseios de muitos. A palavra “compromisso” se fez rara e deu lugar a outras formas de ser e conviver.
Conviver não é fácil, mas é o único modo de sentir o que somos
Num mundo tão diverso e egocêntrico não conseguimos conviver facilmente com os outros. O viver juntos, com o passar do tempo, virou desventura. Cansamos das coisas e das pessoas e buscamos, sem pudor, alternativas passageiras. O descartável começou a fazer parte da nossa vida! Tudo dura pouco. A busca do prazeroso deixou de lado valores tradicionais, valendo agora apenas o possível e o passageiro.

Pouco valor damos às palavras e aos gestos, e a verdade, faz tempo, sumiu dos relacionamentos de muitos. Mas, se tudo é relativo nada é importante e significativo. Contudo, o que fazemos têm consequências pessoais e sociais. Esta convivência humana plural e complicada invadiu de drogas e fármacos o nosso viver. O resultado é uma imensa solidão compartilhada nos relacionamentos virtuais.

Conviver não é fácil, mas é o único modo de sentir o que somos...
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* Sacerdote.
Fonte: http://www.arquidiocesebh.org.br/27/06/2014