domingo, 31 de agosto de 2014

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
‘Vai ser como massa de pão: quanto mais baterem, mais ela sobe’
Deputado Júlio Delgado (PSB-MG), otimista com os números de Marina nas pesquisas


APRESENTAR PRESO AO JUIZ EM 24H PREJUDICA O RÉU

O projeto de lei do Senado, que obriga a apresentação de presos em flagrante a um juiz, no prazo máximo de 24h, é no mínimo impraticável, por atentar contra o direito de defesa do réu, além do “incomensurável custo de deslocamento”, segundo entendimento de pelos menos duas entidades que representam os profissionais envolvidos no assunto: as associações de Magistrados do Brasil (AMB) e de Delegados (Adepol).

CHOVENDO NO MOLHADO

Relator, o senador Humberto Costa (PT-PE) nem percebe que o projeto é inócuo: prisões já são notificadas imediatamente ao juiz e à família.

IMPRATICÁVEL

Em julho, se essa lei existisse, só em São Paulo seriam necessárias mais de 350 audiências por dia com juízes, para apresentar presos.

PERNAS CURTAS

Entidades de juízes e delegados negam que a Convenção de Direitos Humanos determine apresentação ao juiz em 24h, como diz o projeto.

SÓ UM FACTOIDE

No Senado, o projeto é recebido com reservas pela estranha pressa da ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos), ansiosa por uma “bandeira”.

MARINA ‘BOMBA’ EM PESQUISAS E NAS REDES SOCIAIS

Nas pesquisas e nas redes sociais, os eleitores mal conseguem esconder o encantamento pela candidata do PSB a presidente, Marina Silva. Além da pesquisa Datafolha de sexta-feira, que aponta seu crescimento estonteante, ela lidera os números nas redes sociais. Sua página oficial no Facebook, de longe a mais acessada nos últimos dias, acumulou quase 700 mil “curtidas” desde a morte de Eduardo Campos.

ATÉ NO TWITTER

Marina (PSB) e Dilma (PT) são mencionadas no Twitter entre 30 e 60 vezes por hora. Já Aécio (PSDB) não passa de dez menções.

FENÔMENO

No Facebook, Marina rivaliza com grandes páginas da rede: acumulou 280 mil likes na última semana. A página oficial do Barcelona, 400 mil.

DECEPÇÃO

O ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa prometeu barbarizar no Twitter, mas até agora tem só 30 mil seguidores.

TRAIÇÕES A GALOPE

Perplexos com o crescimento da candidatura de Marina Silva, agora empatada em primeiro lugar nas pesquisas com Dilma Rousseff, petistas ilustres já começam a buscar “convergências” com ela.

DIFERENÇAS

Marina foi chamada de “Lula de saias” por José Dirceu, até porque sua trajetória é semelhante à do ex-presidente, mas só na origem humilde. Ela aprendeu a ler só aos 16 anos de idade, mas, além disso, e ao contrário de Lula, tomou gosto pelos estudos e pela leitura.

É BRASIL, MARINA

Quando lhe contaram, sexta-feira, que tinha 34% no Datafolha, empatando com Dilma, Marina Silva achou que os números se referiam somente a São Paulo. “É Brasil?”, exultou. Mal acreditava.

PROJETOS DE PRESIDENTE

O votenaweb.com.br, que avalia o trabalho de políticos, classifica Aécio (PSDB) como o de melhores projetos entre os presidenciáveis, 88% de aprovação. Dilma, 82%. Marina teve só dois projetos no Senado.

ESFORÇO DESCONCENTRADO

Apesar do número de sequestros-relâmpago disparar em todo o País, está parado na Câmara o projeto 6.726, que autoriza as operadoras a informar a localização de celulares às polícias, mediante requisição.

FAZ SENTIDO

O site da Secretaria Geral da Presidência foi infectado por um vírus. Ao ser acessado, o domínio www.secretariageral.gov.br é congelado, com o aviso: “invasores podem estar roubando suas informações”.

OBSTRUÇÃO À VISTA

Na pauta do “esforço concentrado” da primeira semana de setembro está prevista a votação, na Câmara dos Deputados, do projeto que anula a criação dos “conselhos populares”. O PT promete obstruir.

PROMESSA É DÍVIDA

De 2007 a 2013, o governo federal diz ter investido R$ 9 bilhões em creches, mas das 6.427 prometidas pela então candidata Dilma (PT), na campanha de 2010, ela só entregou cerca de 500.

PENSANDO BEM...

...em vez da frustração porque não lhe faziam perguntas, no debate da Band, Luciana Genro (PSOL) deveria se sentir frustrada por sua carência de votos.


PODER SEM PUDOR

CRUEL RECEPÇÃO


Duas dezenas de jornalistas aguardavam no aeroporto Santos Dumont, no Rio, a chegada de Ulysses Guimarães, candidato do PMDB à presidência da República, naquele ano de 1989. Mas, no desembarque, eles se depararam com outro candidato, Aureliano Chaves (PFL), que chegara antes. As chances dos dois eram mínimas, mas Ulysses sempre gerava boas notícias, ao contrário de Aureliano. Ninguém se mexeu e a saia já era demasiado justa quando o pefelista pediu:

- Sei que vocês esperam o Ulysses, mas podem perguntar que eu falo.

Como jornalista é bicho muito mal educado, ninguém perguntou nada e Aureliano foi embora, cabisbaixo e constrangido.

A derrota de Dilma - ELIANE CANTANHÊDE

BRASÍLIA
 
- Ganhe ou perca a reeleição, Dilma Rousseff não escapa mais de uma derrota no seu primeiro mandato: na economia. Não foi por falta de aviso. Até Lula alertou.


Enquanto Dilma usa a propaganda de TV, debates e entrevistas para falar de programas pontuais, como o Pronatec, que qualquer gerente faz, a economia brasileira continua dando uma notícia ruim atrás da outra.

O desafio da oposição não é bater na tecla de PIB, controle fiscal e contas externas (a maioria das pessoas nem sabe o que é isso), mas ensinar que não se trata só de números nem atinge só o "mercado" e a "elite".
 
 Afeta o desenvolvimento, a indústria, os investimentos, a competitividade e, portanto, a vida de todo mundo e o futuro do Brasil.

O super Guido Mantega, que sempre prevê PIBs estratosféricos e acaba se esborrachando com os resultados, conseguiu adicionar uma pitada de ridículo nas novas notícias ruins.
 
 Na quinta (28), ele disse que os adversários de Dilma levariam o país "à recessão".
 
 
Na sexta (29), o governo anunciou que o risco já chegou: o recuo da atividade econômica pelo segundo trimestre consecutivo caracteriza... "recessão técnica". Ou "herança maldita", segundo Aécio. Não há Pronatec que dê jeito...

Para piorar as coisas, vamos ao resultado fiscal anunciado na mesma sexta: o governo federal (Tesouro, BC e INSS) teve o maior rombo do mês de julho desde 1997. A presidente candidata anda gastando muito.

 

Passado o trauma da morte de Eduardo Campos e assimilada a chegada triunfal de Marina Silva, a economia retoma o centro do debate eleitoral. Não há uma crise, mas há má gestão.
 
Como Campos dizia, Dilma é "a primeira presidente a entregar o país pior do que encontrou".
Dilma e Mantega culpam o cenário internacional. Marina, rumo à vitória, e Aécio dizem que não é bem assim e apontam quem vai arranhar o joelho, cortar o cotovelo e talvez machucar a cabeça se a economia for ladeira abaixo. O eleitor, claro.


" O Gigante Adormeceu ,e recuou economicamente"

Recessão e outros problemas no palanque de Dilma -

EDITORIAL O GLOBO










A retração da economia no primeiro semestre se torna mais grave quando se constata que, no segundo trimestre, houve grande queda nos investimentos
Se fosse possível, os responsáveis pelas campanhas de Dilma e Aécio eliminariam do calendário a semana que passou. Não teriam a má notícia da lépida subida de Marina Silva na última pesquisa do Ibope, confirmada na noite de sexta pelo Datafolha. E a presidente e candidata à reeleição, em particular, escaparia do dissabor de manchar a biografia com a primeira recessão da economia brasileira desde o último trimestre de 2008. A queda de 0,6% do PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro — quando já houve uma retração de 0,2%, numa sequência que configura a recessão — consolida, por enquanto, a expectativa do mercado de que a economia não deve conseguir crescer sequer 1% este ano.

“Recessão” é termo forte, de fácil exploração política. Mas estão no palanque de Dilma vários outros problemas, nem todos de fácil entendimento, mas nem por isso menos espinhosos. A baixa confiabilidade do governo Dilma se expressa na queda de 5,3% dos investimentos, no trimestre, também calculada pelo IBGE. É nítida a postura de “esperar para ver” do empresariado neste ano eleitoral.

Há problemas semeados pelo próprio governo. Um deriva da decisão de Dilma/Mantega de manter valorizado o real, para segurar uma inflação renitente.
Para isso, o Banco Central executa as tais operações de “swaps”, pelas quais oferece dólares com compromisso de recompra futura. Não gasta o dólar físico das reservas — bastante altas, em mais de US$ 300 bilhões —, mas assume bilionários compromissos futuros. O saldo líquido dessas operações, no momento, seria de US$ 90 bilhões. Tudo isso faz a alegria de especuladores, que realizam a seguinte arbitragem, em explicação simplificada: financiam-se lá fora a juros muito baixos, pegam o dólar e o vendem no “spot”; com os reais, adquirem títulos no Brasil que rendem 11% ao ano. Fazem ainda “hedge” para garantir dólares a uma determinada cotação, num determinado prazo. E toda essa ciranda quase não tem risco porque o BC evita a desvalorização do real, com os “swaps”. Consta que muitos dos bilhões que entram hoje como “investimento externo direto” de multinacionais vêm, na verdade, participar desta ciranda. Eis porque, numa economia em recessão, bilhões de dólares chegam como se fossem investimento. E cuja taxa continua baixa, em relação ao PIB (14%).

Trata-se de uma manobra que não pode durar muito, até porque o Fed está prestes a anunciar que voltará a subir os juros nos EUA. Isso deflagrará mais uma onda de desvalorização de moedas, e o nosso BC não poderá enfrentar essa queda de braço cambial. Na verdade, os “swaps” são mais um puxadinho de política econômica. E com efeitos contraditórios: seguram artificialmente a inflação, junto com o congelamento de tarifas, mas desestimulam as exportações de manufaturados, já com dificuldade de competição por problemas de infraestrutura, burocracia, etc. Dilma e assessores devem torcer para chegar logo outubro

" Internet : o que temem os especialistas ? "


B. Piropo*

Na virada do século – ou do milênio, para soar mais grandiloquente – quando a Internet ainda era uma novidade para o público em geral (até 1994 ela estava apenas ao alcance de membros das instituições acadêmicas e militares), um velho amigo e colega de trabalho, Orlando Eulálio, me olhava de esguelha enquanto eu punha em dia o correio eletrônico. Suas previsões para o futuro da rede eram negras. Dizia ele que um meio de transferência de informações de tão amplo alcance, disponível para toda e qualquer pessoa e com acesso tão fácil e barato não poderia se manter livre assim por muito tempo. Que logo seriam impostas barreiras, condições, filtragem de conteúdo, censura ou simplesmente bloqueio da rede pelos diferentes governos. Era só esperar para ver.

Eu, por outro lado, argumentava que a estrutura da Internet foi concebida nos tempos da guerra fria justamente para evitar que as comunicações nos EUA fossem interrompidas em caso de ataque nuclear e depois, quando se espalhou pelo mundo, manteve esta característica de rede quase anárquica, com centenas de milhares de nós interligados de tal forma que os dados, que procuravam sempre a rota menos sobrecarregada entre a fonte e o destino, poderiam burlar qualquer tentativa de bloqueio simplesmente fluindo automaticamente por outra rota. Sendo o número de rotas praticamente infinito e não havendo um “centro de comando” ou coisa parecida, não seria possível estabelecer qualquer controle ou bloqueio sobre ela. E acrescentava que, caso um governo lograsse sucesso em suas tentativas, os especialistas em redes sempre conseguiriam contornar o problema restabelecendo inda que parcialmente a comunicação. Portanto, no máximo, aquilo viraria um interminável jogo de gato e rato.

Passaram-se quinze anos e quem inspecionar a situação atual da Internet chegará a uma conclusão um tanto paradoxal sobre nossas previsões: ambos estávamos certos. Há governos que conseguiram filtrar o conteúdo da rede dentro de suas fronteiras, como previu Orlando. Por outro lado, como se viu na recente primavera árabe, a Internet ainda pode ser uma ferramenta essencial para que informações sobre o que ocorre em alguns países corram o mundo à revelia de seus governos ditatoriais, como eu antevi.

Porém o temor dos especialistas é que, nos próximos onze anos, as previsões dele se mostrem mas verazes que as minhas.
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Figura 1
Pelo menos isso é o que se pode concluir dos resultados da prospecção sobre o futuro da Internet conduzida este ano em conjunto pelo Pew Research Center e pela Universidade de Elon. Os autores classificam o trabalho como “prospecção” (“canvassing”) e não “pesquisa” (“survey”) porque o universo de onde foi colhida a amostra não foi constituído por um conjunto aleatório de internautas, como o exigido por um projeto de pesquisa, mas por um grupo seleto de convidados que pertencem a um conjunto de especialistas notoriamente conhecidos por sua atuação na área tecnológica e por terem contribuído com previsões mais acertadas nas pesquisas anteriores sobre o futuro da Internet conduzidas pelas mesmas instituições . Ainda assim a amostra não foi pequena: mais de 1.400 especialistas atenderam ao convite e forneceram suas respostas e opiniões (quem estiver interessado no critério usado para a seleção e em uma lista parcial de participantes pode encontrar mais informações aqui).

Um (alentado) resumo do projeto e de seus resultados pode ser encontrado no artigo de Janna Anderson e Lee Rainie “Net Threats” publicado mês passado no sítio do Pew Research Center. É apenas um resumo, mas levando-se em conta que o trabalho analisou minuciosamente as respostas de mais de 1400 especialistas, não dá para publicar aqui sequer um resumo do resumo. Mas tentarei expor pelo menos a forma pela qual a prospecção foi realizada e as principais conclusões a que chegaram os responsáveis pelo projeto.

Cada participante devia responder apenas a duas perguntas. A primeira, a ser respondida apenas com um “sim” ou “não”, em tradução livre era a seguinte:

Em 2025 haverá significativas mudanças para pior e maiores obstáculos nos meios usados para obter e compartilhar conteúdo “online” em comparação com as formas usadas hoje peias pessoas globalmente conectadas?

… e a segunda, mais curtinha porém diabolicamente mais complicada, foi:

Por favor, elabore sua resposta.

… seguida de uma longa lista de tópicos que deveriam ser analisados para justificar a resposta à primeira pergunta, incluindo “no seu entender, quais são as mais sérias ameaças ao acesso e compartilhamento de conteúdo via Internet”.

Bem, no caso da primeira pergunta, que admitiu como resposta somente uma entre as duas alternativas, fica mais fácil resumir o resultado que, aparentemente foi positivo: apenas 35% responderam “sim” contra otimistas 65% que responderam “não”. O problema é que – justificando o “aparentemente” da frase anterior – alguns dos que responderam “não”, na justificativa de sua resposta informaram que se tratava mais de uma “esperança” do que de uma previsão, e muitos declararam que gostariam que houvesse uma terceira opção: “sim ou não”.

Conforme mencionado acima, não dá nem mesmo para resumir o resumo das opiniões de mais de mil autoridades mundiais em assuntos da Internet. Mas dá para transcrever e comentar os quatro tópicos que mais chamaram a atenção dos organizadores do trabalho não apenas pelo número de especialistas que os mencionaram como também pelas justificativas por eles oferecida. Estes tópicos estão listados na primeira página do artigo de Anderson e Rainie sob o título: “As ameaças à Internet temidas pelos especialistas”. Aqui vão elas, em ordem de importância:

1 – Ações implementadas por estados ou países por questões de segurança e controle político redundarão em mais bloqueios, filtragem, segmentação e “balcanização” (ver adiante) da Internet;

2 – O fato de tomarem conhecimento de que governos e grandes corporações bisbilhotam o conteúdo que flui pela internet e a real possibilidade de que o nível de bisbilhotice aumente ao longo do tempo pode deitar a perder a confiança dos cidadãos na Internet;

3 – Fortes pressões comerciais sobre praticamente tudo, desde a arquitetura da rede até o fluxo de informações, porão em risco a estrutura aberta da vida “online”; e, finalmente:

4 – Os esforços para resolver o problema do excesso de informações (TMI ou “Too Much Information”) pode resultar em um efeito perverso que, em vez de proteger o internauta da enxurrada de informações, prejudique o compartilhamento de conteúdo.
Alguns comentários deste vosso amigo e humilde escrevinhador:

Começando pelo significado do termo “balcanização”, relativamente comum nos EUA porém raro no Brasil (sim, o vocábulo existe em português). Trata-se de uma alusão à mutável geografia política da península balcânica, originalmente parte do Império Otomano e que, a partir do início do século dezenove, começou a se fragmentar em diversos países, alguns hostis e pouco colaborativos com seus vizinhos. A fragmentação recrudesceu no final do século passado ao ponto da região conter hoje mais de quinze países independentes (vale a pena consultar o tópico correspondente na Wikipedia apenas para apreciar a animação que mostra as fragmentações, fusões e novas fragmentações da região). No contexto da pesquisa, ao se referirem à “balcanização” da Internet, os especialistas expressam o temor de que, devido à cada vez maior interferência dos governos, a Internet se fragmente em redes menores, cada uma delas submetidas a regras e regulamentos diferentes conforme políticas locais.
Já a possível – e provável – desconfiança dos cidadãos que tomaram conhecimento das estripulias de alguns governos, notadamente o dos EUA, espionando tudo o que fluía pela rede, dispensa maiores comentários.

Por outro lado, o receio das pressões comerciais tem a ver com a crescente monetização (detesto este termo, mas ele existe em português, está dicionarizado, portanto não há impedimento para que eu o use, embora a contragosto) das atividades na rede, que está afetando cada vez mais o fluxo de informações e conteúdo. Um dos principais temores é que a ganância venha a interferir com o princípio da neutralidade da rede (se você não sabe o que é isto, sugiro uma consulta à coluna sobre o assunto, por mim publicada aqui mesmo em abril passado, posto que a interpretação literal da expressão nada tem a ver com seu significado técnico). Além disto, receiam ainda que as rígidas restrições sobre direitos autorais e patentes, devidas a uma visão de curto prazo que privilegia o lucro, acabem resultando em prejuízos para o compartilhamento de informações que podem ser de grande valor futuro. Quanto à seriedade da questão dos direitos de propriedade intelectual, basta lembrar a celeuma despertada pela inclusão na coleção de imagens públicas da Fundação Wikimedia da foto que um macaco tirou de si mesmo sob a alegação de que, como foi o animal que tirou a foto, o dono da câmara (o fotógrafo profissional David Slater) não detém direitos sobre ela. A questão gerou uma ação judicial e, aproveitando enquanto ela está disponível na coleção da Wikimedia, aqui vai a foto do trêfego primata com seu sorriso arrebatador, cujo nome não foi divulgado provavelmente em respeito à sua privacidade.
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Figura 2

Mesmo sem levar em conta suas habilidades como fotógrafo, percebe-se que o simpaticíssimo animal tem uma indiscutível vocação artística, pois não?

Finalmente, as preocupações relativas ao último tópico têm a ver com o uso cada vez mais frequente de filtros de conteúdo que visam poupar o internauta da enxurrada de informações que a Internet despeja sobre ele. O temor é que de tanto filtrar, se acabe limitando demais o espectro de informações que o usuário venha a receber, resultando em um efeito mais prejudicial do que benéfico, principalmente levando em conta que muitos dos provedores destes filtros recebem “incentivos econômicos” de empresas interessadas em que a informação seja apresentada desta ou daquela forma.
Pois é isso. Como esta coluna está se tornando demasiadamente longa, sugiro que os interessados nos detalhes consultem o artigo citado acima. Na verdade, mais do que sugiro: recomendo, e com veemência.

Porém, para não encerrá-la de forma tão abrupta, vou fazê-lo citando um trecho da resposta de Robert Cannon, especialista em direito e políticas da Internet com larga experiência no assunto. Diz ele:
Nós já vimos a repetição do mesmo padrão… logo após a implementação dos primeiros serviços de telégrafo, telefone e rádio. O início é a era utópica da inauguração dos serviços, saudando a tecnologia com clamores de paz mundial. Depois, vem a era da competição, com o surgimento de diversas empresas pequenas que tiram proveito do novo mercado e da inovação. E por fim vem a era da consolidação, na qual os vencedores da era da competição se movimentam para garantir suas posições no mercado e eliminar a concorrência”.

E Cannon encerra seu comentário com:

Nos serviços de informação, acabamos de entrar na era da consolidação”.
O que pode ser muito bom para algumas empresas. Mas, definitivamente, não é bom para os usuários.
Quanto a mim, apesar de ninguém ter me perguntado, tomo a liberdade de, metendo o nariz onde não fui chamado, dar minha opinião. A julgar pelo que vem acontecendo nestes vinte anos em que venho acompanhando de perto o que acontece na Internet, que cada vez fica menos lúdica, não sei o que acontecerá em 2015 no que toca à intervenção do Estado, à falta de confiança, à tal “monetização” ou ao excesso de informação.

Mas desconfio que ficará bem mais “sem graça” do que é hoje.
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* B. Piropo é engenheiro por profissão, professor por prazer e colunista de informática por paixão. Escreve sobre computadores desde 1991. Publica colunas nos jornais Estado de Minas e Correio Brasiliense, no sítio ForumPCs e mantém o Sítio do Piropo em www.bpiropo.com.br.
Fonte: http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2014/08/internet-o-que-temem-os-especialistas.html

" Bernardo Nosso De Cada Dia "

Artigo ZH



FLÁVIO TAVARES
Jornalista e escritor
A cada dia surgem detalhes da imundície que gerou a tragédia do menino Bernardo. Atos ou ameaças diferentes têm, sempre, um elemento constante _ a simulação. Em Três Passos, pai e madrasta simulavam desvelo ou zelo. Quando o castigavam, puniam “por amor”. De resto, “não sabiam de nada” e tudo nascia da tosca rebeldia infantil…
A simulação, porém, não se limita aos crimes aberrantes. Está em muitos lugares e é gritante nestes tempos pré-eleitorais. Continuamos em busca de quem nos diga a verdade, não simule o que não sabe fazer nem invente milagres que não pode realizar. Estamos cansados que simulem honestidade, competência e visão profunda da sociedade. A mentira continuada (de vencedores e vencidos) embaralha o raciocínio e, naturalmente, a emoção passa a nos comandar.
Assim, sob a emoção da tragédia que matou Eduardo Campos, sua substituta como candidato presidencial subiu com estrondo nas intenções de voto. As pesquisas não são confiáveis em si (às vezes, buscam só induzir o eleitor), mas indicam uma tendência que tem a ver, também, com a voz mansa de Marina Silva e sua aparência de que não simula nem mente.
Mas, a queda do avião do candidato morto acabou por revelar um escândalo. Ou fraude: o PSB ocultou a doação (ou empréstimo) do avião, aparentemente feita por um empresário em troca de favores futuros. Agora, indagada sobre a fraude, Marina diz que “nada sabia” do avião em que ela própria fez várias viagens…
***
Todos simulam tudo e ninguém assume a propriedade do avião. Aquele “eu não sabia, fui enganado”, que o então presidente Lula da Silva introduziu no pensamento político, frutificou.
Quando estourou a farra do “mensalão” em 2005, Marina era ministro de Lula, unida a ele não só pelo sobrenome comum mas como obediente membro do PT. Ao desobedecê-lo, saiu do governo. Entrou no PV, disputou a presidência e obteve 20% dos votos, oriundos não só dos incondicionais fiéis das igrejas evangélicas-pentecostais (das quais foi “candidata preferencial”) mas, também, dos que confiaram na sua promessa de renovação dos métodos políticos, pondo fim à mentira e à simulação.
Ela encarnaria “a mudança”, com a ética substituindo o subterfúgio. Na entrevista ao Jornal Nacional da TV, porém, ela tergiversou e se disse alheia ao escândalo do avião, como se não houvesse usufruído dele. Respondeu no mesmo tom evasivo de Dilma, candidata do PT-PMDB, e de Aécio, do PSDB, quando indagados sobre algo polêmico.
Agora, ninguém é proprietário do avião. O escândalo dos que aparentavam estar livres de escândalo só apareceu pela tragédia. Simula-se tanto e com tanta proficiência que, talvez, apelem a Santos Dumont. Afinal, ele é o responsável por tudo o que voa e não é pássaro…
***
Cometem o crime e ocultam tudo, como se nada ocorresse. E, assim, tomamos a noite como dia sem perceber a escuridão. Foi assim no nauseabundo drama de Bernardo. A diferença é que, em Três Passos, a simulação foi obra de diletantes, de “amadores” perversos que deixaram rastros da perversão. Em contraposição, no simulacro em que transformaram a política atual, a mentira perversa é obra de “profissionais” que vivem da fantasia e da invencionice. Ou diretamente da mentira.
Em ambos casos, a mentira (aquele “eu não sabia de nada”) serve ao mesmo propósito _ obter vantagens para o deleite pessoal. Ou alguém tem dúvidas de que isto é a visão dominante no quadro político-partidário atual?
Dirão que exijo demais e que, no caso de Marina, foi “apenas uma mentirinha” em coisa ínfima, um avião. Mas, tudo nasce pequeno, cresce na multiplicação dos dias e os sintomas viram regra de conduta.
Oxalá a tragédia de Bernardo não vire indesejável pão nosso de cada dia em tudo.

sábado, 30 de agosto de 2014

" Pânico na Elite Veermelha "

GUILHERME FIUZA

O GLOBO - 30/08

Armínio Fraga foi o comandante da etapa de consolidação do Plano Real — a última coisa séria feita no Brasil



Pela primeira vez em 12 anos, os companheiros avistam a possibilidade real de ter que largar o osso.
 
 Nem a obra-prima do mensalão às vésperas da eleição de 2006 chegara a ameaçar a hegemonia dos coitados sobre a elite branca.
 
A um mês da votação, surgem as pesquisas indicando que o PT não é mais o favorito a continuar encastelado no Planalto. Desespero total.

Pode-se imaginar o movimento fervilhante nas centrais de dossiês aloprados. Há de surgir na Wikipédia o passado tenebroso dos adversários de Dilma Rousseff. Logo descobriremos que foram eles que sumiram com Amarildo, que depenaram a Petrobras, que treinaram a seleção contra os alemães. É questão de vida ou morte: como se sabe, a elite vermelha terá sérias dificuldades de sobrevivência se tiver que trabalhar. Vão “fazer o diabo”, como disse a presidente, para ganhar a eleição e não perder a gerência da boca.

O Brasil acaba de assistir à queda de um avião sobre o castelo eleitoral do PT. Questionada sobre as investigações acerca da situação legal da aeronave que caiu, Dilma respondeu que não está “acompanhando isso”, e que o assunto não é do seu “profundo interesse”. Altamente coerente. Se a presidente e seu padrinho não “acompanharam” as tragédias no governo popular — mensalão, Rosemary e grande elenco — não haveria por que terem “profundo interesse” numa tragédia que veio de fora. Eles sempre fingiram que estava tudo bem e o povo acreditou, não há por que acusar o golpe agora. Avião? Que avião?

Melhor continuar arremessando gaivotas de papel, para distrair o público. Até o ministro decorativo da Fazenda foi chamado para atirar a sua. Guido Mantega, como Dilma e toda a tropa, é militante de Lula.
 
 O filho do Brasil ordena, eles disparam. Mantega já chegou a apresentar um gráfico amestrado relacionando o PAC com o PIB — um estelionato intelectual que o Brasil, como sempre, engoliu.
 
 Agora o homem forte (?) da economia companheira entra na campanha para dizer que Armínio Fraga desrespeitou as metas de inflação. Uma gaivota pornográfica.

Para encurtar a conversa, bastaria dizer que Armínio Fraga foi um dos homens que construíram aquilo que Mantega e seu bando há anos tentam destruir. Inclusive a meta de inflação. Armínio foi o comandante da etapa de consolidação do Plano Real — última coisa séria feita no Brasil — enfrentando o efeito devastador da crise da Rússia, que teria reduzido a economia nacional a pó se ela estivesse nas mãos de um desses bravateiros com estrelinha. Mantega e padrinhos associados devem a Armínio Fraga e aos realizadores do Plano Real a vida mansa que levaram nos últimos 12 anos. E deve ser mesmo angustiante desconfiar pela primeira vez que essa moleza vai acabar.




Se debate eleitoral tivesse alguma ligação com a realidade, bastaria convidar os companheiros a citar uma medida de sua autoria que tenha ajudado a estruturar a economia brasileira. Uma única. Mas não adianta, porque, como o eleitorado viaja na maionese, basta aos petistas dizer — como passaram a última década dizendo — que eles livraram o Brasil da inflação de Fernando Henrique. A própria Dilma foi eleita em 2010 com esse humor negro, e jamais caiu no ridículo por isso. Com a fraude devidamente avalizada pelo distinto público, Guido Mantega pode se comparar a Armínio Fraga e entrar em casa sem ter que esconder o rosto.

Em meio às propostas ornamentais, aliás, Armínio é o dado concreto da corrida presidencial até aqui. Nada de poesia, de “nova política”, de arautos da “mudança” — conceito tão específico quanto “felicidade”, que enche os olhos da Primavera Burra e dos depredadores do bem. Armínio não é terceira, quarta ou quinta via, nem a mediatriz mágica entre o passado e o futuro. É um economista testado e aprovado no front governamental, que não ficará no Ministério da Fazenda transformando panfleto em gaivota.


O PSDB, como os outros partidos, adora vender contos de fadas. Mas seu candidato, Aécio Neves, resolveu anunciar previamente o seu principal ministro. Eis a sutil diferença entre o compromisso e a conversa fiada.

Marina Silva também é uma boa notícia. Só o fato de ser uma pessoa íntegra já oferece um contraponto valioso à picaretagem travestida de bondade. Nunca é tarde para o feminismo curar a ressaca dos últimos quatro anos. O que seria um governo Marina, porém, nem ela sabe. Se cumprir a promessa de Eduardo Campos e empurrar o PMDB S.A. para a oposição, que grande partido comporia a sua sustentação política? Olhe em volta e constate, com arrepios, a hipótese mais provável: ele mesmo, o PT — prontinho para a mudança, com frete e tudo.

Marina vem do PT e está no PSB, cujo ideário é de arrepiar o maior sonho cubano de José Dirceu. E tentar governar acima dos partidos foi o que Collor fez. Que forças, afinal, afiançariam as virtudes de Marina?

A elite vermelha está pronta para se esverdear.

" O Mac Macio, O Jazz Leve e o Rap Duro "

 David Coimbra



Bateu-me uma saudade trepidante do sabor da comida brasileira, então peguei o B pela mão, tomamos um trem e fomos ao McDonald’s mais próximo.

Ah, a textura macia daquele Big Mac fez com que me sentisse de novo na pátria amada idolatrada salve salve. Sim, porque comer McDonald’s, só no Brasil. Aqui, você não vai acreditar, mas é verdade, aqui é difícil de encontrar um. Por Deus. Você tem de se programar: vou lá num McDonald’s. E, como não sou muito de sanduíche e menos ainda de lanchonetes, jamais vou a um McDonald’s.

Nos Estados Unidos, imagine.

Nunca pensei.

O que tem, quase que em cada esquina, é Dunkin’ Donuts, que é empresa daqui, do nordeste americano, e seu furioso concorrente, o Starbucks. Li esses dias que o Dunkin’ Donuts está tentando abrir filiais na Califórnia, onde reina absoluto o Starbucks. Quer dizer: vão brigar no país inteiro. Na Nova Inglaterra, já é raro caminhar duas ou três quadras sem pechar num Dunkin’ Donuts, tendo em frente um Starbucks a desafiá-lo. De manhã cedo, você pode ver uma fila de americanos no Dunkin’. Eles pegam um donuts, um copo gigante de café e saem caminhando e comendo.

O B está viciado em Donuts. Preocupante.

Mas comemos os nossos muito mais saudáveis e brasileiríssimos Macs e tocamos até o centro de Boston. Eu queria ir a uma igreja do século 17, a Old South Church, porque lá há um exemplar do primeiro livro impresso nos Estados Unidos, um livro de salmos que os puritanos traduziram diretamente do hebraico e publicaram em Cambridge em 1640. Cambridge é uma das localidades da Grande Boston. É onde fica a maior parte do campus da Harvard e, igualmente importante, onde há bons restaurantes portugueses, que os prefiro às lanchonetes.

A Old South Church foi plantada bem no coração pulsante de Boston. Entrei na igreja e, antes de perguntar pelo livro, fui atraído por algo que acontecia numa capela: um culto com jazz. Era um grupo de jazz com todos os instrumentos, piano, bateria e tudo mais, e cantores que enchiam a capela com sua voz. Eu e o B paramos para ver. Um sujeito nos apontou gentilmente para duas cadeiras vazias, mas preferimos permanecer de pé, ouvindo. E foi encantador. Por pouco não me torno membro da congregação.

Saímos da igreja enlevados, flutuando, até esqueci do livro. Então, percebi que, do outro lado da avenida, na praça, havia um show.

– Vamos lá, B?

Fomos. Atravessamos a rua. Em volta da praça, barraquinhas vendiam comida, havia inclusive uma do Dunkin’ Donuts, o que não me surpreendeu. No centro, na grama, as pessoas se espalhavam, muito descontraídas, as mulheres com shorts mínimos, algumas deitadas em toalhas, outras de pé, ondulando ao ritmo da música. Lá na frente, diante de um palco, um grande grupo pulava de braços erguidos. Sobre o palco, uma banda tocava rap. Levei o B pela mão até o meio da praça. Ficamos observando. Olhei para ele:

– Que tal, B?

Ele fez uma cara de quem engoliu o dente de leite e suspirou:

– É a pior música que já ouvi na minha vida.

Pisquei. Pensei por um momento. E tirei-o de lá, procurando por um bar que tocasse blues. Nada como o bom blues para comover crianças na primeira infância.

A LIBERDADE DOS GANSOS

Chegamos, eu e o B, a um parque cheio de gansos. Ou seriam patos? Não sou bom em aves. Invejo aquelas pessoas que, ao ouvir um piado, esticam a orelha e dizem:

– Que lindo o canto do curió...

Os passarinhos que consigo identificar são o pardal, o quero-quero, o tucano e o canarinho – fui dono de alguns canarinhos de lindo repertório. O papagaio também sei quem é, embora ele seja muito parecido com as araras várias. Minha avó criou galinha, peru e eu mesmo tive um galo, o Alfredo, de trágico fim. Mas confesso, cheio de vergonha, que confundo patos e gansos. Não deveria. Os gansos têm sua importância na história da Humanidade, os que moravam no Capitólio já salvaram Roma dos bárbaros. E os patos estão na minha memória afetiva: o Tio Patinhas, o Donald, o Peninha, o Patacôncio...

Então, deveria saber bem quem é um e quem é outro, e não sei. De qualquer forma, o que interessa é que aquele parque é habitado por dezenas de gansos (ou patos), que andam livres por lá. Dezenas! Ficam caminhando pela grama, soltos, podendo a todo instante cruzar a avenida movimentada. Perguntei a um americano quem cuida deles. O americano achou graça na minha pergunta. Eles cuidam de si próprios, respondeu.

Não sabia que gansos podiam usufruir de tanta independência, assim, no meio da urbe fremente, sem colocar em risco sua integridade física ou atacar transeuntes a bicadas. Estou mais acostumado a vê-los a certa distância, nadando nos laguinhos plácidos, como os de Gramado.

Ou aqueles lá são cisnes? Maldita ignorância aviária.

" Álgebra e Fogo "


Luis Fernando Veríssimo*
Na recente comemoração do centenário de nascimento do Julio Cortázar, escreveu-se muito sobre metalinguagem, que ele usou em alguns dos seus textos mais conhecidos, como O Jogo da Amarelinha, que eram para ser lidos como jogos de armar. Cortázar seria um pioneiro do pós-modernismo, definido como uma literatura autoconsciente ao extremo, uma literatura com os andaimes à mostra, que convida o leitor a ser cúmplice dos seus artifícios. Italo Calvino descreveu o pós-modernismo como “a tendência de usar, ironicamente, imagens padronizadas da cultura de massa, ou injetar o fascínio herdado da tradição literária numa narrativa que acentua o seu artificialismo”. Segundo essa definição, o pós-moderno é a continuação do moderno como paródia, jogo ou desmistificação.

Mas você pode, com alguma boa vontade, identificar o início do pós-moderno no pré-moderno, ou no próprio nascimento da tradição literária de que fala Calvino: o Dom Quixote, de Cervantes, que já era na sua origem, no começo do século 17, uma literatura autoconsciente e parodística. A segunda parte de Dom Quixote acontece num mundo em que já aconteceu a primeira parte, e o Quixote e suas aventuras malucas são conhecidas. Cervantes incorpora sua fantasia e seu personagem fictício à realidade do dia, confiando na indulgência do leitor com o truque – e pode dizer, antes de todos os pós-modernistas que virão: “Primeirão!”.

O livro mais revolucionário da história da Literatura, o Jogo da Amarelinha do seu tempo, se chama A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, do irlandês Laurence Sterne. Foi publicado em nove volumes – começando em 1760! É a história, contada na primeira pessoa, de um personagem rocambolesco, Tristram, que recorre a todas as convenções literárias da época, fazendo pouco delas, para narrar sua vida, e quando as convenções e as palavras não bastam, recorre a grafismos (como o desenho no meio do texto de uma linha em espiral para descrever o movimento de uma bengala no ar) que devem ter sido um desafio para os tipógrafos de então. Sterne foi outro pós-moderno antes do moderno.

O americano John Barth, este um pós-moderno de hoje, escreveu sobre dois pós-modernos contemporâneos que admira, Calvino e Jorge Luis Borges, e tomou emprestada de Borges uma definição de dois valores que, combinados, descrevem a arte da dupla, Álgebra e Fogo. Álgebra significando a engenhosidade formal de uma obra, o truque que surpreende ou desafia o leitor, e fogo o que o comove. Álgebra sem fogo acaba em malabarismo técnico sem alma, fogo sem álgebra acaba em literatura enjoativa, porque alma demais também enjoa. Para Barth, Calvino e Borges são os dois grandes escritores do nosso tempo porque, na sua ficção, atingiram como ninguém mais a fusão de álgebra e fogo. Barth descreve o que eles fazem – ou fizeram, pois já se foram – como “virtuosismo passional”. Perfeito.
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* Jornalista. Escritor.
Fonte: ZH online, 30/08/2014

" Nossas outras faces "

 

Gustavo Gitti*

7bilhoesdeoutros
Você e eu em outros corpos, mentes e vidas… Fotos da exposição “7 bilhões de Outros”
As pessoas que encontramos são lembretes de nossas
próprias confusões e obstáculos, qualidades
e potencialidades
A internet nos faz conviver com pessoas de outros países, culturas, tempos… A cada alteridade, podemos ampliar nosso círculo de identificação humana ou nos fechar ainda mais. Um exemplo recente foi a reação ao vídeo de uma festa da classe média alta de SP durante o jogo do Brasil. Quem tirou sarro talvez buscasse por risos para se afirmar como diferente: “Não somos estúpidos como eles, né?” Quanto mais desconfio de que sou um pouco assim, mais zombo.

Ora, como sempre afirma o Dalai Lama, nós somos iguais — mentalmente, emocionalmente, fisicamente. Se um amigo querido falasse besteiras por aí ou se nossa irmã agredisse alguém, buscaríamos entender o que nos levaria a tal situação, em vez de se envergonhar ou desprezar. Lembro de Terêncio (poeta romano do século II a.C.): “Nada do que é humano me é estranho.”

Uma pessoa tagarela e autocentrada é um lembrete: às vezes somos assim. Uma pessoa generosa e serena também nos lembra do que podemos ser. Todos os seres, lugares, objetos e situações que encontramos expressam qualidades, obstáculos, possibilidades sempre disponíveis para nós. Competimos, nos irritamos, ofendemos, culpamos, tememos ou nos apegamos às outras faces da vida na medida em que não as vemos como outras faces de nós mesmos.

Um ritmo só me perturba quando ele parece vir de fora. Assim que o reconheço como algo que também sou, posso tocar junto, dançar, brincar, direcionar, me apropriar, agir em vez de reagir, o que imediatamente remove seu poder de me atrapalhar. Quando a realidade vem como o mar derrubando nossos castelos de areia, sofremos porque nos sentimos separados do fluxo da vida, nos identificando mais com a construção do que com a água. Mas somos também o caos, a incoerência, a impermanência, a morte. Somos aquilo que constrói e somos aquilo que derruba.

Sobre as ações humanas, Espinosa escreveu na Ética: “Não rir, não lastimar nem detestar, mas entender.” Se investigo como o ciúme opera em minha mente, em vez de me abalar com uma pessoa ciumenta, posso ajudá-la. Ao cultivar uma intimidade diária com nosso mundo interno, nos tornamos cada vez mais íntimos de todos os seres. Não mais nos sentimos atacados ou traídos pela vida.

Pelo contrário, nos tornamos cúmplices de cada ação dessa imensa família, sem exclusão. Responsabilidade universal é isso: se há pessoas que se agridem, não importa onde, isso é problema meu, eu participo do tecido social que gera a violência. De algum modo, se alguém matou, eu matei também. Somos inseparáveis.
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* Coordenador do lugar, professor de TaKeTiNa, tutor no CEBB SP, colunista da revista Vida Simple
* Publicado originalmente na coluna “Quarta pessoa” (revista Vida Simples de agosto 2014)
Fonte: http://olugar.org/nossas-outras-faces/

" Ouvir sem pré julgar "

J.J. Camargo: "Médicos devem ouvir sem pré-julgamento o que os pacientes pensam "

 

J.J. Camargo: "Médicos devem ouvir sem pré-julgamento o que os pacientes pensam   " Edu Oliveira/Arte ZH
Foto: Edu Oliveira / Arte ZH
Um grande e permanente ponto de conflito na relação médico-paciente é a distância entre aquilo que o médico faz como rotina e o que é percebido pelo paciente como um momento emocionalmente inesquecível e marcante.
 
 Se considerarmos que a maioria das pessoas tem uma vida muito pobre de emoções, entenderemos por que uma doença qualquer poderá ser arquivada como memorável por quem foi personagem daquela história, mesmo que, aos olhos do médico experiente, tenha parecido uma banalidade.
 
Por isso, no jogo de sedução e conquista que caracteriza essa interface com o paciente, é tão importante que os médicos, sem pré-julgamentos, ouçam o que os pacientes pensam do que está acontecendo e não cometam a tolice de subestimar o sentimento de quem, com graus variados de percepção ou fantasia, está se sentindo ameaçado e vulnerável.
 
Como o rompimento afetivo resultante da desconsideração é irreparável, todo o profissional que tenha interesse em ser reconhecido como "O" médico de algum paciente deve se preparar para o primeiro encontro.
Ou, no mínimo, se questionar se ele está pronto para corresponder à expectativa de quem, com frequência, aguardou aquele momento por semanas ou meses.
Quando a Maria Cândida entrou, não consegui pensar em outra coisa. Tudo nela revelava esmero e capricho, a começar pelo cabelo preso em um coque assimétrico para acomodar um chapeuzinho de pano cinza, lateralizado para a direita.
 
A pequena bolsa de crochê girava nas mãos nervosas quando lhe perguntei no que podia lhe ajudar.
Houve um silêncio, e cheguei a suspeitar que fosse surda quando, então, ela abriu um envelope pardo e dele retirou quase uma dúzia de cartelas. Toda a sua história recente, tudo o que lhe interessava contar, estava ali, cartela após cartela.
 
Há seis anos sofrera um derrame e, por conta disso, um coma prolongado, durante o qual esteve por quatro semanas em ventilação mecânica com uma traqueostomia implantada depois de 12 dias.
 
Como sequela do ocorrido, não conseguia falar, apesar da recuperação neurológica quase completa. Um estreitamento da traqueia impedia que o ar passasse para cima e respirava por uma cânula no pescoço, escondida pelo cachecol. Nos últimos anos, se comunicava por aquelas cartelas, onde escrevia com grande rapidez, favorecida por ser ambidestra.
Tendo chegado a minha vez de explicar o que faríamos, ela foi ficando progressivamente mais animada, e o entusiasmo crescente funcionou como um blush no súbito colorido das bochechas.
 
Sentou-se na borda da cadeira para absorver melhor os comentários otimistas sobre a tomografia e a minha expectativa de que voltasse a falar imediatamente depois que a zona estreitada da traqueia fosse removida e restabelecida a passagem normal do ar para a laringe.
 
Como nem tudo estava previsto, no auge da animação, ela pediu um tempo, apanhou uma cartela em branco e, exultante, improvisou: "Gostei muito das suas mãos!".
 
Ao terminar a consulta, e tendo combinado a internação para a cirurgia a seguir, ela ainda conservava duas cartelas, apertadas contra o peito.
 
Quando quis saber o que continham, ela espiou uma e selecionou a outra e plena de doçura me alcançou uma caligrafia perfeita: "Eu quero me tratar com o senhor".
Como provocação, disse que só aceitaria operá-la se ela mostrasse o que continha a última cartela, que ela já se apressava em devolver ao envelope pardo.
Pressionada, ela entregou, meio encabulada. As legendas eram maiores do que das outras cartelas e o texto revelador dos maus tratos de atendimentos prévios: "Você devia cuidar melhor das pessoas".
Sem dúvida, estávamos diante de uma mulher prevenida.
 
" todos deveriam tratar-se melhor "

" A Geração Y e a Nova Evangelização "


Tornou-se corriqueira a nomenclatura que define características das últimas gerações. Os que nasceram no pós-guerra até 1960 são os baby boomers, geração que se opôs às regras do establishment. Geração dos hippies, dos yuppies, do paz e amor que deu início à revolução sexual.

Os nascidos entre 61 e 80 formam a geração X. São filhos de mães que trabalham fora de casa, pais ausentes ou divorciados. São mais influenciados pelos valores da TV, da escola e dos amigos do que os dos pais e desejam ser mais bem sucedidos na vida que eles. É a primeira geração a tomar contato com a mentalidade trazida pela tecnologia, no Brasil ainda restrita a ambiente de trabalho e estudo, com seus enormes e complicados computadores.

Em seguida, vem a geração Y, ou millenials. Nascidos entre 1981 e 2000, é hoje o principal público de quem deseja evangelizar os jovens. É a geração sob o influxo das indescritivelmente rápidas mudanças tecnológicas. Geração dos PCs, dos Laptops, dos celulares, dos i-phones, dos games e, sobretudo, das redes sociais, facebook, instagram e congêneres. É a geração cuja adolescência e juventude estão imersas no frenético, individualista, relativista e amoral mundo contemporâneo.

Como são os millenials? De que forma foram atingidos pelo boom tecnológico que nos cerca por todos os lados? De que forma a modernidade os atingiu? Como podemos colaborar para a graça de Deus alcançá-los? Como ajudá-los a acolher o amor de Deus? Perguntas com respostas complexas demais para este artigo, porém às quais não podemos nos furtar.
Recentemente recebi cópia de um denso artigo da revista Times intitulado Millenials. O autor diz ter levado mais de um ano em pesquisas e cita opiniões abalizadas de professores, psicólogos, sociólogos e educadores. O resultado foram quatro páginas de realismo contundente e utilíssimo para compreender o jovem-alvo de nossa evangelização e sua forma de relacionar-se com Deus, com o outro e com o mundo.

De acordo com o artigo e outras fontes, os Millenials, ou geração Y seriam:

A geração eu, eu, eu – enquanto os baby boomers teriam inaugurado a geração eu, os millenials teriam exponenciado essa centralização em si em, pelo menos, três vezes, segundo pesquisa.

Personalidade narcisística – ser ia três vezes mais recorrente que nas gerações anteriores. Os pais baby boomers tinham a preocupação de favorecer a autoestima positiva de seus filhos tendo em vista o que consideravam felicidade e sucesso. O resultado foi a criação involuntária de gerações cada vez mais narcisistas.

Onipotência – os millenials têm confiança exagerada em si mesmos, sentem-se onipotentes, o que os faz necessitarem cada vez menos dos adultos, mudarem de emprego simplesmente porque “estão a fim” e se arriscarem a viver indiferentes ao senso comum e regras sociais.

Adolescência tardia – os millenials tendem a ficar na casa dos pais durante mais tempo, não porque precisem deles, mas por pura acomodação, comodismo e ausência de planos de longo prazo. Com relação a autoridades como professores, são capazes de negar-se a dar respostas ou fazer exercícios porque são “muito chatos” e com isso encerram a questão.

Obsessão pela fama – “A geração Y está se inflando como balões no facebook”,afirma W. Keith Campbell, professor de psicologia na Universidade de Georgia, autor de vários livros sobre o tema, inclusive “Quando se ama alguém que só ama a si mesmo”. Os millenials têm nos móveis e paredes de seus quartos e mídias sociais avassaladora quantidade de fotos e informações sobre si mesmos. Falar sobre si mesmos é seu principal assunto. Apressam-se a postar qualquer coisa que os faça curtidos, encaminhados, compartilhados, enfim, famosos. O apreço pela fama instantânea leva-os a expor-se sem ponderações, através de fotos e vídeos bizarros, sexy, que mostre seu talento ou que, de certa forma, chame atenção.

A tecnologia pode levar, sim, o anúncio em linguagem palatável para o millenial
A evangelização, entretanto, exige o olho no olho, o testemunho de vida, a intercessão e o martírio
Adictos da tecnologia – manter a fama ou alçar-se a ela só é possível porque os millenials tornaram-se viciados em tecnologia. Estima-se que um millenial envie em média 80 mensagens de celular por dia, inclusive das salas de aula.

Como tendem a não respeitar as autoridades (que veem como pessoas pagas para servi-los) não obedecem quando lhe pedem para desligar ou não utilizar o celular, o i-pad, o tablet ou o i-phone.

Pouco comprometidos – tudo o que está acima mais uma forte tendência ao materialismo, que os faz ignorar a existência de Deus ou acreditar quando lhe convém ou quando está “a fim”, tem como uma das consequências o pouco comprometimento com valores ou pessoas que não sejam eles mesmos e a tela com a qual “se comunicam” ou que lhes serve para a fama. Compromisso fixo semanal ou mensal não é com eles. Compromissos mais sérios como casamento, emprego fixo ou de longo prazo, compromisso com os pais e sua hierarquia de valores, com a fé e instituições tendem a desaparecer do mundo artificial e centrado em si dos millenials.

Ao pesquisar para escrever este artigo, considerei os analistas da geração y por demais críticos e centrados no que tem de negativo. Há, certamente, muitos que nasceram entre 1980 e 2000 e, por alguma razão, não têm as características descritas pelos estudiosos. Dentre outros, são aqueles que tiveram uma experiência com o Ressuscitado, os que não têm acesso irrestrito à internet ou aqueles cujos pais conseguiram formar na fé desde crianças.

A questão de base, porém, continua. Como alcançar e evangelizar essa geração entre 13 e 33 anos? Que linguagem e abordagem utilizar com quem tem tal personalidade narcisista e tamanha indiferença pelo outro? Como atingir quem tem nas mãos o controle sobre o que acessa e pode desligar com uma tecla o anúncio midiático de Jesus?

Todo homem foi criado por Deus e para Ele. A tecnologia pode levar, sim, o anúncio em linguagem palatável para o millenial. A evangelização, entretanto, exige o olho no olho, o testemunho de vida, a intercessão e o martírio. Como transpor o fosso entre a tela e os olhos, entre as teclas e as mãos, entre os caracteres e a voz, entre a solidão e a amizade?

É tarefa para a Nova Evangelização, sem dúvida. Diria mais: tarefa para a Nova Evangelização do Papa Francisco. O papa, na verdade, não se cansa de explicar que o Evangelho que transforma é o do olho no olho, da amizade, da relação, do amor. Tudo isso falta aos millenials típicos e, certamente, os conquistará para o Senhor.
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Texto de Maria Emmir Nogueira
Formadora da Comunidade Católica Shalon

PARA LER MAIS


Millennials – A geração que está mudando o Mundo

Você é daquelas pessoas que estão no mundo fazendo a diferença? Revolucionando os hábitos? Buscando a felicidade em tudo o que fazem? Amam o trabalho? Utilizam a tecnologia como meio de atingir a plenitude? Põe o coração em tudo o que faz? Então você é um Millennials.

Longe da geração Woodstock, que por sua importância iniciou um movimento que mudaria radicalmente o mundo na década de 60 e nos anos futuros. Revoluções no comportamento, transformações no cenário político-econômico, avanços tecnológicos nas comunicações, permitiram a que novas gerações pudessem avançar e evoluir. Esta nova geração, que inicia o terceiro milênio, tem suas próprias ideologias, filhos e netos da geração Woodstock, logo compreenderam que deveriam criar suas próprias revoluções, adaptando-se a um mundo em constante mudança.

A expressão Millennials foi utilizada por Niel Howe e William Struass, no livro Millennial Rising. A geração Millennials, também conhecida pela geração Y, nascidos entre 1980 e 2000, e se desenvolveram combatendo os maus hábitos da geração Woodstock, onde grande parte dos comportamentos era de revolta, de busca pela liberdade de expressão, de comportamentos, buscando identidades próprias.

Esta geração logo descobriu que INFORMAÇÃO e OPORTUNIDADE são palavras de ordem, que modificam, revolucionam, oportunizam a todos ao desejoso lugar ao sol, a que todos ansiamos. As organizações que possuem como clientes esta faixa etária precisam entender e compreender como vivem o que aspiram, como veem o mundo das organizações, como se inserem neles e como elas podem tirar proveito disso para aumentar e potencializar suas vendas.
ESTA GERAÇÃO É...

1. Mais saudável, mais esportiva, esta geração luta para abandonar certos vícios como tabagismo, mas, no entanto ainda lutam freneticamente contra o álcool, cujos índices são muito altos nesta faixa de idade. São adeptos ao ar puro, viajam mais, gostam de passeios a países que possuem estruturas para caminhadas, escaladas, hotéis fazenda, gostam de animais de estimação, respeitam o verde, organizam o lixo, são contra qualquer tipo de matança a animais, defendem o meio ambiente, levantam bandeiras da sustentabilidade planetária, se preocupam com a qualidade do ar, discutem melhorias alternativas ao combustível fóssil e passam a maior parte do tempo participando de movimentos pela qualidade de vida, através das redes sociais.

2. Mais estudiosa, compenetrada, são “nerds” e estão buscando os estudos como meta de melhorar a vida e não somente seu status profissional de busca de melhores salários. Estão mais preocupados em conhecer, saber, do que se capacitar, habilitar. É uma geração de atitudes fortes, marcantes, individuais e ao mesmo tempo de movimentos grupais que os identifiquem. Facilmente levantam bandeiras contra o sistema que os reprime, que os rebelem principalmente sistemas comprometidos com o uso indiscriminado das potencialidades planetárias e que se escassa rapidamente.

3. Mais vaidosa, cuidam do corpo, da saúde, da beleza produzida em academias de ginástica, se vestem melhor e são mais diversificados, ligam mais para marcas do que as gerações anteriores, mas procuram vestimentas que os identifiquem com movimentos e grupos pelas quais participam. Cuidam do corpo a ponto de buscarem mais e mais cuidados médicos, clínicos e cirúrgico-estéticos. Traduzem uma geração que buscam melhorar a aparência, a beleza, mas sem perder a essência de seus conteúdos, dos pensamentos, das ideias, das inteligências de seu tempo.

4. Mais trabalhadora, não vestem camisa das empresas, se desfazem facilmente de seus empregos em busca do que realmente gostam de fazer. Buscam colocar o coração no tipo de trabalho que gostariam de desenvolver e enquanto não encontram, buscam freneticamente descobrir porque estão neste mundo e qual o seu propósito.

5. Mais consumista, logo trocam a vestimenta, a tecnologia, e o comportamento por outro mais a frente. Segurar esta clientela por um tempo maior é o desafio das grandes organizações hoje em dia. Estão ávidas em consumir, mas são muito livres para que permaneça muito tempo com um vestiário, um celular, um carro, um lugar.

6. Mais comunicativa e presente nas redes sociais, estão formando grandes grupos mundiais, atravessando fronteiras, idiomas. Estes movimentos gigantescos lhes dão forças de opinião, e podem alterar as correntes atuais da comunicação. Os jornais e revistas e TV não são mais os únicos veículos de comunicação que fazem a cabeça dessa geração. Eles possuem voz e vez e a utilizam através da Internet. A cada ano triplica o número de Blogs e sites pessoais, expondo as ideias, as intimidades, as vontades e a maneira de viver desta geração.

7. Mais globalizado procuram entender o que se passa no mundo todo, através dos veículos de comunicação, das redes sociais, dos movimentos mundiais instantâneos. Não possuem barreiras geográficas, diferenças etárias, socioeconômicas. Aglutinam-se facilmente ao redor de grandes projetos, mudanças sociais, soluções urbanas, políticas, econômicas. São mais interessados em serem autores das grandes revoluções e modificações que o planeta precisa do que receptores. Perceberam há muito tempo que possuem o poder da comunicação e por nada abrirão mão desses para se expressarem.

8. Mais família, estão estatisticamente vivendo mais tempo com os pais, deixando para morar sozinhos ou casarem na faixa dos 30 anos. Como os conflitos são menores conseguem estabelecer comunicações com os pais e até modificar velhos preceitos, preconceitos, e costumes da geração Woodstock.

A geração Millennial quer aumentar mais a faixa da juventude e entrar na faixa adulta mais tarde, desta maneira é comum se apegarem por muito mais tempo a moda jovem, aos costumes jovens, a tecnologia jovem. As empresas que produzem para esta faixa de idade devem explorar o máximo esta faixa etária, dando-lhes uma infinidade de produtos e serviços para que possam usufruir por mais tempo. Segundo pesquisas americanas, 61% dos jovens não querem ser adultos, querem permanecer jovens por mais tempo.

Todos podem realizar seus sonhos, ter seu minuto de fama, produzir seus próprios mercados, elaborar suas fantasias através da Internet. A produção de vídeo pessoal estabelece todos os meses recordes de inclusões no Youtube. Buscar um lugar ao sol pelas próprias influências é prerrogativa dessa geração. Estabelecer suas fronteiras, escolher seus grupos, atuar em bandos. Buscar a colaboração e a cooperação como modo de se superarem, conhecerem e se informarem. Estão mais comprometidos com a participação e realização do que propriamente com o sucesso. Embora a maioria almeje bons empregos, estão mais preocupados em realizar do que produzir. Não se apegam a empresas, nem vestem camisas, estão preocupados em participar de projetos que os façam compreender e evoluir em seus anseios.

Buscam organizações que lhes deem flexibilidade de horários, liberdades para exprimirem suas ideias, comportamentos, vestuários. Trabalham por metas, objetivos, responsabilidades e são avessos a horários, bater pontos. Assumem que querem trabalhar mais do que oito horas por dia, mas do jeito deles, com suas velocidades, tecnologias de comunicação e informação e de resultados.

A geração Millennials não busca os estudos porque os pais assim o querem, mas porque compreendem que o mundo mágico da informação e da compreensão começa ali. Trocam com muita frequência de faculdade, até encontrarem uma que lhes faça sentido, mesmo que os ganhos não lhe sejam aparentes. Estão preocupados em ser, embora o dinheiro nem sempre lhes permita isso. São menos inseguros quanto a escolher uma profissão porque sabem que podem mudar a todo o momento. São mais empreendedores, se atiram mais fortemente de cabeça em seus ideais e apostam num futuro promissor, por confiar em seus instintos. Não é só o sucesso que os motiva, mas o caminho que os levam para o sucesso. Por isso, as escolhas são sempre acompanhadas de muita intensidade, flexibilidade e autenticidade.

O que você está fazendo agora neste momento? Será que você está feliz com o que você faz e no que você se transformou? Você se preocupa em ter espaços compartilhados, estilos de vida, flexibilidades em horários? O que você fez hoje que possa alterar seus projetos, melhorá-los, potencializá-los? Você está se permitindo colaborar com os outros, aprender, ao invés de achar que já sabe tudo?

Você está fazendo o que ama? Está vivendo plenamente o que desejou em algum momento na sua estrada? Você imagina que pode mudar tudo isso e buscar outro caminho, ainda possível para ser feliz consigo mesmo?

Esta nova geração está nos ensinando que podemos mudar a todo o momento. Que temos a tecnologia, as condições ideais, a informação. Só falta um empurrão no abismo das oportunidades.

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TEXTO por : Cláudio de Musacchio
Doutor em Informática na Educação - PGIE Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Educação pela Universidade Luterana do Brasil, pós-graduado em Engenharia de Software pela Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro e presidente do PORTAL EAD BRASIL e membro da SOCIEDADE BRASILEIRA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, coordenador do grupo de estudos INTELIGÊNCIA COMPETITIVA, ministrando palestras e dando consultorias nas abordagens e ferramentas gerenciais: gestão de inovação, comunidades de prática, gestão estratégica da informação, aprendizagem organizacional, gestão de capital intelectual, inteligência competitiva, gestão de competências e ferramentas de TI.
Fonte: http://www.arquidiocesebh.org.br/site/opiniao_e_noticias.php?id_opiniao_e_noticias=8840